Luiz Taques *
Corumbá, pequena mas acolhedora cidade localizada no Pantanal de Mato Grosso do Sul, já teve três senadores da República: Paulino Lopes da Costa, José Fragelli e Delcídio do Amaral. Mas apenas um deles, no entanto, virou manchete de jornal devido a possível envolvimento em desvio de dinheiro público. Trata-se, como sugere o singelo título deste artigo, de Delcídio do Amaral Gomez. Sim, com z, da maneira que está escrito. Por causa da sua ascendência paraguaia, o Gomes de Delcídio é com z mesmo.
Paulino Lopes era pecuarista e suplente de Fernando Corrêa da Costa. Com a eleição do médico Fernando Corrêa da Costa para o governo do então Mato Grosso uno, Lopes da Costa assumiu a vaga de senador. José Fragelli chegou a ser presidente do Congresso Nacional e, nessa condição, temporariamente, ocupou a Presidência da República. Corumbá e região apostavam na visão empreendedora do jovem Amaral Gomez. E no seu dinamismo. Pois Paulino Lopes e Fragelli se destacaram como políticos conservadores e medianos. Mas não se tem notícia de que tenham, por exemplo, envergonhado seus eleitores com escorregadas no decoro parlamentar.
Delcídio ambicionava ser governador de Mato Grosso do Sul. Porém, para alcançar esse objetivo, ele não encontrava espaço em seu partido, o PSDB. Com a chegada do PT ao poder local em 1999, ele, um corumbaense oportunista, troca o PSDB pelo PT. Torna-se secretário de Obras no governo de Zeca do PT e, na sequência, elege-se senador da República. Posteriormente, por duas vezes, lança-se candidato a governador e sai derrotado de ambas as disputas. Antes disso, ele foi ministro de Minas e Energia do governo Itamar Franco. Ainda que no apagar das luzes, é bem verdade. No livro-reportagem Crônica de uma grande farsa, lançado em 2013 pela Editora Kan, eu e o talentoso repórter José Maschio já mostrávamos que Delcídio do Amaral era um político de conduta duvidosa.
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Daí que não foi novidade para nós vê-lo aparecer nos noticiários como dedo-duro de um suposto esquema criminoso. Esquema criminoso milionário do qual ele teria feito parte e que muitos formadores de opinião, como jornalistas e radialistas, parecem esquecer-se de mencionar e de repudiar isso em suas falas e textos. Será que eles têm a convicção de que Delcídio é o mocinho dessa Operação Lava Jato? A sociedade tem visto Delcídio apontar o dedo para revelar que tais e tais pessoas receberam dinheiro de propina. É preciso investigar e punir quem ele dedurou. Mas é fundamental que se puna também o dedo-duro.
Diante disso, o que eu quero saber agora é onde está o dinheiro proveniente de propina que supostamente Delcídio do Amaral embolsou e que, até o momento, não o escutamos falar que irá devolvê-lo aos cofres públicos. Estaria no Panamá, na Suíça ou escondido no Pantanal da Nhecolândia?
Pois é, a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República e o Judiciário precisam nos dizer o destino que Delcídio do Amaral teria dado ao suposto dinheiro desviado da Petrobras, principalmente. O montante da grana que lhe coube, obviamente. Cobro essa explicação porque, em Corumbá, sua terra natal, Delcídio do Amaral está sendo considerado herói nacional. É que, com a sua delação, ele conseguiu complicar a vida de uma presidente democraticamente eleita pelo voto popular. Só lhe falta virar nome de algum órgão público. Igual acontecera com a sua parentada. O avô materno, e que também se chamava Delcídio do Amaral, batiza uma escola municipal. Essa escola fica à Avenida Rio Branco, quase ao lado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/Campus Pantanal. O centro de convenções de Corumbá leva o nome de outro consanguíneo ilustre de Delcídio: Miguel Gomez. Que vem a ser o seu pai.
A rodovia que liga Corumbá, no Brasil, à fronteira da Bolívia chama-se Ramon Gomez. O batismo é em homenagem ao avô paterno de Delcídio. Do jeito que o ex-petista anda sendo endeusado, não é de se estanhar se aparecer um maluco ou alguém com o rabo preso a Delcídio querendo batizar o trecho urbano do rio Paraguai, em Corumbá, com o nome dele. Afinal, currículo Delcídio teria de sobra para receber essa grandiosa homenagem. Pois ele foi o primeiro senador brasileiro a ser preso em flagrante, acusado de obstrução da Justiça, em pleno exercício do mandato. E depois, por causa disso, ser cassado pelo plenário do Senado Federal. Por unanimidade. O que não é pouca coisa.
* Luiz Taques é jornalista e escritor.
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