Um PSDB mais à esquerda, mais próximo das bases sociais e com soluções mais claras para o país. Mas sem renegar o passado e com um objetivo claro e fixo: eleger o sucessor de Lula em 2010. Esse é o discurso que vem sendo afinado pelo próximo presidente do partido, o senador Sérgio Guerra (PE).
Com a experiência de quem coordenou a campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) no ano passado, Guerra diz que os tucanos não podem pensar em voltar ao poder com as mesmas propostas derrotadas nas urnas em 2006.
“O partido vai se aproximar mais das suas bases. Vai se construir em todos os estados de maneira sólida e se abrir para muita gente que quer participar e vai ser chamada a participar de um PSDB renovado, com um objetivo muito claro, pragmático: ganhar a eleição daqui a três anos”, afirma o senador.
Nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, Sérgio Guerra admite que o PSDB se tornou “prisioneiro” de uma “nova concepção de política no Brasil” e perdeu a eleição porque não soube dimensionar o poder de Lula com os movimentos sociais. “Meu partido não é um partido de alienados. Nós não vivemos na lua. Vivemos no Brasil. Nós disputamos a eleição, perdemos. Nós temos que corrigir rumos”, reconhece.
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“Lula usou instrumentos que nós não soubemos confrontar. Movimentação na base social, do povo, e de instituições que receberam dinheiro público. As ONGs da vida e muitas instituições, que ao invés de cumprirem o papel para o qual foram destinadas, transformaram-se em comitês eleitorais do presidente Lula. Além disso, fizeram a chantagem do Bolsa Família, dizendo que a gente ia acabar com ela”, diz.
Nova esquerda
Sem renegar o passado, reconhecendo que o partido poderia ter defendido de forma mais contundente o governo Fernando Henrique Cardoso durante a campanha de Alckmin, o futuro presidente do PSDB já tem na ponta da língua uma nova concepção de esquerda, com a qual tentará diferenciar seu partido do PT.
“Ser da esquerda é arrancar o povo que está na pobreza para melhorar, e não acomodar o povo lá embaixo como o PT faz. Distribuir pobreza. A gente não quer isso, a gente quer que todos melhorem e que o emprego aumente. Apontar a porta de entrada da Bolsa Família e a porta de saída. Da Bolsa Família para o emprego. Do emprego para a cidadania. Da cidadania para liberdade econômica, política, emancipatória. Um partido assim, que não tenha timidez de dizer o que pensa.”
Sérgio Guerra pretende ampliar a base partidária nos estados e abrir espaço para esquerdistas desiludidos com a crise ética petista. “Acho que o PT precisa ser refundado. Isso não quer dizer que não tenha gente decente no PT. Tem muita gente decente”, afirma, endossando a tese levantada, pela primeira vez, no auge da crise do mensalão, pelo hoje ministro da Justiça, Tarso Genro.
Walfrido
Mesmo com a agenda voltada para o “novo” PSDB, o senador pernambucano não perde de vista as articulações governistas no Congresso e diz não ver com bons olhos a atuação do atual ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia.
“Na época do ministro Tarso Genro, a conversa do governo com o Congresso se dava entre as forças políticas. Com o ministro Walfrido, agora, aparentemente a relação não é com os partidos, é com os políticos, os parlamentares. Nós não achamos isso um bom caminho. Não achamos isso um bom sinal”, critica. “Esse negócio que cinco deputados se juntam indicam um diretor de uma estatal para fazer o quê? Imagina. Isso não pode continuar. Nós vamos ter que acabar com isso”, emenda.
Apesar da desconfiança política em relação ao ministro, Guerra não vê motivo para o afastamento de Walfrido, acusado de participar do chamado mensalão mineiro, cujo principal beneficiário, segundo a Polícia Federal, era o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
“Acho que o ministro Walfrido é uma pessoa que tem responsabilidade, um novo rico da política, não conhece isso direito. Mas ele não é uma pessoa com esse grau de comprometimento, não. De jeito nenhum. Zé Dirceu e Delúbio, esses caras abriram conta até lá fora para pagar conta do partido. Foi Duda Mendonça que disse isso. Não fomos nós que inventamos”, ataca.
Azeredo
O futuro presidente do PSDB parece ignorar que as acusações contra Azeredo também tiveram como origem o pagamento de despesas de campanha, inclusive, do próprio publicitário baiano, responsável tanto pela propaganda eleitoral de Lula em 2002 quanto pela do senador mineiro em 1998. Se para os adversários sobram ataques, Sérgio Guerra não poupa elogios para o ex-governador de Minas.
