RODRIGO ROCHA LOURES*
Nos últimos dez anos, a partir de 1998, o comércio teve uma participação média de 10% na composição do Produto Interno Bruto – PIB. Em 2007 foi de 9,9% e em 2008, de 10,3%. Contudo, com a desaceleração econômica, as previsões são pouco otimistas, refletindo uma queda generalizada na atividade da economia.
Dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio, – CNC – indicam um crescimento de apenas 3,5% nas vendas reais do varejo este ano, baseados em projeções de expansão de 5,5% na massa real de rendimentos no mercado de trabalho e de 4,6% nos preços ao consumidor.
Apesar disso, são desanimadoras as estimativas com referência à oferta de crédito: a CNC prevê uma retração de 8,2% em relação ao ano passado, o que significa um forte impacto negativo nas vendas.
Embora o volume de vendas do comércio varejista o ano passado tenha crescido 9,1% em comparação com 2007, as previsões para este ano indicam uma acentuada retração. Tomando como referência o trimestre outubro-dezembro de 2007, em comparação com outubro-dezembro de 2008, temos uma queda de 12,5% nas vendas de veículos, de 5% nas vendas de material de construção e de 7,2% nas vendas de tecidos, vestuário e calçados.
As projeções mais otimistas para as vendas dos supermercados este ano não passam de 2,5%. Mesmo assim elas serão sustentadas pelos alimentos, o último item a sofrer as conseqüências da crise. Os chamados alimentos perecíveis estão perdendo vendas, e os consumidores ampliando a sua lista de supérfluos.
O efeito perverso da crise tem se refletido no comportamento do emprego no comércio. Ainda conforme a CNC, o emprego no comércio varejista, que cresceu 5,7% no ano passado, já declinou 1,1% nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, em relação ao mês de dezembro de 2008. A queda mais acentuada do nível de emprego ocorreu no segmento de semi-duráveis (tecidos, vestuário e calçados) que apresentou uma redução de 5,4%. No total do comércio, o nível de emprego declinou 0,9% somente nos meses de janeiro e fevereiro deste ano.
Não é diferente o quadro no comércio externo. Janeiro deste ano registrou um déficit na balança comercial de US$ 518 milhões, o primeiro desde abril de 2001.
Esse déficit é o resultado da retração da demanda mundial sobre os preços e as quantidades exportadas e também sobre os volumes e as cotações dos bens importados. O impacto maior tem sido sobre as exportações, que em janeiro foram de US$ 9,79 bilhões, o menor resultado desde fevereiro de 2006.
Na primeira quinzena de fevereiro o saldo comercial brasileiro foi positivo em quase US$ 700 milhões, com exportações de US$ 5,1 bilhões. Embora esses números revelem uma recuperação, não há qualquer indicação de que eles se sustentarão ao longo dos próximos meses, à proporção em que a crise se intensifique.
De fato, em comparação com fevereiro de 2008, a exportação média foi quase 25% menor, registrando-se, no terceiro mês consecutivo, um recuo na comparação com o ano passado, ou seja, menos 11,7% em dezembro e menos 22,8% em janeiro, em relação aos 12 meses anteriores.
Do lado das importações, onde prevalecem os bens manufaturados, os efeitos negativos da crise internacional tendem a ocorrer com uma maior defasagem. Na medida em que os contratos forem sendo renovados, a queda dos preços das commodities for repassada para os produtos finais e a contração da demanda mundial for se generalizando, o descompasso entre o ritmo de queda das importações e das exportações poderá até garantir uma balança comercial superavitária.
Diante desse quadro caótico, nada mais justificável a iniciativa do Congresso, e em especial, da Câmara dos Deputados, de criar comissões especiais destinadas a avaliar o impacto da crise na economia real do País.
A divisão do trabalho em áreas temáticas – comércio, indústria, agricultura,trabalho e setor financeiro – permitirá focalizar mais detidamente cada setor e, a partir daí, formular propostas específicas para cada área,destinadas pelo menos a minimizar os efeitos mais perversos da crise.
*RODRIGO ROCHA LOURES é deputado federal pelo PMDB do Paraná, vice-líder do partido na Câmara e Presidente da Comissão Especial de Avaliação da Crise Financeira na Área do Comércio
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