Tales Faria
Eu sempre quis dar a um artigo o título acima. Lembra um filme brasileiro que assisti na adolescência. Chamava-se Como era gostoso o meu francês. Um bom filme. Não chegava a ser excelente. Eu gostava mesmo era do titulo. Esse negócio de comer um francês, povo que tanto gosta de comida. E a indiazinha canibal era muito apetitosa, a Ana Maria Magalhães…
Enfim, eu gostava do título e sempre quis usá-lo num artigo. Agora que o PMDB vai para o governo e ameaça fazê-lo de maneira unificada, surgiu a oportunidade: nada como um apetitoso projeto de poder para unificar um partido.
Chega a ser difícil de acreditar que o PMDB, o velho PMDB de guerra, a eterna confederação rachada de partidos regionais, enfim está se unindo. Passou rachado todo o primeiro mandato de Lula, com as viúvas do tucano Fernando Henrique Cardoso de um lado e os neo-petistas-sarneyzistas de outro.
Assim como esteve dividido também durante o governo do tucano Fernando Henrique: Jader Barbalho, Geddel Vieira Lima e Renan Calheiros no governo; Itamar Franco, Orestes Quércia, Paes de Andrade e Pedro Simon na oposição. Coisa assim de convenções com o partido literalmente dividido ao meio.
Antes ainda, na gestão Fernando Collor de Mello, o jeito foi o PMDB declarar-se “independente”, tal a profusão de correntes e opiniões no partido em relação ao governo. Mas, puxando da memória, dá para encontrar momentos em que o PMDB conseguiu se unir.
Por exemplo, quando Tancredo Neves, que havia deixado o partido para formar o PP, voltou à legenda fazendo acordo com Ulysses Guimarães: se as diretas fossem aprovadas pela Câmara, Ulysses seria o candidato a presidente da República; se as diretas não passassem, Tancredo concorreria no colégio eleitoral.
Partido unido, o PMDB comandou os rumos da história do país. As diretas não passaram, mas o movimento foi tão forte que a ditadura e Paulo Maluf não conseguiram derrotar Tancredo no colégio eleitoral, em janeiro de 1985. E o Brasil voltou à democracia.
Outro momento: governo Itamar Franco. O clima pós-impeachment de Fernando Collor era de união nacional. Todos em pânico, cuidando para que a frágil e infante democracia brasileira não se perdesse. O petista Lula chegou a indicar o tucano José Serra para ministro da Fazenda.
O PMDB não tinha como rachar naquele momento. Era a encarnação da expectativa de poder, com Ibsen Pinheiro cotado para presidente da República. Mesmo com Ibsen e o partido afundando no escândalo dos anões do orçamento, o então ministro peemedebista da Previdência, Antônio Brito, chegou a liderar as pesquisas para presidente da República.
Agora, novamente pinta a chance de unidade no PMDB. Haverá dissidentes? Certamente. Aliás, só existem dissidentes onde há hegemonia. Onde as forças estão divididas, não há dissidências, há rachas profundos. Pois é, agora pinta a chance de unificação do PMDB. Por quê?
Porque políticos gostam de poder como os franceses gostam de culinária e a indiazinha do filme lá de cima gostava de carne de francês.
Tancredo e Ulysses uniram-se pela expectativa de poder. Sabiam que, juntos, tinham como derrubar a ditadura militar. Com Itamar, o partido novamente uniu-se porque tudo indicava que uma legenda forte faria o sucessor do fracassado presidente-sem-partido que foi Fernando Collor (o PRN era uma piada, não era um partido). E seria mesmo, não tivesse aparecido o Plano Real.
Enfim, nada como a expectativa de poder para fazer os políticos se unirem. Lula saiu forte das urnas, mas seu partido, o PT, não tem mais estrelas. Nenhum nome com densidade de presidenciável. Já o PMDB, mal uniu-se a Lula e tem pelo menos dois nomes a postos para 2010: o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, candidato a presidente da legenda, e o governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
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