A entrevista do ex-secretário geral do PT Silvio Pereira, publicada na edição deste domingo (7) do jornal O Globo, que já circula em algumas cidades, provocou reações imediatas de lideranças da oposição e do governo. Reacesa, a oposição voltou a falar sobre um possível impeachment do presidente Lula.
A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto informou que, por enquanto, o presidente Lula não se manifestará sobre as declarações do ex-secretário petista. O empresário Marcos Valério de Souza, também por meio de sua assessoria, disse que já tinha falado tudo a respeito do mensalão nos depoimentos prestados à Polícia Federal, ao Ministério Público e às CPIs dos Correios e do Mensalão.
Rumo ao impeachment
Senadores e deputados pefelistas consideraram grave a declaração de Silvinho de que quem mandava no PT, com o atual governo instalado, eram o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente da legenda José Genoino, o líder no Senado, Aloizio Mercadante, e o próprio Lula. Para eles, a revelação confirma que Lula sempre soube do esquema montado pelo empresário Marcos Valério de Souza.
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“Se ele confirmar tudo o que disse na entrevista, o caminho do impeachment estará inexoravelmente aberto”, disse o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).
O líder da oposição no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR), afirmou que após essa entrevista, fica impossível isentar Lula:
“Por mais boa vontade que se possa ter, está claro que todas as coisas ocorriam em torno do presidente. A entrevista reitera a existência de razões para o impeachment”, disse o senador.
Serraglio pede cuidado
Relator da extinta CPI dos Correios, em cujo relatório final ficou reconhecida a ocorrência do mensalão – esquema de compra de votos de parlamentares da base aliada – o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) atentou para o fato de que a entrevista de Silvinho pode ser um mecanismo para isentar o presidente Lula de qualquer responsabilidade no esquema orquestrado por Marcos Valério.
"É preciso ter cuidado. Pode ser uma forma implantada para afastar o presidente Lula das denúncias. Precisamos analisar com cuidado a possibilidade de ser algo de cunho eleitoral", alertou Serraglio.
Para o peemedebista, o ex-dirigente petista lança uma "bomba enorme" ao informar que o esquema montado pelo publicitário Marcos Valério teria como objetivo arrecadar R$ 1 bilhão, mas depois, exime todos os dirigentes do PT de qualquer culpa.
"Ele não assume nada e tira todo mundo da coisa", analisa Serraglio.
Não tem nada de novo
O ministro das Relações Institucionais e coordenação política, Tarso Genro, reconheceu que o depoimento de Silvinho ao jornal é forte, mas ressalvou que não agrava a situação de Lula, que foi excluído do esquema pelo entrevistado, nem do PT.
“É mais um depoimento muito forte, mas que não tem nada de novo e que isenta totalmente o presidente da República. Não agrava a situação do presidente nem do partido”, disse o ministro.
Genro ressaltou que a entrevista deixa claro que se tratava de um esquema "que se dava contra as determinações do governo".
“Ele mesmo diz que era uma estrutura terceirizada no PT, comandada por Marcos Valério e Delúbio Soares, e que bastava o governo "não notar" o pool de empresas”, destacou o ministro.
Declarações "estranhas"
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) – que disputa neste domingo (7) as prévias do partido com a ex-prefeita Marta Suplicy, para ver quem vai disputar a sucessão ao governo de São Paulo – negou qualquer participação nos esquemas de corrupção ligados ao PT.
"Eu estranho essas declarações feitas um ano depois, depois de três CPIs, de investigações do Ministério Público e da Polícia Federal. São denúncias feitas às vésperas de uma prévia", ressaltou o líder governista no Senado.
"Eu sei que tem gente que não gostaria de me ver candidato porque eu fui muito duro em relação a esses erros, e vou continuar sendo", acrescentou.
O senador petista considerou fantasiosas as afirmações de que o PT planejava arrecadar R$ 1 bilhão com os esquemas de desvio de dinheiro.
"Não parece ser viável essa acusação. Seria uma proposta surrealista um partido querer arrecadar cifras dessa natureza". Ele negou ainda qualquer relação pessoal dele com o esquema do valerioduto. "Fui da executiva do partido até 2002, esse episódio do valerioduto eu nunca soube dentro do PT. Nunca falei com ele e desconheço que ele tivesse qualquer relação de intimidade com dirigentes do partido."
Mercadante ainda fez uma defesa incondicional de Lula: "Estou tranqüilo em afirmar que o presidente não teve qualquer envolvimento nesses erros".
Ajuda médica
O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), ateve-se a declarar que Silvio Pereira está desequilibrado e precisa de ajuda médica.
“Basta ver como a entrevista é encerrada”, destacou. Ele alude ao fato do ex-dirigente petista ter perdido o controle e quebrado móveis do apartamento. Ele também teria dito à repórter que seria morto após a publicação da entrevista.
O ministro Tarso Genro também observou que Silvio Pereira é a “figura de uma pessoa atormentada e com problema de consciência”.
MPF avisa: inquérito ainda está aberto
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, por meio de sua assessoria de imprensa, lembrou que já denunciou 40 pessoas pelo escândalo do mensalão, mas que o inquérito ainda não foi encerrado. Segundo ele, novas denúncias poderão ser investigadas e outras pessoas ainda podem ser convocadas para depor.
De todo modo, Antonio Fernando destacou que qualquer declaração precisa de provas para ser considerada verdadeira.
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