Desde 2008 o mundo acompanha e sofre com a mais profunda crise do capitalismo, seus valores e perspectivas, os sonhos que embala e também frustra, os projetos que alimenta e destrói. Em um século passamos por duas grandes guerras mundiais e um sem número de conflitos armados, alguns de natureza libertária – como nas ex-colônias africanas e em alguns países da América Latina –, outros por motivações econômicas, energéticas, religiosas. Paralelo a isso, o capital sempre se manteve ativo, inovador, articulado, dominando governos, territórios e regimes políticos. Em muitas situações se confunde com as inovações tecnológicas e lança produtos tão sofisticados quanto descartáveis. Em outras, rompe a fronteira da legalidade alimentando, e se alimentando, do dinheiro sujo do tráfico, da corrupção, da sonegação e do crime organizado.
Muito disso reside nos paraísos fiscais, nações especializadas em conceder vantagens às empresas, onde muitas pessoas jurídicas de fachada, talvez a maioria, movimentam bilhões de dólares mundo afora, travestidos da condição de “investidores”. São capitais que se movem na velocidade da luz, corporações gigantescas cujas economias são maiores que o PIB de várias nações industrializadas, atores ávidos por mais negócios, menos barreiras tributárias e políticas, capazes de financiar golpes de estado e insurreições contra governos legitimamente e legalmente constituídos, como em 1964, no Brasil, e em 1973 no Chile.
Para seus defensores trata-se de separar a economia da política. Quanto mais sequestram a economia da análise, construção e condução pelos mecanismos democráticos, mais fácil se dá a acumulação de riquezas. Reagem enfurecidos quando o povo rechaça nas urnas, como recentemente na Grécia, fórmulas ditas austeras e responsáveis de condução dos assuntos fiscais, orçamentários e econômicos. Pagam regiamente bandos de analistas que, qual salteadores mundo afora, se especializam em interpretar países, suas economias e a condução de suas políticas, às quais dão notas, classificando-as segundo o risco de terem contrariados os seus interesses.
Por isso, a política é cada vez mais necessária, apesar do abandono progressivo da maioria dos partidos, mundo afora, das teses e do debate profundo sobre os rumos da sociedade. O que importa para muitos deles é construir alianças eleitorais e econômicas viáveis, não lhes faltando quem queira financiar as campanhas com astronômicos valores. Vendem a alma ao diabo, forjando governos e mandatos de fachada, subservientes, covardes, midiáticos, limitados. Ainda assim a política é necessária e, cada vez mais, tem que ser libertária, nadando contra as correntezas da unanimidade, da conveniência, da esperteza e da inércia. Ação na, com e pela pólis, pelo bem-estar e a felicidade dos seres humanos, para os quais, de fato, não são necessárias gigantescas fortunas, bens e patrimônios que só se consolidam para pouquíssimos com a exclusão e privação da imensa maioria da humanidade.
Crianças fora das salas de aula, baixa escolaridade, fome em escala mundial, famílias sem água encanada, doenças negligenciadas, bilhões de seres humanos sem renda, habitação e empregos dignos. Para transformar essa realidade desumana faz-se necessária a política, em suas vias representativa e direta, atrelada aos movimentos sociais – essenciais ante a violência do capital, sobretudo a simbólica, que dissimula sua força e interesses por meio da publicidade, dos dogmas e convenções impostos para fazer valer seus pontos de vista.
Para a maioria da população, as práticas políticas andam mal das pernas, com fortes alianças com a corrupção. Para os barões de sempre, não.
Fazê-las diferentes é urgente, possível, necessário, fundamental.
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