Márcia Denser*
Para mostrar que não sou a “malévola de plantão”, exclusivamente dedicada à crítica negativa, posso dizer que existem pessoas cujas idéias admiro, respeito e assinaria embaixo, como as do sociólogo Francisco (Chico) de Oliveira, um dos fundadores do PT, ou da filósofa Marilena Chauí, também petista, ou do crítico Roberto Schwarz, todas elas vastamente difundidas e discutidas por uma contra-elite consciente, renascida e reproduzida de norte a sul do país graças a inúmeros fatores, tais como os cursos obrigatórios de pós-graduação, ao acesso e difusão da informação via internet e, sobretudo, ao excedente do que é negligenciado pela mídia em geral, e isto inclui toda cultura de mercado, particularmente os filmes americanos exibidos na tevê a cabo (estes, para quem sabe ler com o olhar armado, são um livro aberto!).
Para elencar as melhores idéia dessa contra-elite, facilitar a leitura e me assegurar de que serão lidas (ainda que muitíssima gente não goste delas nem dos seus autores), vou estruturar este texto com intertítulos conforme o assunto, identificando o autor pelas iniciais no fim do parágrafo.
PT, Poder & Outros Partidos – O PT cresceu muito depressa num ambiente de ditadura militar que deu uma força extraordinária aos movimentos sociais. O PT cresceu e se transformou na maior máquina partidária do país. Não há outra igual. O PSDB é uma máquina plutocrática que só tem a parte de cima, não tem a base. O PT é uma formidável máquina burocrática. O assessor do PT tem uma diferença radical em relação ao do PSDB: ambos têm interesses materiais, querem manter o emprego, mas o do PT tem ligação com o partido enquanto projeto político, um projeto político de poder. Isto faz com que a máquina do PT seja realmente uma máquina de guerra partidária. A do PSDB não funciona assim. O PFL não tem máquina partidária, apenas interesses materiais e fisiológicos. (FO)
O Estado Liberal – O Estado Liberal considerava inconcebível que um não-proprietário pudesse ser representante da população em qualquer um dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Quando afirmava que qualquer cidadão era livre e independente, nas entrelinhas queria dizer que todos eram dependentes de suas posses, ou ainda que não era livre quem nada possuísse. Assim se excluíam do poder político os trabalhadores e as mulheres, ou seja, a maioria da sociedade. (MC)
Política, Economia & Corrupção – A economia colonizou a política. Não existe mais política. Nesse contexto de colonização da política pela economia, os partidos estão em forte erosão. Porque os debates todos que estamos vendo sobre a corrupção têm por objetivo a discussão dos cargos nas estatais. Porque a política é irrelevante. Como dizia meu mestre Ignácio Rangel, a corrupção é um condimento do capitalismo. O problema só existe quando ela se transforma em prato principal. Mas isso não tem nenhuma importância do ponto de vista econômico. Do ponto de vista político, tem. A economia é um circuito fechado. O dinheiro não sai dela. Se sair, não vale nada. Mesmo quem roubou vai ter que aplicar o dinheiro. O que sai são os pobres, saem e vão bater no inferno. Houve roubalheira nas privatizações e para onde foi o dinheiro? Qual é o efeito disso na economia? Nenhum. (FO)
Neoliberalismo – Este implica no abandono do Estado de Bem-Estar Social (via privatização, por exemplo) e o retorno da idéia de autocontrole da economia pelos mercados, afastando o Estado de tais decisões (desregulação). Avanços tecnológicos acarretam desemprego em massa, caminho livre para o racismo e a exclusão social, política e cultural. Direitos conquistados tornam-se frágeis, pois os trabalhadores não são mais tão necessários neste novo cenário. (MC)
E por hoje é só. Na próxima coluna, mais idéias da contra-elite de plantão.
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