Eduardo Militão
Ele continua duro. Chama a presidente eleita Dilma Roussef de mentirosa e diz que ela não combateu os militares do regime de 1964 por razões democráticas, mas para implantar em lugar da ditadura de direita uma ditadura de esquerda. Mas democraticamente reconhece sua derrota e deseja sucesso à presidente vitoriosa. “Eu torço para que o governo Dilma dê certo”, diz o candidato a vice-presidente na chapa de José Serra (PSDB), o deputado Índio da Costa (DEM-RJ). A entrevista exclusiva com Índio foi feita durante a festa de entrega do Prêmio Congresso em Foco. O deputado foi um dos parlamentares premiados na noite. O desejo de sucesso ao novo governo, porém, não desfaz o papel que esse advogado de 40 anos espera cumprir nos próximos quatro anos. Ele será um ferrenho oposicionista do governo. Mas afirma que vai colaborar, do lado oposto, para que o sucesso aconteça. “Mostrando quais são os novos rumos” – como criar uma bolsa de qualificação profissional para os filhos dos que já recebem bolsa família, diz ele.
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Embora rebata de forma veemente a existência de articulações para que o DEM se uma ao PMDB – arranjo que estaria sendo coordenado pelo prefeito de São Paulo, Gilerto Kassab (DEM), Índio reserva aos peemedebistas um papel importante na aliança com o PT no novo governo. Para o deputado, o PMDB tem a responsabilidade de garantir a democracia ante eventuais medidas que soam autoritárias para o DEM.
O deputado mantém as pesadas críticas a Dilma, dizendo que, ao militar na organização Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), ela não lutou exatamente contra a existência de uma ditadura. “Todo mundo que estava na luta armada defendia uma tese de ditadura do proletariado”, disparou Índio, em entrevista ao Congresso em Foco. “Portanto, era trocar uma ditadura por outra”
Para o vice de Serra, a colaboração do Brasil para a solução do conflito na Colômbia passa longe do diálogo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). “Se eu sou chamado pra uma reunião com as Farc, eu vou com a Polícia Federal e prendo todo mundo.”
Índio conversou com o site durante a cerimônia do 5º Prêmio Congresso em Foco, logo depois de publicar em seu site no twitter o texto “Recebo hoje prêmio do Congresso em Foco pela minha atuação parlamentar. Fico feliz pois este é o meu 1º mandato federal”. Veja a entrevista:
Congresso em Foco – Embora venha perdendo representantes no Parlamento, o DEM sempre tem finalistas na seleção do Prêmio Congresso em Foco. Como o senhor vê isso?
Índio da Costa – Eu acho esse tipo de iniciativa fundamental, porque o Congresso, por mais transparência que tenha, ainda é para o eleitor comum uma caixa preta, pela dificuldade de acompanhar, pela própria atividade que cada um tem no seu dia a dia. Então, na hora que os jornalistas pré-selecionam e os internautas votam quem são os parlamentares que devem ser reconhecidos como premiados, na minha opinião, isso é importante. Isso fortalece a democracia.
O senhor foi um dos relatores da ficha limpa na Câmara, projeto de lei que mobilizou a base e a oposição no Congresso, apesar de o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ter dito que aquilo não era prioridade do Planalto. Como o senhor vê uma lei que começou desacreditada, pois não é fácil aprovar uma lei de iniciativa popular, e depois teve o apoio de todos?
O governo não encampou, não. O governo foi atropelado. Tanto que o [líder do governo na Câmara, Cândido] Vaccarezza [PT-SP], se posicionou contra, Romero Jucá se posicionou contra. Os dois são parlamentares que defendem a base do governo, os interesses do governo no Congresso Nacional. Os dois disseram que não era prioridade do governo. Segundo ponto: se você pegar as votações tanto do PT quanto da base governista, eles apresentaram as mudanças ao projeto de lei, defenderam essas mudanças depois na hora da derrubada das emendas supressivas. Eles não queriam derrubar; queriam manter as emendas supressivas. E aquilo acabava com o texto da lei. Quando eu sugeri ao presidente Michel Temer [PMDB-SP] em público que o relator na CCJ fosse o José Eduardo Cardozo, um deputado sério do PT – eu que sugeri o nome dele e eu sugeri porque a gente tinha que trazer o PT e o PMDB –, aquilo ali foi a melhor estratégia de todas porque, com o próprio PT relatando, numa segunda etapa gerou constrangimento para eles não aprovarem o projeto. Some-se a isso uma enorme mobilização que houve na internet com aquele site do Avaaz [site que reúne campanhas da sociedade, como abaixo-assinados virtuais, para pressionar políticos], mas que eu também consegui fazer quando dei meu telefone no Jô Soares. Consegui mobilizar muita gente. Passei de mil pessoas para 40 mil pessoas no twitter em dois meses e meio de trabalho.
O senhor passou seu telefone no Jô Soares. E aí?
E aí, todo mundo passou a me ligar. Uma e meia da manhã de segunda-feira passaram a me ligar. Até 3 da manhã de quinta-feira, direto, sem parar. Eu dormia assim… Lá no Rio de Janeiro, a gente fala que o sujeito estava “piabando”. Fiquei três dias assim. E aí cerca de 3 mil pessoas me telefonaram e eu dei os celulares dos deputados que eu sabia que eram contra. Os que diziam que estavam na dúvida, eu também dei o celular. No dia da votação, muito parlamentar recebeu telefonema de eleitor sem saber quem era. Era o pessoal que tinha me ligado. Na verdade, um trabalho de guerrilha.
A maioria no PT não queria? Há exceções, além do Cardozo?
Não. O PT não queria. As exceções são o Cardozo; não sei quem são os outros, talvez outros que… Ah, o Biscaia [Antônio Carlos Biscaia, PT-RJ] também. Fora ele e o Biscaia, era contra.
