Roseann Kennedy
Não é de se estranhar que os dois líderes na corrida presidencial permaneçam empatados nas intenções de voto, de acordo com o Datafolha, e que agora também adotem a mesma estratégia em relação à participação em debates. Ou seja, não participar.
Em três semanas de campanha, oficialmente, não houve nenhum fato significativo que alterasse o panorama eleitoral da corrida ao Palácio do Planalto. O que ficou registrado mesmo foi a troca de farpas, num nível inclusive bem baixo, aquém do que deve ser um debate democrático.
Essa discussão, porém, com xingamentos e insinuações incriminatórios, não entusiasma o eleitor. É verdade que há a grave denúncia do vazamento de dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas, mas esse tipo de situação está longe de influenciar diretamente 135 milhões de eleitores brasileiros. Mobiliza apenas os exércitos eleitorais de cada um dos candidatos, que terminam falando para eles mesmos, principalmente no ambiente da internet.
Os petistas falam para seguidores petistas. Os tucanos falam para seguidores tucanos. Enquanto isso, a população fica sem saber quais são as propostas dos candidatos.
Aliás, não dá nem para sugerir ao eleitor uma consulta aos programas de Governo desses presidenciáveis registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Afinal, o tucano José Serra protocolou apenas alguns discursos e a petista Dilma Roussef já registrou duas versões e prepara a terceira.
Trocar farpa não é debater. E, do debate de fato, os dois não quiseram participar esta semana. Aliás, recomenda o marketing eleitoral que um candidato francamente à frente nas pesquisas de intenção de voto não deve se arriscar nesse tipo de situação.
Mas é uma recomendação pragmática, estratégica mesmo e desrespeitosa com o eleitor, que passa a ser tratado como um mero emissor de voto e não como cidadão.
Até aqui, no entanto, Serra e Dilma estão empatados. Não dá para usar a justificativa citada anteriormente. Então, o que os afasta do debate então?
Ao que tudo indica, eles estão se guardando para apresentar ao eleitor apenas a versão maquiada, ensaiada e editada na propaganda eleitoral gratuita em rádio e televisão, a partir de 17 agosto. Embora haja a previsão do primeiro debate em televisão no dia cinco de agosto.
A questão é que para esse tipo de participação, os candidatos são treinados, aprendem a fazer caras e bocas, simulam perguntas e respostas. A equipe de campanha visita estúdio e chega ao ponto de analisar qual o melhor tom de gravata a ser usado naquele cenário. Ou seja, o personagem também é bem produzido.
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