Saem os “craques da pelota”, entram os da política – alguns não tão craques assim. Mas as empreiteiras, que ganharam rios de dinheiro público com obras de construção e reforma de estádios para a Copa, continuam em campo. Elas vão financiar campanhas milionárias, que preveem, na disputa presidencial, gastos de até R$ 300 milhões (Dilma), ou R$ 290 milhões (Aécio), ou R$ 150 milhões (Campos). No plano estadual, o derrame de dinheiro também é mais escandaloso que perder de 7 a 1 para a Alemanha: no RJ, por exemplo, Pezão prevê gastos de R$ 85 milhões, Lindbergh de 60, Garotinho de 25, Crivellla de 9 milhões! Em SP isso dobra. Aliás, em relação às eleições nacionais de 2010, o aumento é de quase 50%! E os partidos que constituem essa PLUTOCRACIA movida a milhões se denominam “de trabalhadores”, “socialistas”, “social-democratas”, “do movimento democrático”, “republicanos”…
Sim, a Copa funcionou no que dependeu do trabalho operário e da engenharia civil, ainda que com nove vítimas fatais, que merecem ser lembradas nos estádios onde perderam suas vidas. Funcionou nas “arenas” cheias, apesar do caráter seletivo do ingresso, de uma torcida distante da paixão dos antigos “geraldinos” e “arquibaldos” e das máfias “fofanas” da Fifa. Movimentou a economia de consumo nestes 30 dias. A Copa teve partidas bem jogadas e a decepção da seleção brasileira, que clama por mudanças radicais na estrutura do nosso futebol – essas que as direções da CBF e da maioria dos clubes não querem. Mas a conta virá agora, paulatinamente. Em Cuiabá, Manaus, Natal e Brasília já pastam “elefantes brancos”.
Os aeroportos funcionaram bem, é verdade, mas 60% das iniciativas planejadas e não tomadas quanto à mobilidade urbana revelam-se de gritante urgência quando o povo das regiões metropolitanas, onde vivem 2/3 dos brasileiros, volta a se espremer e se engarrafar na ida e volta ao trabalho, passados os feriadões do megaevento. Os 500 hospitais – dos 1.964 necessários -, com 150 leitos, que poderiam ser construídos com o que se gastou nos estádios (só 0,4% vieram de recursos privados), continuam necessários. Bem como os investimentos em educação, neste país em que apenas 3 de cada 10 escolas têm quadras esportivas e só 33% das 190 mil entidades educacionais implantaram bibliotecas.
O Parlamento nacional tem a obrigação de aprofundar o debate e avançar na votação de medidas legais que venham não a ‘estatizar’ o nosso futebol, mas fazê-lo funcionar com trabalho de base, punição a negócios espúrios e fim da sonegação e do endividamento crescente. O poder público tem o que fazer nesse âmbito, inibindo o “laissez faire” que deu no que deu.
O problema é que esse Poder, a ser renovado inteiramente, daqui a pouco mais de dois meses, é constituído por um sistema viciado e pouco democrático. Não podemos “naturalizar” os montantes absurdos para a propaganda eleitoral, reveladores da influência cada vez mais decisiva e corrosiva do dinheiro na escolha de governantes e parlamentares. Como se sabe, quem financia manda, “não há almoço grátis”. As grandes empresas que “doam” essas quantias estão, na verdade, fazendo investimentos. Apesar do clamor das ruas em junho do ano passado, por mais autenticidade na política e melhor representação, a elite política não se toca, e quer até desmoralizar, sem cerimônia, a Lei da Ficha Limpa, desfaçatez da qual José Roberto Arruda, no Distrito Federal, é o mais vexaminoso exemplo.
Como lembrava o Barão de Itararé, “diz-me com quem andas que eu te direi se vou contigo”! É preciso ir na contramão de tudo isso – como na que rege nosso futebol, dominado por cabeças coroadas e… retrógradas. E insistir: cabe à Sua Excelência, o eleitor, separar o joio do trigo, praticando um voto crítico, consciente e livre, para o bem do país. Que o jogo da cidadania seja bem jogado!
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