Maria do Rosário Nunes*
O povo grego disse não ao modelo de ajuste proposto pelo mercado e preferiu desafiar a crise, impondo limites para o impacto dos cortes financeiros das políticas de Estado na vida das pessoas. Com certeza o governo vai enfrentar uma parada dura de pressão da Sra Merkel, do FMI e dos conservadores internos, mesmo que derrotados no plebiscito. Mas Tsipras conta com algo que coloca limites nas pretensões de todos estes: apoio popular para seguir seu rumo.
A situação lembra uma frase simples e direta do Presidente Lula, que ouvi em diferentes situações, uma recomendação de como agir diante das questões mais difíceis e nos momentos de dúvidas. “Siga com o povo”.
Nunca me pareceu que, nessa afirmação de Lula, povo fosse igual a maioria ou minoria. Ao contrário, a ideia representa muito mais um: “Siga com sua gente, observe os motivos que o conduziram até aqui, e não esmoreça. Temos um projeto para este país e ele desagrada, obviamente, a setores poderosos”.
A consulta grega renova esse sentido, pois seria fácil para boa parte da Europa agir contra o governo da Grécia, mas não é tão fácil enfrentar o seu povo e um resultado democrático, considerando que ainda terão que responder às pressões dos próprios trabalhadores em cada país, também críticos aos ajustes.
No mesmo dia em que o povo grego apoiou seu governo e enfrentou a banca, Aécio Neves assumiu por mais um período a liderança tucana, sustentando o fim do governo Dilma. A afirmação seria parte oca de mais um discurso vazio do ex-candidato, que nunca apresentou seu programa e continua carecendo de um projeto para o país, se não fosse parte de um cerco articulado contra o governo.
No Brasil, se a crise em curso possui múltiplas dimensões, o denominador comum para que o governo e os setores populares possam vencê-la está na recomendação de Lula e na atitude de Tsipras.
Em períodos difíceis, é recomendável seguir o rumo e manter a base social. A estabilidade necessária ao país só pode ser reconquistada com medidas que articulem a ampliação de apoio daqueles que elegeram o governo com iniciativas institucionais. É um erro pensar que dentro das instituições não conte a força popular do governo. É só o que conta.
*Maria do Rosário Nunes é deputada federal pelo PT do Rio Grande do Sul e ex-ministra de Direitos Humanos.
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