Três meses após o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol), a arquiteta Mônica Benício divulgou uma carta em que reafirma, no Dia dos Namorados, seu amor pela companheira, morta em 14 de março ao lado do motorista Anderson Pedro Gomes. As duas tiveram 13 anos de relacionamento e pretendiam se casar em 2019.
Em uma das passagens relatadas, Mônica cita o dia em que a Câmara Municipal do Rio rejeitou, por apenas dois votos, o Projeto de Lei da Visibilidade Lésbica. “Este era um debate que tocava pessoalmente Marielle: o veto ao projeto era uma expressão clara da negação de sua vida pessoal, da negação do nosso amor”, conta. Segundo ela, Marielle, sempre firme nos debates como parlamentar e ativista, também tinha seus momentos de fragilidade. “A ‘fortaleza’ com que se apresentava no plenário não era a mesma de quando estávamos juntas. Profundamente abalada, foi ao banheiro me ligar e chorou. Como sempre fazíamos, nos tranquilizamos e nos fortalecemos.”
Mônica também reafirma a luta dela e de Marielle contra a homofobia. “Seguiremos a todo tempo reafirmando que existimos, que nossas vidas importam. E, assim, por ela, por nós, continuaremos lutando para que nada nos sujeite, e que o que nos defina seja sempre o amor.”
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Veja a íntegra da carta de Mônica em homenagem a Marielle:
“Nenhum passo atrás no direito de amar
As rosas da resistência nascem do asfalto. A gente recebe rosas, mas estaremos de punho cerrado, falando do nosso lugar de existência contra os mandos e desmandos que afetam nossas vidas”. Assim minha companheira Marielle Franco se pronunciou em plenário na Câmara Municipal no dia 8 de março. A data de luta das mulheres também imprime nossa resistência a todas as formas de opressão.
E foi assim, com luta e resistência, que Marielle enfrentou dias muito difíceis no exercício do seu mandato como vereadora, pois ser mulher negra, lésbica, feminista, favelada e de esquerda em um parlamento repleto de homens brancos e ricos, símbolos do atraso político deste país, foi por todo tempo um ato de persistência. Um dos dias mais dolorosos foi o da tentativa de aprovação do Projeto de Lei da Visibilidade Lésbica, rejeitado por apenas dois votos.
Este era um debate que tocava pessoalmente Marielle: o veto ao projeto era uma expressão clara da negação de sua vida pessoal, da negação do nosso amor. A ‘fortaleza’ com que se apresentava no plenário não era a mesma de quando estávamos juntas. Profundamente abalada, foi ao banheiro me ligar e chorou. Como sempre fazíamos, nos tranquilizamos e nos fortalecemos. Mesmo triste, ela voltou ao plenário com força para se posicionar.
Lembrar isso neste Dia dos Namorados significa reafirmar nosso amor e nossa luta. Hoje, 90 dias após minha mulher ter sido executada num crime político, no centro de uma das principais capitais do mundo, continuaremos exigindo resposta, mas não uma resposta qualquer. E reafirmamos todos os dias que não daremos nenhum passo atrás pelo direito de amar.
No país que mais mata sua população LGBTI e que nega direitos às chamadas minorias políticas, Marielle e nossa história de amor representam força inspiradora para a luta, mas também, e, principalmente, para o livre exercício do afeto e dos sentimentos. Seguiremos a todo tempo reafirmando que existimos, que nossas vidas importam. E, assim, por ela, por nós, continuaremos lutando para que nada nos sujeite, e que o que nos defina seja sempre o amor.”
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