Rui Costa Pimenta *
A primeira baixa da atual crise dos partidos políticos burgueses foi o PFL. Perdeu todas as suas posições e deixou de ser o partido mais importante do regime, nos anos 80, para se tornar uma completa nulidade política. Os cardeais do partido, agora, querem liquidar o espólio e formar um novo partido para começar de novo, seria o “Partido Democrático”. Mais uma ironia contra o povo brasileiro.
A liquidação do PFL, porém, está longe de ser um caso solitário. Na última reunião do Diretório Nacional do PT, uma ala, liderada pelo ministro da Articulação Política do governo Lula, Tarso Genro, inspirado, provavelmente, pelo próprio governo – que depois condenou a iniciativa – propôs, em conjunto com os “trotskistas” burgueses da Democracia Socialista, a “refundação” do PT.
Não contavam com a enorme coesão da ala que motivou a necessidade de “refundação”, expondo a podridão interna do partido por meio do escândalo do mensalão. A crise do PT terá que se aprofundar mais – e, sem dúvida, não faltarão interessados no interior da classe dominante em acelerar esse desenvolvimento – antes que se possa colocar com possibilidade de êxito. A rigidez interna do PT, hoje causa de uma forte unidade em torno do grupo do grande líder do mensalão, José Dirceu, deverá ser, em um futuro próximo a sua principal debilidade.
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A crise do PT, partido do governo e fora do governo, é, potencialmente, ainda maior que a dos demais partidos, porque concentra no seu interior todas as contradições do atual regime político.
Agora, surge, também, à luz do dia a crise do PSDB, mal disfarçada pela unidade apenas aparente do partido. O presidente do PPS, antigo stalinista, Roberto Freire, propõe a criação de um amplo partido de “centro-esquerda”, “reformista”, com a participação do PSB e figuras do PMDB e do PDT, sob a liderança do PSDB, como forma de “dar uma saída à crise do regime político”. A iniciativa do antigo secretário-geral do velho PCB stalinista não terá maior resultado que a do ex-PFL, mas tem inegavelmente o mérito de revelar que o PSDB é também um partido condenado e irremediavelmente dividido.
Esta divisão já se mostrou durante as eleições presidenciais quando uma ala apoiou Lula, sob a aparência de defender a candidatura de Alckmin e outra procurou colocar esse acordo em crise.
Não pode haver dúvida de que estamos diante de um colapso do sistema partidário em seu conjunto e, portanto, do regime baseado em um parlamentarismo duvidoso. São todos os partidos burgueses, de direita e de esquerda que se encontram em crise, sem exceção alguma.
Foi esta crise, que agora assume uma feição de situação terminal, que levou ao governo Lula. Ou seja, a um governo de colaboração entre os principais representantes da classe operária e das massas e a burguesia. O seu aprofundamento, incluindo a crise do PT, torna ainda mais necessário o funcionamento dessa engrenagem. Daí não ser possível confundir o governo Lula com os partidos que lhe servem de base, todos em crise, inclusive o próprio partido de Lula, o PT.
A crise coloca na ordem do dia a luta do governo e das facções burguesas predominantes por uma maior independência do Executivo em relação ao partidos e ao Congresso. Daí o conjunto de manobras que estão sendo colocadas em marcha para dar ao governo um maior poder extraparlamentar.
O conjunto dos partidos burgueses e a imprensa capitalista falam em reforma política. O problema está em que ninguém sabe exatamente qual seria a fórmula para fazer renascer os partidos moribundos ou mortos. Deixada nas mãos do partidos burgueses dominantes como o PT e O PMDB, a reforma fortaleceria o monopólio dos partidos em crise como meio para conter a desagregação interna desses partidos, mas não seria capaz de conter a desagregação do sistema partidário e do Congresso. Ao contrário, apresenta o grande risco de acelerar a crise diante das massas.
Esses sinais indicam que o regime político burguês no Brasil caminha rapidamente para uma etapa de turbulência.
* Rui Costa Pimenta, 49 anos, é jornalista e presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO).
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