Antônio Augusto de Queiroz*
Os resultados das eleições presidenciais são lógicos e, em geral, estão relacionados com o desempenho da economia, mesmo que o Estado não seja intervencionista. Isto vale para qualquer país democrático, inclusive Brasil e Estados Unidos.
A tabela abaixo – que informa os anos das cinco últimas eleições, o nome do presidente da República e sua popularidade na época, os eixos de campanha dos candidatos, o ambiente político no momento do pleito e os candidatos com melhor desempenho nas urnas – permite extrair três conclusões importantes a respeito da sucessão presidencial, que demonstram a lógica dos resultados eleitorais.
Em todas elas, as conclusões estão relacionadas, ainda que indiretamente, já que estão expressas por outros indicadores, ao desempenho da economia. Vejamos:
Ano da eleição Presidente da República/popularidade | Eixos de campanha | Circunstância/ambiente | Principais candidatos |
1989 – José Sarney – baixa aprovação | Renovação ética e inclusão social | De mudança | Collor e Lula (Brizola) –Collor foi eleito no 2º turno |
1994 – Itamar Franco – 55% de aprovação popular | Estabilidade econômica – Plano Real | De continuidade – FHC foi ministro da Fazenda de Itamar | FHC e Lula – FHC foi eleito no 1º turno |
1998 – Fernando Henrique Cardoso – 58% de aprovação | Estabilidade econômica – medo do fim do Plano Real | De continuidade | FHC e Lula – FHC foi reeleito no 1º turno |
2002 – Fernando Henrique Cardoso – 35% de aprovação | Geração de emprego e combate à pobreza | De mudança | Lula e Serra – Lula foi eleito no 2º turno |
2006 – Lula – 63% de aprovação | Prosperidade econômica e ascensão social | De continuidade, com mudança de método gerencial | Lula e Alckmin – Lula foi reeleito no 2º turno |
2010 – Lula – 85% de aprovação | Consolidação das conquistas sociais | De continuidade | Dilma e Serra? |
A primeira conclusão é que há uma relação estreita entre o índice de popularidade ou de aprovação do presidente da República e os votos recebidos por seus candidatos à sucessão, que, eventualmente, poderá ser o próprio presidente disputando a reeleição.
No pleito de 1989, o então presidente José Sarney não teve candidato à sua sucessão, mas nenhum dos candidatos dos partidos que lhe davam sustentação teve bom desempenho nas urnas. Os três mais votados foram Collor (PRN), Lula (PT) e Brizola (PDT), tendo os dois primeiros disputado o 2º turno, com a vitória do primeiro.
Nas quatro eleições seguintes, segundo dados de Alexandre Marinis, da Mosaico Consultoria, os índices de aprovação dos presidentes e o desempenho de seus candidatos foram muito próximos, conforme segue.
Em 1994, Itamar tinha 55% de aprovação e FHC, que era seu candidato e ex-ministro da Fazenda, teve 54% dos votos.
Em 1998, FHC era aprovado por 58% da população e teve 53% dos votos válidos em sua campanha de reeleição.
Em 2002, FHC tinha 35% de apoio e seu candidato, o ex-ministro do Planejamento e da Saúde José Serra, alcançou 39% dos votos válidos no segundo turno. Perdeu a eleição para Lula.
Em 2006, Lula tinha 63% de aprovação e foi reeleito com 61% dos votos válidos em segundo turno.
Em 2010, Lula tem aprovação superior a 85%. Se transferir 60% desse percentual para sua candidata, a ex-ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ela estará eleita em 1º turno.
A segunda conclusão é que cada campanha possui seu eixo central, que é importante tanto para ganhar a eleição quanto para governar.
O candidato que não estiver sintonizado com as políticas públicas sintetizadas pelo eixo da campanha não terá chance no pleito e, se for eleito e não implementá-las, terá problemas de governabilidade, como foi o caso do Collor.
Os eleitos, nos cinco últimos pleitos presidenciais, só o foram porque conseguiram transmitir para a população o compromisso com as aspirações simbolizadas pelo eixo da campanha.
Collor, por exemplo, desenvolveu uma campanha contra os marajás, que representavam o desperdício, a corrupção e a incompetência, além de ter prometido melhorias sociais. No governo, não cumpriu nenhum dos dois eixos e foi afastado.
Já FHC foi coerente com os eixos de suas campanhas, focando na estabilidade econômica na primeira e, na segunda, no medo de que sem ele a estabilidade corresse risco.
Mas, no governo, foi coerente apenas no primeiro mandato, tendo mexido no câmbio, um dos pilares da política econômica, logo após a segunda posse, fato que afetou seu apoio popular e levou à derrota de seu candidato à sucessão.
Lula foi eleito e reeleito com discurso focado nos eixos das duas eleições: geração de emprego e combate à pobreza, na primeira, e prosperidade econômica e ascensão ou mobilidade social, na segunda.
No governo, manteve-se coerente com os eixos, fato que lhe assegurou a reeleição em 2006 e apoio popular superior a 80% no final deste segundo mandato.
A terceira conclusão se refere ao ambiente político, ou seja, ao sentimento da população em relação à continuidade ou mudança das políticas e práticas governamentais.
Sempre que as circunstâncias exigiam mudança, o presidente da República não elegia seu sucessor, do mesmo modo que nos momentos em que a conjuntura era favorável à continuidade, os presidentes eram reeleitos ou elegiam seus sucessores.
Para os candidatos do PSDB, no período pós-FHC, as circunstâncias sempre foram desfavoráveis. No caso de José Serra, quando ele foi o candidato da continuidade, em 2002, o ambiente era de mudança. Agora, que é o candidato da mudança, o ambiente é de continuidade. Alckmin, em 2006, também foi o candidato da mudança num ambiente de continuidade.
Por último, o cenário sinaliza para continuidade da alta popularidade do presidente, que se envolverá cada vez mais na campanha, especialmente durante o horário eleitoral gratuito. E Dilma vem numa curva ascendente, e terá mais recursos para a campanha e mais espaço na televisão.
Com tantas evidências a favor da candidata oficial, salvo o surgimento de fato muito grave, Dilma Rousseff tende a ganhar a eleição, e, possivelmente, no primeiro turno.
*Jornalista, analista político, diretor de Documentação do Diap e autor dos livros “Por dentro do processo decisório – como se fazem as leis” e “Por dentro do governo – como funciona a máquina pública”
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