“Eu, pessoalmente, tenho confiança total na idoneidade do senador Eduardo Azeredo. É a pessoa mais honesta que eu conheço. Eu duvido que um petista possa dizer isso do senhor Delúbio”, desafia. “Mas eu, tucano, digo isso de Eduardo Azeredo com completa tranqüilidade. Não conheço homem público no Brasil mais honesto do que ele”, completa.
Prestes a completar 60 anos, o economista Sérgio Guerra deve ser confirmado como novo presidente do PSDB na convenção marcada para 23 de novembro, com o apoio dos principais cardeais da legenda. Ex-aliado político do ex-governador Miguel Arraes (PSB), com quem rompeu no final dos anos 90, e atualmente ligado ao grupo do também senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Guerra está no PSDB desde 1999. Antes, passou pelo PDT, o PMDB e o PSB.
Leia, a seguir, a íntegra da entrevista:
Congresso em Foco – O senhor vai assumir a presidência do PSDB. O que deve mudar no eixo do partido?
Sérgio Guerra – O partido vai se aproximar mais das suas bases. Vai se construir em todos os estados de maneira sólida e se abrir para muita gente que quer participar e vai ser chamada a participar de um PSDB renovado, com um objetivo muito claro, pragmático: ganhar a eleição daqui a três anos.
O partido vai mais para a esquerda?
Não tenha a menor dúvida. O partido se desloca cada vez mais para o centro, para o centro-esquerda e para uma posição progressista, que é a sua origem e que vai ser o seu futuro.
E se afastará também do DEM?
O DEM tem seu papel. Ele próprio está procurando sua identidade, seu caminho. Isso não nos impede de refletir sobre trabalhar junto com o DEM, fazer coligação com o DEM sempre, porque são aliados de primeira linha.
É um grande desafio, pois o PT acabou incorporando muito daquele discurso que era do PSDB, e como é que o senhor acha que seu partido pode retomar isso?
Mas o PT se desvirtuou. Uma coisa é o PT de antes e outra coisa é o PT de agora. Uma coisa é o PT das lutas trabalhista, da organização sindical, da construção da oposição brasileira, do voto livre e aberto, e da denúncia da corrupção. Outra coisa é o PT do Delúbio, do Zé Dirceu. Essa gente não tem nada a ver com a luta do povo nem com a esquerda. Tem a ver com esses elementos que caracterizam a pior face da política sul-americana.
Falando mais de PSDB, o TSE estendeu a fidelidade partidária para os cargos majoritários. O senhor acha que o governador Aécio Neves agora fica no partido ou o senhor já confiava na fidelidade dele ao PSDB?
Esse comentário sobre a saída de Aécio do PSDB é uma fraude.
Mas mesmo com o convite do presidente Lula de ser o candidato da base, caso ele deixasse o PSDB?
O presidente pode convidar quem ele quiser. Mas, do ponto de vista real do PSDB, Aécio foi deputado do partido, líder, presidente da Câmara, candidato a prefeito, governador por duas vezes e é um dos líderes mais importante que o partido teve e tem. Tem ampla possibilidade de ser candidato a presidente da República. O partido tem outros candidatos, mas acho que não tem na cabeça de Aécio, e nunca esteve, essa idéia de sair de um partido que ele desenvolveu e que não seria o mesmo sem ele.
Nenhum partido tem tanto pré-candidatos à presidência como o PSDB. Como o senhor vai administrar essa questão para que o partido não entre numa guerra interna?
Não faz mal que o partido tenha disputa, dois candidatos. Cada um busca apoio. O importante é que esse movimento se dê em ordem, de forma democrática, aberta, limpa e transparente. É nisso que eu acredito.
O PT volta e meia fala e usou durante a campanha eleitoral que o PSDB tenta esconder o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Como o senhor vê essa questão?
Isso é conversa de elefante. Não tem nada disso. A gente não podia ficar fazendo campanha de um ex-presidente que havia deixado a presidência quatro anos antes. Não havia porque discutir o passado, nós queremos discutir o futuro. O passado nosso não é um passado que nos diminua. O passado fez com que o partido crescesse. Ficar discutindo o que Fernando Henrique fez ou deixou de fazer não era objetivo na eleição. Era o jogo deles, mas não era o nosso.
