Caminhar pelas ruas de qualquer cidade em qualquer país do mundo, para os individualistas, egoístas e insensíveis é uma coisa fácil. Já para quem tem consciência social de cidadania e capacidade de se indignar, é um soco no estômago.
Não há região do mundo em que não existam pessoas abandonadas, excluídas e degredadas socialmente. Em todas as cidades há o “louquinho” ou a “louquinha”, aquele ou aquela “que não tem jeito”, o “bêbado conhecido e que não adianta tratar”. Há o “vagabundo” e a pessoa idosa abandonada pela família e pelo Estado. Todas essas situações são resultado de uma sociedade egoísta. E o egoísmo é próprio do capitalismo.
O ex-senador Eduardo Suplicy foi chamado – e é chamado – de utópico, socialista, comunista, tonto e tantas outras coisas por defender uma renda mínima para cada pessoa viver com dignidade. Com certeza o Suplicy é uma das pessoas que não consegue caminhar pelas ruas sem carregar no coração uma bagagem de dor e sofrimento. Não há como não enxergar os “loucos”, “vagabundos”, desempregados, “bêbados” e pessoas idosas pedindo para comer sem se indignar. Sem que mexa com o coração de qualquer humanista.
A renda mínima, se implantada, é a inclusão, o acolhimento social. É humanismo.
Ao longo da história da humanidade sempre se buscou e se busca a justiça, mas num mundo onde só 2% da população concentra metade da riqueza mundial não pode haver justiça.
Estudo recente do Instituto Mundial de Pesquisa Econômica do Desenvolvimento, parte da Universidade das Nações Unidas, comprova que os 50% mais pobres da população têm apenas 1% da riqueza do planeta. Em português claro: os 62 indivíduos mais ricos do mundo têm tanto quanto a metade mais pobre da população mundial. Portanto, 1% dos detentores da riqueza mundial têm mais do que o restante do mundo. Haja egoísmo!
O estudo também demonstra que a riqueza é mais concentrada em algumas regiões do mundo: quase 90% dela está sob o controle de moradores dos Estados Unidos, Europa, Japão e Austrália. Os EUA têm 6% da população adulta do mundo, no entanto, esta minoria detém 34% da riqueza do planeta. O Brasil tem 2,8% da população mundial e alguns poucos brasileiros têm 1,3% da riqueza do mundo. Justamente são estes muitos ricos que são contra os impostos, contra a volta da CPMF.
No capitalismo, mesmo que saiamos do atual modelo (financista), a desigualdade permanecerá, portanto, não haverá justiça. Segundo Winnie Byanyima, diretora da Oxfam International, a diferença entre os mais ricos e os mais pobres ampliou-se de forma dramática. “A riqueza da metade mais pobre caiu em um trilhão de dólares desde 2010, enquanto a riqueza das 62 pessoas mais ricas aumentou em 44%, isto é, para o total de US$ 1,76 trilhões”.
Para ela, para mim e para os que têm consciência social e de cidadania, é “simplesmente inaceitável que a metade mais pobre da população mundial possua menos do que algumas dezenas de pessoas super-ricas que poderiam caber em um ônibus”.
Entre os dias 20 e 23 deste mês de janeiro, foi realizado o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Nada foi decidido no sentido de diminuir as desigualdades econômicas e sociais no mundo. Tampouco decidiram alterar as relações financeiras e econômicas entre os países. Como nenhuma regra foi alterada, a riqueza continuará, como afirma Winnie, “sendo sugadas para cima”.
Diz a Oxfam que este sistema “permite que indivíduos e empresas ricas possam evitar pagar as suas obrigações tributárias para a sociedade, negando aos governos os recursos necessários para combater a pobreza e a desigualdade”.
Cabe aos homens e mulheres que têm consciência social e as vítimas diretas desta desigualdade parar este ônibus. Fazer desembarcar dele o capital e o patrimônio e, com uma política de distribuição de renda, fazer justiça social.
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