Germano Rigotto*
O protecionismo costuma surgir em meio a crises financeiras como um mecanismo de defesa quase instintivo. E é até certo ponto compreensível que as nações queiram resguardar setores produtivos internos em momentos de turbulências e incertezas. Afinal, é nesse cenário que costumam florescer práticas desleais e ações de cunho meramente predatório.
Mesmo assim, adotar o protecionismo como algo usual na gestão macroeconômica de um país tende a ser um remédio com grandes riscos a médio e longo prazos. Levado ao extremo, essa medida prejudica sobremaneira a competição, o livre comércio e, por fim, o próprio consumidor. Quebra pilares importantes da economia de mercado e potencializa características negativas de um ciclo recessivo.
A tendência de desemprego tende a dar margem ao uso equivocado desse antídoto. Segundo relatório divulgado pela Organização Mundial do Comércio, a situação no mercado de trabalho deve continuar a piorar neste ano e em 2011. Com a manutenção das altas taxas de desocupação ao redor do mundo, se intensificará, por consequência, a retração no comércio internacional.
O volume de exportações, aliás, já acumula uma trajetória de queda acentuada. Os resultados do ano passado na comparação com 2008 são desoladores: tombo de 10% no comércio global, com picos de 30% em valor no pior momento da crise. A retração foi mais forte nos países desenvolvidos, cujas negociações caíram 12%. Nas nações em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a contração chegou a 6%.
A resposta mais sensata para o problema do desemprego, contudo, não é erguer barreiras e restringir exportações e importações. Muito antes pelo contrário: o caminho eficaz é gerar mais negócios e fazer a roda da economia girar. Negócios justos, regrados, leais e comprometidos com as normas de organismos internacionais. Mas, ainda assim, negócios, comércio e movimento econômico.
A propósito: uma boa oportunidade para assegurar a diminuição do protecionismo é a conclusão da Rodada Doha, que começou em 2001 e estava prevista para acabar em 2006. As negociações devem voltar a ocorrer em março deste ano. Eis uma ocasião perfeita para consolidar parcerias comerciais no âmbito mundial e sair da crise da maneira mais sólida possível: com desenvolvimento, geração de renda e integração salutar entre economias.
Ex-governador do Rio Grande do Sul e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (www.germanorigotto.com.br)
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