Mas depois da reeleição, o ex-presidente Fernando Henrique reclamou que o PSDB deveria ter defendido as privatizações.
O presidente Fernando Henrique disse que o PSDB deveria ter defendido mais a sua base, seus princípios e sua própria legenda. Ele tem razão. Nós estamos muito tímidos nos elogios das nossas virtudes. O ex-presidente está absolutamente certo. Também nas privatizações poderíamos ter sido mais incisivos, mais práticos e mais seguros.
Mas essa defesa das privatizações não contraria esse namoro do PSDB com a esquerda?
Não. É uma coisa pré-histórica imaginar que não tenha sentido fazer privatização e, ao mesmo tempo, o partido ser progressista, avançado ou, como se queira dizer, de esquerda. Não tem nada ver. O que caracteriza a esquerda é o progresso com a participação popular. Com a transformação de setores sociais pobres que vão emergindo, crescendo e melhorando. Ser da esquerda é arrancar o povo que está na pobreza para melhorar e não acomodar o povo lá embaixo como o PT faz. Distribuir pobreza. A gente não quer isso, a gente quer que todos melhorem e que o emprego aumente. Apontar a porta de entrada da Bolsa Família e a porta de saída. Da Bolsa Família para o emprego. Do emprego para a cidadania. Da cidadania para liberdade econômica, política, emancipatória. Um partido assim, que não tenha timidez de dizer o que pensa.
O partido já tem uma posição definida sobre o chamado "mensalão mineiro" e a situação do senador Eduardo Azeredo (MG)?
Eu não acredito em mensalão mineiro. Primeiro, porque não é o caso de mensalão. Não há denúncias que se tenha usado recursos de algum tipo em Minas Gerais, passando pelo PSDB, para cooptação de maioria de parlamentares na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, como foi feito aqui com Zé Dirceu e Delúbio. O objetivo era cooptar deputados, senadores para fazer maioria do governo. Nós nunca trabalhos nisso. O que se discute em Minas Gerais é uso irregular de recursos em campanha. Caixa dois em campanha, que era modesto no Brasil até pouco tempo atrás. E o episódio de Minas Gerais não é do PSDB. Vai do PSDB ao PT. Inclusive os relatórios da Polícia Federal apontam recursos maiores para o Partido dos Trabalhadores do que para gente com vinculação ao PSDB. Não podemos defender o indefensável. Nós não concordamos com isso, mas entendemos que problemas surgiram e devem ser enfrentados, esclarecimentos têm que ser dados. Eu, pessoalmente, tenho confiança total na idoneidade do senador Eduardo Azeredo. É a pessoa mais honesta que eu conheço. Eu duvido que um petista possa dizer isso do senhor Delúbio. Mas eu, tucano, digo isso de Eduardo Azeredo com completa tranqüilidade. Não conheço homem público no Brasil mais honesto do que ele.
Mas o ministro Walfrido dos Mares Guia está diretamente envolvido no caso. Se fosse outro personagem, o PSDB não pediria a cabeça dele ao governo?
Nós não temos como prejulgar ninguém. Para nós, o senador Eduardo Azeredo é íntegro, sério. Essa é a nossa opinião sobre ele. Acusado ele será, ou se for, defesa ele vai fazer e promover. Não vamos prejulgar ninguém. Minas Gerais inteira reconhece isso. Não conheço nenhum mineiro, nenhum eleitor de Minas Gerais, nenhuma força política de Minas Gerais que possa dizer o seguinte: Eduardo Azeredo é um homem honesto. Não podemos permitir que um quadro como esse seja exposto à desmoralização porque não cabe. Não é justo, não é correto.
Mas em relação ao ministro Walfrido?
O ministro Walfrido é um problema do governo, não é nosso. Não temos nada a ver com o que ele faz ou deixa de fazer. Nós não queremos é que ele faça cooptação de políticos aqui para votar no governo. Na época do ministro Tarso Genro, a conversa do governo com o Congresso se dava entre as forças políticas. Com o ministro Walfrido, agora, aparentemente a relação não é com os partidos, é com os políticos, os parlamentares. Nós não achamos isso um bom caminho. Não achamos isso um bom sinal.
É sinal de cooptação?
Pode ser e pode não ser. Eu acho que deveria ser uma discussão nos partidos e não nos parlamentares. Democracia é assim.
