Atores e parlamentares se unem em manifesto. Foto:Geraldo Magela/Ag.Senado
O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) e os senadores José Nery (Psol-PA) e Eduardo Suplicy (PT-SP) foram os cicerones, nesta tarde, da visita dos atores Letícia Sabatella e Osmar Prado, da TV Globo, ao plenário do Senado. Mas não era simples visita: os atores contestam a transposição do Rio São Francisco e tentam sensibilizar as autoridades em relação à greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, de 59 anos, em protesto contra a transposição. Iniciada em 27 de novembro, a greve de fome já dura 23 dias.
Depois de serem recebidos pelos senadores em plenário, Chico Alencar, José Nery, Suplicy e os atores da Globo se dirigiram à presidência do Senado, onde foram rapidamente recebidos pelo presidente Garibaldi Alves (PMDB-RN). No caminho, a reportagem do Congresso em Foco abordou a atriz, perguntando-lhe qual seria a intenção da mobilização. “Estamos lutando pela democracia”, disse, acuada, Letícia Sabatella. Dom Cappio corre risco de morte? “Corre”, resumiu, resignada.
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Ao deixar a reunião na presidência, o deputado Chico Alencar falou com a reportagem. “Espero que tudo isso que eles têm feito aqui em Brasília, na sua peregrinação e na sua pregação, repercuta nacionalmente”, declarou. Depois, posou com uma faixa, segurada pelos atores e os demais parlamentares, com diversas assinaturas, onde se lia as palavras de ordem: “Dom Cappio, sua luta é nossa luta! Revitalização sim. Transposição não!”. Hoje (19), uma decisão do Supremo Tribunal Federal revogou a suspensão das obras de transposição no São Franscisco, contrariando a causa dos artistas e de movimentos sociais. (leia)
Do coração
No início deste mês, a atriz Letícia Sabatella foi até dom Cappio manifestar sua comiseração. Ajoelhada aos pés do bispo, derramou lágrimas. Ao Congresso em Foco, Letícia disse que seu choro foi inevitável. “Minhas lágrimas não foram premeditadas, elas brotaram do meu coração. Acho que o que vai ajudar mesmo é sensibilizar os corações de nossos governantes”, disse, com voz pausada e suave, a atriz.
“É uma questão que toca a essência de nosso povo, um povo que vive muito mais da fé do que do poderio econômico. Muitas conseguem encontrar as armas para essa luta acenando para essa fé, para essa força que resiste a tantas adversidades”, completou. “Dom Luiz Cappio é uma pessoa digna demais para ser tratada como está sendo tratada”.
A deputada Luciana Genro (Psol-RS) reforçou a mobilização dos atores. “Não queremos que a vida Dom Cappio seja colocada em risco, mas é o governo, com sua postura intransigente, que está optando pela radicalização”, disse, mantendo a postura de crítica do governo Lula.
“É muito importante a presença dos artistas aqui, essa mobilização que está sendo feita pelos movimentos populares, para que isso chame a atenção da opinião pública, para que isso fure o bloqueio imposto por setores da grande mídia, que querem ignorar a greve de fome e ignorar que existem que propostas alternativas às transposição, para, de verdade levar água para a população do Nordeste, e não apenas beneficiar os grandes empreendimentos econômicos”, protestou Luciana.
"A quem interessam essas obras?", questionou Osmar Prado.
Chantagem?
O ator Osmar Prado se irritou com a pergunta de um repórter que insinuou ser chantagem emocional o ato do bispo. "O senhor acha que Mahatma Gandhi fez chantagem emocional e fez greve de fome à toa, colocando o Império Britânico de joelhos?", vociferou, com voz grave e olhar firme, referindo-se a um dos fundadores do estado moderno indiano.
A sessão não deliberativa do início desta tarde, que contava com a presença de poucos senadores, era presidida pelo petista Magno Malta (ES), que interrompeu as discussões para receber os atores à Mesa, quebrando o protocolo e o regimento da Casa. Além dos atores, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra também compareceram ao Senado em apoio à causa do bispo baiano. (Fábio Góis)
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