Curt Nees* |
A Timemania, a nova loteria lançada há duas semanas por medida provisória pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vem aí para salvar a cartolagem. O governo Lula – especializando-se cada vez mais em criar receitas para, entre outras coisas, pagar a máquina – agora implanta mais uma loteria para sacar os minguados centavos do povo brasileiro, dessa vez invocando a nossa paixão nacional. E para quê? Para alguém arrecadar (mais e mais), fazer com que os clubes de futebol do Brasil – uma grande parcela deles – acertem suas pendengas, suas contas com a Receita Federal, com o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e, principalmente, com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A previsão dessa nova loteria, que contará com a participação de 80 clubes, é arrecadar R$ 500 milhões por ano. Desse total, 25% (míseros R$ 125 milhões!) serão destinados aos clubes participantes. Os que estiverem devendo ao governo – insisto, uma grande parcela – usarão suas cotas para abater os seus débitos. Os que não devem nada (alguns poucos) colocarão essa grana nos cofres. Penso que, em vez de sacrificar – de novo – o sofrido povo brasileiro, a Receita Federal, o Ministério Público ou outro órgão afim deveriam disponibilizar fiscais para sacar, na boca do caixa, na bilheteria dos jogos que envolvem clubes devedores de impostos federais, parte da receita e, posteriormente, creditar esses valores para que os respectivos clubes possam abatê-los de seus débitos. Um outro caminho: que tal acompanhar as transações milionárias que muitos clubes fazem com a venda de jogadores e aplicar um percentual para abatimento de débitos com os órgãos federais, além de outros em nível estadual e municipal? Outra coisa: já que falamos em futebol, em paixão nacional, eu gostaria de saber dos presidentes das federações de futebol, espalhadas pelos quatro cantos do país, quais os critérios usados para os regulamentos dos inúmeros campeonatos disputados Brasil afora, sejam eles estaduais ou nacionais. Sim, pois um determinado campeonato é decidido por pontos corridos; outro por saldo de gols, um terceiro sei lá de que forma. Enfim, cada campeonato tem a sua regra. Não daria para uniformizar o regulamento? Não é possível descomplicar? Ainda: quem fiscaliza público e renda nos jogos de futebol? Temos um exemplo recente que circulou na mídia esportiva de Santa Catarina, onde um clube colocou algo em torno de 7 mil torcedores em um jogo e conseguiu arrecadar aproximados R$ 90 mil, valor esse 50% maior do que a renda de outro jogo, que pôs um público na ordem de 12 mil pessoas e conseguiu uma arrecadação por volta de R$ 60.000,00. Detalhe: pelas informações da imprensa especializada, os valores dos ingressos foram os mesmos, nos dois casos em questão. O que está faltando? Fiscalização ou transparência? Por último – e não menos importante – quem determina os horários dos jogos, principalmente os noturnos? Seriam os clubes ou as federações? Seriam a Band, a Record, a RedeTV, o SBT ou (custo a acreditar) a poderosa Rede Globo? Qual a razão de esses jogos iniciarem por volta das 22 horas, nos dias de semana, quando a infinita maioria dos telespectadores aficcionados pelo dito esporte bretão precisa acordar cedo, no dia seguinte, para o trabalho? E esse horário se torna ainda pior para o torcedor que vai ao campo. Seu tempo de descanso fica ainda mais curto, pois é preciso considerar o seu retorno para casa, após o jogo. Não passou da hora de serem revistas essa e todas as demais anomalias que envolvem o futebol brasileiro? É preciso mexer em algumas coisas, sob pena de essa paixão nacional esfriar, perder ainda mais adeptos. Vejam os estádios, em sua maioria com torcedores muito abaixo da sua capacidade de lotação! Vejam as brigas envolvendo as tais torcidas (des)organizadas! O reflexo dessas e outras coisas abordadas aqui se faz cada dia mais presente no mundo do futebol, a nossa tão cantada em verso e prosa paixão nacional. Vamos virar o jogo! Está terminando o segundo tempo, e daqui a pouco o juiz dará o apito final. E, aí, a paixão pode ir para o caixão. * É publicitário em Jaraguá do Sul (SC). E-mail: curt.nees@bol.com.br.
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