Fora essa participação no caso de Minas Gerais, o ministro vem sofrendo outras denúncias. O senhor não acha que o presidente tem sido até mais condescendente com ele do que foi com o ex-ministro José Dirceu, por exemplo?
Não, de jeito nenhum. Acho que o ministro Walfrido é uma pessoa que tem responsabilidade, um novo rico da política, não conhece isso direito. Mas ele não é uma pessoa com esse grau de comprometimento, não. De jeito nenhum. Zé Dirceu e Delúbio, esses caras abriram conta até lá fora para pagar conta do partido. Foi Duda Mendonça que disse isso. Não fomos nós que inventamos. O Duda Mendonça do Lula. O Duda Mendonça do PT. O que Zé Dirceu e esse pessoal fez no Brasil é algo que não foi feito, nem 10% disso na época do presidente Collor, por exemplo. Ninguém usou o ambiente público, o recurso público para estruturar o partido numa eleição como eles fizeram e continuam fazendo. Basta ver como qualquer eleição do PT é milionária. Na campanha passada, que eu estava muito perto, quem introduziu o crime foi o PT. Quem foi atrás de dossiê, pagou dinheiro contra José Serra e Geraldo Alckmin? Foi o PT ou fomos nós? Eles é que levaram o crime para campanha. Acho que o PT precisa ser refundado. Isso não quer dizer que não tenha gente decente no PT. Tem muita gente decente.
Com tantos nomes fortes para a sucessão presidencial, o principal adversário do PSDB hoje é o PSDB?
Não, o PSDB vai crescer agora, vai se consolidar, se estadualizar para uma eleição mais bonita. Uma eleição que, esperamos, seja mais democrática até porque não vai haver reeleição.
E o que o partido pretende nas eleições municipais do ano que vem?
Crescer nas áreas metropolitanas, manter a mesma posição no meio rural, em municípios que têm base no interior dos estados.
E o discurso do partido?
Para frente. Olhar para frente. Os fundamentos do governo Lula já estão mais do que claros: muita propaganda, despesa social grande, investimentos sociais que não produzem solução, mas que ajudam a população. Faltam obras, tem muita garganta e pouca realização e, do ponto de vista político, muita corrupção. Parcelamento do estado. Esse negócio que cinco deputados se juntam indicam um diretor de uma estatal para fazer o quê? Imagina. Isso não pode continuar. Nós vamos ter que acabar com isso. Com a vulgarização da atividade pública no Brasil que nunca tomou a escala que tomou agora neste governo, no atual mandato do presidente Lula.
O senhor vê piora no segundo mandato do presidente Lula?
Claro. Eu pensei que o presidente ia reformar seu governo. Ao invés de reformar, aumentou o número de ministérios, inventou ministro pro futuro para o passado. Eu não sei mais quantos são os ministros. Eu sei que tem uns dois ou três que trabalham e os outros que não fazem nada.
O PSDB vai retomar o discurso que tinha na sua origem, no final dos anos 80?
É. Eu acho que o PSDB é aquilo. É o partido da mudança no Brasil e da mudança responsável com equilíbrio. Esse negócio que tucano é complicado não faz mal. Nós temos democracia. Nós queremos discutir mesmo. Não é questão de estar em cima do muro. É questão de ter opinião. Para ter opinião, tem que ter discussão. Não pode ter conclusão antes da análise. Isso um partido moderno não vale. Nós somos assim.
Como o senhor acredita que o PSDB vai chegar nessa base social, considerando que os movimentos sociais mais à esquerda estão vinculados ao PT?
Dando exemplo. Nós temos que dar exemplo dos governos que fizemos e fazemos.
Qual seria o melhor exemplo?
Posso dar dois magníficos exemplos. O governo que Aécio Neves faz em Minas Gerais e o governo que José Serra faz em São Paulo. Posso falar também do governo do Beto Richa lá em Curitiba. Há dezenas de exemplos que, devidamente bem interpretados, podem dar o seguinte recado: o Brasil assim é melhor do que do jeito que está. E é assim que nós vamos fazer.
O senhor acha que o seu partido faz agora uma oposição mais branda do que no primeiro mandato do presidente Lula?
