Ronaldo Brasiliense * |
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Os coordenadores da campanha de dona Marta Tereza Suplicy, candidata derrotada à Prefeitura de São Paulo em 2004, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), usaram de um artifício pouco usual para embaralhar a prestação de contas da campanha à Justiça eleitoral. Está lá no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – www.tse.gov.br – para quem quiser ver: no ícone “Candidato” aparecem as receitas e despesas da campanha de Marta assumidas por um “Comitê Unificado”, enquanto no ícone “Comitê” surgem efetivamente as receitas e despesas da campanha da candidata. Dentre todos os petistas candidatos a prefeito em 2004, Marta Suplicy foi uma rara exceção em sua prestação de contas ao TRE. No ícone “Candidato” surgem receitas e despesas de um mesmo valor: R$ 220.266,16. No ícone “Comitê”, porém, as receitas atingem estratosféricos R$ 16.519.802,11 – disparada a mais cara campanha entre todos os candidatos petistas nas eleições municipais de 2004. Leia também Em tese, as receitas visíveis no ícone “Comitê” podem ser atribuídas pela tesouraria do PT a todos os candidatos que o partido lançou na disputa de 2004, em São Paulo. Com isso, ficaria muito difícil identificar para onde foram direcionados os recursos obtidos pelo PT junto a empreiteiras, bancos, supermercados e pessoas físicas. Mas, como perguntaria a produtora-repórter-cinegrafista Melissa Monteiro, em sua entrevista exclusiva com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Paris, França, exibida com exclusividade no “Fantástico”, há males que vêm para o bem? No caso, sim. Pois somente ao acessar o ícone “Comitê” no site do TSE pode-se ver o total da dinheirama levada pelo Diretório Nacional do PT – leia-se José Genoíno, Delúbio Soares, Silvio Pereira e outros bichos – para a campanha à reeleição da então prefeita paulistana. Marta Suplicy teria recebido dos diretórios nacional e regional do PT nada menos que R$ 4.895.403,00 (leia mais). Mais de 90% dos recursos caíram nos cofres de campanha de dona Marta entre 31 de agosto e 17 de setembro de 2004, período que está sob investigação na CPI dos Correios, quando foram feitos vultosos saques nas contas do Banco Rural, agência Brasília Shopping, do principal operador do “mensalão” – segundo denúncia do deputado Roberto Jefferson – o publicitário Marcos Valério. A prestação de contas de dona Marta Suplicy no ícone “Comitê” também revela doações de campanha vultosas de empreiteiras como Cristiani Nielsen Engenharia (R$ 200 mil, em 26 de outubro), Coesa Engenharia (R$ 200 mil, em 20 de outubro), VTC (R$ 200 mil, em 25 de outubro) Camargo Corrêa (R$ 250 mil, em 30 de setembro), Delta Construções (R$ 200 mil, em 16 de agosto e R$ 200 mil em 30 de setembro), CNEC Engenharia (R$ 250 mil, em 17 de setembro), Coesa Engenharia (três depósitos de R$ 200 mil), EIT (R$ 200 mil, em 24 de agosto e Sodepa (R$ 300 mil, em 03 de agosto). Há doações também de instituições bancárias – Votorantim Finanças (R$ 300 mil, em 19 de agosto R$ 300 mil em 16 de setembro), Banco Boavista Interatlântico (R$ 500 mil, em 20 de julho), de multinacionais como a Pirelli (R$ 500 mil, em 1 de outubro) e até da concessionária do estacionamento do aeroporto de Congonhas (R$ 200 mil). Registrei apenas as contribuições de R$ 200 mil ou mais para comprovar aquilo que todos sabem há décadas: são as empreiteiras e os bancos os grandes financiadores de campanhas eleitorais no Brasil. Certamente não dão dinheiro para financiar a eleição de A ou B por causa dos belos olhos dos candidatos na disputa. A contra-partida pleiteada após as eleições é responsável pela ascenção dos PC Farias, dos Delúbios e Silvios Pereiras da vida. O erro que cometi ao resumir os gastos de campanha de dona Marta Suplicy a pífios R$ 220 mil, data vênia, que seja creditado ao ardil usado por seus coordenadores de campanha para tentar embaralhar os números na declaração apresentada à Justiça eleitoral.
* Ronaldo Brasiliense, jornalista paraense, foi chefe da sucursal da Veja na Amazônia, repórter especial do Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e IstoÉ e colunista do Correio Braziliense. Ganhou o Prêmio Esso em 1998 e 2003. |
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