Depois de uma campanha presidencial disputada, com agressões de lado a lado, o que achou da reportagem da Folha de S.Paulo com informações da ficha de Dilma produzida pela ditadura?
São informações que a gente não tinha antigamente acesso a elas que mostram as razões concretas pelas quais o processo estava trancado num cofre.
O senhor acha que há algo grave ali? Não são ações de alguém que lutava contra uma ditadura?
Acho que é grave porque ela nunca lutou contra uma ditadura. Ela lutou contra os militares. A Dilma sempre defendeu… todo mundo que estava na luta armada defendia uma tese de ditadura do proletariado. Portanto, também era ditadura. E ela mentiu na campanha eleitoral dizendo que ela era a favor da democracia. A Dilma mentiu muito na campanha eleitoral. Uma coisa de louco. A mim, não é nenhuma novidade. Para mim, não tem nenhuma grande novidade saber que ela estava escondendo informações. Ali, era tudo na base da mentira. E, na história das Farc, ela no final teve que ir pra televisão. Porque ficou tão ridículo dizer que não sabia de nada que ela veio pra televisão dizer que era verdade. Você lembra disso? Um mês depois que eu fiz a denúncia das Farc, ela disse: “o PT fala com as Farc, sim, conversa com as Farc”.
Mas o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) também não falava com as Farc na época do Fernando Henrique? Falar com as Farc em si é um crime ou algo imoral? Como o senhor vê isso?
Não é falar com as Farc. É diferente. Eles coadunavam do mesmo movimento, do qual o Lula inclusive era presidente, chamado Foro de São Paulo. As Farc têm assento no Foro de São Paulo. Agora tem um documento das Farc dizendo que a Dilma será importante para o processo de paz na Colômbia. O que quer dizer isso? Vai se estabelecer uma nova correlação de poder entre as Farc e o governo colombiano e vão isentar de todos os crimes cometidos no passado?
O partido do senhor, o DEM, tem enfrentado um problema interno. O deputado Ronaldo Caiado tem criticado duramente as articulações do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, acusando-o de tramar a fusão com o PMDB. O DEM está acabando?
Olha só, eu sou contra a fusão com o PMDB. Quero registrar aqui que, comigo, o Kassab nunca falou de fusão e eu estou com o Kassab semanalmente. Não houve pedido dele para fundir, não houve nada. Você tem parlamentar que conversa sobre hipótese. O Kassab conversou com o PMDB. O PMDB o procurou, mas, pelo menos comigo, ele não tratou dessa tese. Acho que houve uma precipitação talvez aquecida pela imprensa.
O deputado Caiado falou abertamente em entrevista à Veja, por exemplo.
É o que eu digo. Talvez tenha havido uma precipitação. É o amor que o Caiado tem pelo partido. Se tivesse telefonado para o Kassab, ia saber que aquilo não era verdade. Houve uma conversa e essa conversa não passava por fundir o partido.
O senhor acha que o DEM comunica com clareza ao eleitor o seu modo de ser e de fazer política?
Não, acho que pode melhorar muito.
Por exemplo?
Vou me dedicar no próximo período no que puder a ajudar o partido nesse sentido. Por exemplo, a questão tributária. Em relação aos pobres? Qual a política efetiva que a gente tem pro pobre? Em relação a uma estruturação para as pessoas que estão no Bolsa-Família, pra quem também está fora mas que teria condição de receber. Que política pública a gente oferece pra essas pessoas?
E qual é a proposta que o senhor faz para o Bolsa-Família?
Nosso objetivo é tornar a máquina mais eficiente, baixar imposto e incluir quem está excluído hoje a partir de uma política efetiva de qualificação. Não só com o apoio financeiro, como hoje tem no bolsa família, mas qualificar os filhos de quem está no bolsa família. Você pode até dar mais uma bolsa pra eles. Você está apoiando o lado social, mas também ajudando o Brasil a crescer, porque essa pessoa vai produzir daqui a um tempo.
Seria o Bolsa-Família e uma Bolsa-Formação?
Para quem tem Bolsa-Família , você dá pro filho Bolsa-Formação. O que vai acontecer ao longo do tempo? Esse jovem vai ganhar um salário maior, ao longo do tempo vai crescer a renda dele. Crescendo a renda, cresceu a renda familiar. Nesse momento, a família pode até ser beneficiada com uma remuneração no conjunto maior e não precisar mais do Bolsa-Família. Mas você tem um processo de retirada desse pessoal que não é apócrifo, é pra uma vida melhor. O cara tá recebendo mais. Pra ele, tá ótimo. Ele não quer mais receber o Bolsa-Família, porque ele não precisa de R$ 80 por mês: ele ganha R$ 2 mil.
O senhor fala sobre uma proposta aparentemente palatável ao governo eleito. O senhor acredita que o DEM conseguiria negociar isso com o governo de Dilma Rousseff?
Olha, eu torço para que o governo Dilma dê certo. Vou ajudar a que o governo Dilma dê certo em tudo o que me couber. E o que me cabe é fazer oposição, mostrando quais são os novos rumos. O PMDB vai garantir ou não o processo democrático no Brasil. Tá em especial na mão do PMDB isso. Espero que o PMDB tenha consciência da importância do papel dele no governo, porque, em todas as tentativas totalitárias que foram colocadas até na campanha eleitoral, o PMDB sempre se posicionou contra. Como o PMDB tem maioria no Congresso Nacional, com o bloco que foi formado agora, é fundamental que nos ajude a garantir a democracia.
Qual o futuro político do senhor?
O futuro a Deus pertence. Eu vou ajudar no que puder o meu partido e advogar.
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