Não. Meu partido não é um partido de alienados. Nós não vivemos na lua. Vivemos no Brasil. Nós disputamos a eleição, perdemos. Nós temos que corrigir rumos. Temos que tomar novas formas de encaminhamento. Isso não quer dizer que a oposição esteja mais assim ou mais assada. A oposição está firme do mesmo jeito. A nossa oposição agora tem outro conteúdo. A gente não pode disputar a próxima eleição com o mesmo discurso que perdemos a última. Então nós temos que ter cabeça e entender que o Brasil quer solução para os seus problemas. Não adianta ficar xingando ninguém. Adianta ajudar a resolver os problemas. Apontar naquilo que o governo atual é incapaz de atuar de maneira consciente. Na construção de soluções verdadeiras para o povo. Não tenho nada contra o Bolsa Família. Eles disseram que nós iríamos acabar com o Bolsa Família. Nós nunca desejamos isso. Achamos que o Bolsa Família é muito importante, mas não queremos ser o país da Bolsa Família. Para nós do PSDB, não é importante que o governo aumente de dez para 12 e de 12 para 15 milhões o número de famílias que recebem o Bolsa Família. Isso não é vantagem. Nós queremos que o número diminua. Que a população dependa cada vez menos do Bolsa Família. É um viés contrário. Nós estamos afinando o nosso discurso, que não é radical, o PSDB nunca foi um partido radical, mas que é incisivo, coerente contra o governo. Tanto é que não há outro partido que dê mais voto contra o governo.
Fazendo uma autocrítica, no que o senhor acha que o PSDB errou no primeiro mandato do presidente Lula?
Eu acho que nós fomos prisioneiros de uma grande e nova concepção de política no Brasil. Lula usou instrumentos que nós não soubemos confrontar. Movimentação na base social, do povo, e de instituições que receberam dinheiro público. As ONGs da vida e muitas instituições, que ao invés de cumprirem o papel para o qual foram destinadas, transformaram-se em comitês eleitorais do presidente Lula. Além disso, fizeram a chantagem do Bolsa Família, dizendo que a gente ia acabar com ela. Usaram o tempo da televisão do presidente Lula de maneira completamente desequilibrada. Ou seja, o presidente aparecia como candidato e como presidente. A reeleição foi um elemento que só surgiu de maneira concreta nessa última eleição para presidente da República. Não havia tradição de se disputar com alguém reeleito e com a capacidade do PT de usar todos os instrumentos do governo em benefício dos objetivos deles. Enfim, nós tivemos uma disputa desequilibrada, mas quase ganhamos. No primeiro turno nós chegamos a ficar a dois ou três pontos do presidente Lula. Não é verdade que ele seja bloqueado, blindado, nada disso. Cometemos alguns erros que estamos corrigindo, mas estamos reparando nossos erros e temos qualidade para ganhar daqui a três anos com completa e absoluta chance de vitória.
O senhor falou dessa base social que o PT usou, segundo o senhor, para reeleição. Recentemente o Senado criou uma CPI para investigar para investigar ONGs que receberam dinheiro do governo. O senhor não acha que essa CPI está muito morna?
O governo e o PT estão travando essa CPI. Nós somos minoria e temos que arrancar no muque as nossas propostas aqui dentro. E essa vai direto na veia do PT, na veia do governo. Realmente, eles usam essas instituições, no mínimo, e não estou falando de corrupção. Mas para o uso eleitoral completamente ilegal, eu tenho certeza.
Mas a oposição não deveria ser mais incisiva como foi em outros momentos?
Ela será. Nós estamos aqui no Senado atropelados por essa questão da Mesa e do presidente Renan, mas estamos com fé em Deus que vamos sair disso rapidamente.
O governo tem sinalizado com a possibilidade de negociar para aprovar a CPMF aqui no Senado. A relatora, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), já disse que com ela não tem conversa. E esse também tem sido o discurso do Democratas. Em que termos o PSDB aceita a aprovação da CPMF?
Nos termos que, seguramente, o governo não aceitará: redução da carga tributária e da despesa pública, especialmente da despesa corrente e da gastança. Se o governo aceitar reduzir a gastança e a carga tributária de maneira que a população possa perceber que está pagando menos imposto, terá o apoio do PSDB. Eu acho que a senadora Kátia Abreu tem razão. Ela vai aos finalmentes quando diz que não terá negociação. Porque o que o governo até hoje falou de negociação, ou alguns do governo falaram, o presidente não falou, mas rigorosamente o que eles estão falando é uma coisa absolutamente ridícula. Reduzindo a CPMF em não sei quanto por cento, números infinitamente mínimos, até o ano de 2015. A gente não cai nessa. Isso não é conversa que se apresente.
