Esta semana tivemos a oportunidade de visitar a exposição “Jango: Nossa Breve História”, no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. Para além da exposição sobre o ex-presidente brasileiro que, por sinal, está muito bem montada e ilustrada o que gostaríamos de comentar aqui é a importância crescente dos canais de relacionamento do poder público com a sociedade.
Como é de praxe em todo o mundo, quando exposições exibem conteúdo multimídia mais longos, são colocados assentos para conforto dos visitantes, principalmente os mais idosos. Infelizmente, não era esse o caso no Arquivo Nacional e, por isso, entramos em contato com a Ouvidoria da instituição. Não só fomos prontamente respondidos, como também tivemos a solicitação atendida pela Ouvidoria. Ou seja, funcionou. Simples assim.
Isso nos levou a uma reflexão fundamental: “uma ouvidoria só pode “ouvir, se alguém falar com ela”. Ou pelo menos “ser incentivado a falar com ela”.
O mesmo princípio pode ser aplicado à luta da cidadania hoje, que é a de incentivar os cidadãos a monitorar governos, fiscalizar mandatos políticos e cobrar a devida execução dos orçamentos públicos. E quem melhor do que a mídia para conscientizar um grande número de pessoas sobre essa questão básica de responsabilidade cívica e política: incentivar os cidadãos à proatividade com relação aos órgãos e instituições públicas.
Não é tarefa fácil. Quando se fala de política, temos uma verdadeira avalanche de matérias que mostram o lado negativo: o dos malfeitos, da impunidade e do pouco caso para com o bem público pelos próprios detentores do poder público. Isso acaba por desmobilizar os cidadãos, e fazer valer o sentimento de que “o que está aí é uma fatalidade”, ou mesmo “que isso faz parte da nossa cultura”.
Pois cabe à própria mídia rever a sua responsabilidade. Em vários campos do jornalismo, ela atua de forma exemplar. Uma matéria sobre a prevenção contra a dengue, por exemplo, depois de mostrar cenas de criatório de mosquitos em águas paradas, cobra a iniciativa do cidadão comum entrevistado. Se a matéria é sobre direção perigosa no trânsito, temos cenas de colisões fatais, mas também é apontada a responsabilidade dos motoristas em evitar tragédias. Sobre as altas temperaturas do verão, logo são exibidas as iniciativas de proteção da pele e a importância da hidratação adequada do corpo. Se falamos de prevenção da violência urbana, divulga-se o número do disque-denúncia local para a devida cooperação com a polícia. Na matéria sobre o uso racional de recursos naturais escassos como água e energia, são montadas verdadeiras campanhas de sustentabilidade e uso responsável dos mesmos. Até mesmo o sucesso significativo da visitação às exposições de arte dos museus públicos se deve às coberturas persistentes da mídia. E por aí vai.
Existe um clássico princípio do jornalismo que diz: “a noticia não é o cachorro que mordeu o homem, mas o homem que mordeu o cachorro”. Ora, se o comum é o fato de nossos políticos e governantes estarem a roubar o dinheiro público, e não os cidadãos exercendo o dever político de fiscalizá-los, infelizmente o jornalismo político não está cumprindo a sua mais nobre missão de noticiar o incomum. E com isso desmobiliza a cidadania política. É preciso cobrir melhor as iniciativas de responsabilidade política dos cidadãos e organizações da sociedade, como exemplo e incentivo para que um número cada vez maior de cidadãos se mobilize. Esse é o verdadeiro papel social da mídia.
Quanto à exposição sobre o ex-presidente Jango, no Arquivo Nacional, lembramos que ela está em cartaz só até o dia 31 de janeiro. Vale conferir.
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