Márcia Denser*
“Se o voto mudasse as coisas, ele seria ilegal.”
Frase de um filme esquecido.
Será? Essa frase faz algum sentido para vocês? Mas lembro outra, esta dita por um jornalista, âncora de tevê, no filme “O Informante”, em réplica ao dono da rede para que ele deixasse rolar as denúncias feitas contra a indústria de cigarros pois logo seriam esquecidas: “Não, você está confundindo as coisas, meu caro. A fama dura apenas quinze minutos, mas a infâmia perdura!”.
Sim, se a fama é fugaz, a infâmia é permanente, podem apostar.
Naturalmente tem a ver, por exemplo, com fato recente, o incidente lamentável envolvendo o prefeito de Sampa e um cidadão, pequeno empresário, pessoalmente atingido pela lei que proíbe a propaganda poluidora da visualidade urbana.
Não vou relatá-lo novamente, a mídia – e por mídia leia-se sobretudo a Rede Globo e só ela é suficiente – já o esmiuçou até à exaustão, aliás uma mídia precisando recuperar a credibilidade perdida pós-eleições, mostrar serviço, e a isto some-se o mês de férias, o recesso político, a falta de assunto, então, pimba! Não deu outra. Momento errado, lugar errado, atitude errada. Apenas um incidente, mas que assumiu uma notoriedade negativa tão grande, capaz de determinar o destino de um homem público. Realmente, nesse aspecto a mídia tem um poder tremendo, só que os resultados muitas vezes são imprevisíveis para a própria mídia, isto é um fato. Sobretudo quando se é jornalista há tempo e percebe, por assim dizer, as coisas pelo lado de dentro.
Estes julgamentos da mídia nem sempre são justos, por exemplo, como no caso do prefeito Gilberto Kassab do PFL, cuja carreira política não devia ser colocada em cheque por um atitude impensada, e anteriormente o governador Cláudio Lembo, também PFL, um intelectual refinado, por declarações, a meu ver, bastante sensatas, no olho do furacão do caso PCC, tipo ”O paulistano tem que começar a abrir a bolsa, dividir renda, etc…”. No caso, a mídia – mais realista do que o rei – estrilou só que para censurá-lo(?). Entendam: não morro de amores pelo PFL, só que não compro qualquer coisa apenas porque quem está vendendo é a Rede Globo!
Mas a mídia continua se omitindo quando se trata do tucanato paulistano -Serra, Alckmin, FHC – porque se fizesse justiça não continuaria empurrando para baixo do tapete, isto é, embaçando, omitindo, diluindo, ocultando tudo o que diz respeito às suas gestões ruinosas neo-liberalizantes, tanto no governo como na prefeitura do estado, incêndios que já estão pipocando e dificílimos de apagar, tipo Metrô, PCC, o atual corte de verbas da Universidade, o chamado “contingenciamento”.
Em razão da contínua privatização gigante do estado paulista, o estado mínimo da Nova República do Brasil, com o perdão do péssimo trocadilho, não é mais Alagoas, somos nós. E quanto ao presidente Lula, ele que nos aguarde, que estamos de olho.
Algo um pouco diferente do escritor Gore Vidal, que assim se manifestou about Bush: “Os Estados Unidos vivem uma ditadura dirigida por um idiota total que só se ocupa em arranjar dinheiro para sua patota. O demente de Washington lembra Calígula, com a diferença que o imperador romano era mais civilizado.” (revista Época, 22/1/2007), até porque, ao contrário do colega norte-americano, Lula é de origem humilde, inteligente, um político hábil com apoio popular maciço. Não, a coisa pega de outro ângulo.
Pessoalmente Bush e Lula, dizem, são afinadíssimos. Entendem-se às mil maravilhas. Claro. Na linha antiintelectual texano-caipira de São Bernardo do Campo.
E dá-lhe barbecue.
Deixe um comentário