Que garantias o governo poderia dar então?
Garantia do governo é difícil. Garantias eles têm que fazer aqui no Senado e no Congresso. Nós queremos resolver isso aqui. Mas o que vai haver, eu tenho quase certeza, é uma disputa aqui dentro. Os que querem acabar com a carga tributária, deixar a população trabalhar e produzir livremente, não permitir que o Brasil tenha 30, 40 ministérios, essa farra de cartões de crédito, cartões corporativos, um país mais limpo mais claro, vão votar para acabar com a CPMF. Quem tiver cooptado com o governo de forma consciente ou inconsciente vai tentar uma defesa de uma causa contra o povo. Essa história de que vai acabar o Bolsa Família, nada disso. Vai acabar é com o privilégio de muita gente.
Então a tendência é o PSDB fechar questão contra a CPMF?
A tendência é o PSDB fechar questão contra. Porque não há nenhum sinal do governo de que serão reduzidas a carga tributária e a gastança. Os sinais são no sentido trocado. Então nós não podemos entrar nessa.
E, fechando questão, o partido pode inclusive ameaçar de expulsão quem votar a favor da CPMF?
Não vai ter isso, não. Os 13 votos do PSDB estão fechados. Para onde a liderança do partido apontar, os 13 senadores do partido votarão. Eu tenho uma convicção totalmente clara dessa decisão do nosso conjunto de parlamentares.
E como a votação da CPMF entra na sucessão do presidente Renan Calheiros?
Esse é um problema lá da maioria. Ou melhor, da aliança do governo e da coligação dos partidos que apóiam o governo Lula. Acho que eles estão todos divididos. Eles seguraram o Renan. Muito. Inclusive na votação que se deu no Senado quando Renan ganhou. Ganhou com os votos do PT e os que o PT deu como abstenção. Que se somaram para considerar que o presidente Renan era inocente. Agora, eles não têm sucessores para resolver o problema. Sem Renan, o PMDB fica sem liderança. O PMDB depende muito da liderança de Renan. É por isso que tentaram segurar ele o tempo todo. Vão ter dificuldade de fazer harmonia nesse grupo que sustenta o governo. Uns de forma consciente, outros nem tanto, em troca de alguns favores que todo mundo está de olho e que, se forem feitos, nós vamos saber.
Tem-se falado no nome do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) para presidente da Casa. É um bom nome?
Acho que é um bom nome, mas é um problema da economia interna do PMDB.
O senhor acha que ele não emplaca? É isso?
Não posso dizer se vai ou não emplacar. Foi governador do Rio Grande do Norte, é um bom senador, um nome de respeito. Tem um bom trânsito com a gente, nós gostamos dele. Eu pessoalmente simpatizo com ele.
E o senador José Sarney, vetado pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio?
Também não tenho nada contra. Mas esse é um problema do PMDB. Sem Renan, o PMDB fica sem uma liderança mais sólida.
O senhor vê a possibilidade de a presidência do Senado ficar com o PT?
Não. Nem faz sentido ter PT na Câmara e PT no Senado. É PT demais. Nós estamos um pouco vacinados com esse negócio de PT. Nós e o povo cada vez mais.
O senhor vê alguma possibilidade de o presidente Renan voltar à presidência do Senado?
Acho muito difícil. Acho que, neste momento, ele trabalha para manter o mandato. Esse é meu sentimento, opinião pessoal.
Com a sua experiência, que desfecho o senhor antevê para o caso Renan?
Depende dos erros que ele venha a cometer ainda. Cometeu tantos e terminou tendo que pedir licença. Se cometer erros, não tenha dúvidas de que vai perder o mandato também.
Mas agora afastado da presidência, ele não teria chance de escapar?
Não posso dizer isso agora. É muito cedo, os fatos estão muito recentes e o quadro é de muita instabilidade.
O senhor sente uma mudança com a saída dele?
O Senado voltou a funcionar. Está votando, trabalhando. Está tendo luta política, mas está trabalhando. Chegou-se a um impasse ao longo do mandato de Renan Calheiros. Renan podia muito bem, num primeiro ou segundo momento, ter afirmado o seguinte: “Olha, vou me defender como qualquer senador”. Acho que ele teria colhido resultados muito melhores ao invés de continuar na presidência do Senado aumentando o confronto como aconteceu na semana passada e terminou de maneira dramática.
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