Sylvio Costa
Alejandro Salas, diretor da Transparência Internacional para as Américas, destacou o “valor de uma imprensa livre e independente” na divulgação de informações de interesse público e no aprimoramento das instituições democráticas, ao fazer a palestra de abertura da Conferencia Latinoamericana de Periodismo de Investigación (Conferência Latino-americana de Jornalismo de Investigação), realizada em Lima entre os últimos días 15 e 18.
Citando o fato de 742 jornalistas terem sido assassinados no mundo entre 1992 e julho de 2009 (saiba mais) e acrescentando que na América Latina muitos jornalistas arriscam a vida para fazer seu trabalho, ele afirmou que o exercício da profissão está hoje associado a “coragem e vocação”.
Segundo ele, os jornalistas, sobretudo aqueles que se dedicam à investigação cuidadosa de temas ligados ao mau uso de dinheiro público, são “aliados fundamentais” da Transparência para expor “a realidade da corrupção em todo o mundo”. Salas constatou que a crise financeira mundial afeta ese “labor especializado e custoso”, e “a permanência e multiplicação do jornalismo investigativo perigam”.
Veja os principais trechos da sua exposição:
“O jornalista de investigação é quem abre portas, substituindo uma cultura de segredos por um clima de responsabilidade que não só ajuda a prevenir a corrupção, mas também fomenta na cidadania uma demanda pela proteção das contas públicas”.
“A publicação de reportagens que expõem e explicam a malversação de fundos, as ligações corruptas e o tráfico de influencia, o enriquecimento ilícito e o suborno – só para nomear algumas formas de corrupção – jogam um papel vital para entender as raízes e as consequências dos programas sociais utilizados com fins políticos, os serviços públicos ineficientes, os edificios em colapso, a proliferação do crime organizado, os diplomas obtidos sem mérito e a ajuda humanitária que se obtém depois de uma catástrofe natural e que se extingue sem chegar aos beneficiários”.
Saltas ressaltou a importância da questão “em uma região como a América Latina, na qual a impunidade ante o crime que se comete a partir da corrupção é enorme e a população vê aqueles que delinquem escaparem facilmente da lei, seja por contarem com a imunidade garantida por um cargo público, seja pelo privilégio de ter recursos financeiros suficientes para manobrar as decisões judiciais, seja por contar com vínculos sociais ou familiares para nunca serem capturados, gerando um grande desânimo, junto à sensação de desesperança e falta de credibilidade nas instituições democráticas”.
“O desgaste para as instituições de Justiça e segurança pública, os Parlamentos e partidos políticos, e para a pretação de serviços públicos básicos e as oportunidades de investimento é enorme. Com seu trabalho, vocês ajudam de maneira determinante a mobilizar a opinião pública, a presionar as autoridades, a pôr em xeque a quem defende aquele que lhe pagou suborno”.
“Esse trabalho não se produz sob condições ideais. (…) Sabemos que vocês enfrentam obstáculos e pressões e que às vezes põem à prova a tolerância de um governo ou o poder econômico e a influência de uma empresa”.
“Por outro lado, entendemos que a autocensura, produto às vezes de pressões ideológicas ou econômicas, é um fator inaceitável que afeta a seleção de temas, o espaço concedido, estabelece regras não escritas e forma tabus. A impunidade das agressões contra jornalistas provoca também um estado de autocensura e cria una série de temas e pessoas intocáveis –como fica evidente em meu país natal, o México, com o tema do narcotráfico”.
“Também está claro que vocês põem à prova os limites e oportunidades das leis de acesso à informação e, muitas vezes, são vítimas de outras leis que regulam a mídia a fim de punir ou influir arbitrariamente, como se viu recentemente no caso das 32 emissoras de rádio fechadas na Venezuela”.
Ele defende a adoção em todo o territorio latino-americano de leis acesso à informação, atualmente vigentes em 11 países da região (o Brasil não está entre eles). “O jornalismo de investigação, que buscar ir ao fundo dos temas e seguir pistas por caminhos complexos e sinuosos, se vê diretamente afetado pela disponibilidade, ou não, da informação necessária”, destacou.
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