Uma articulação da cúpula do PMDB pode garantir que o PT alcance sem obstáculos a presidência do Senado no próximo mês de fevereiro. De olho no apoio da bancada petista na Câmara para a candidatura do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), à cadeira mais importante daquela Casa, os senadores peemedebistas José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL) têm dado, nos bastidores, apoio ao candidato petista Tião Viana (AC).
Pelo menos é o que garantiu ao Congresso em Foco o senador Tião Viana nesta quinta-feira (16). “O PMDB tem demonstrado total carinho à minha candidatura. Ontem conversei novamente com o presidente Sarney e ele reiterou o apoio. O senador Renan também tem se mostrado favorável”, afirmou.
A conversa com Sarney ocorreu no mesmo dia em que a líder do PT no Senado, Ideli Salvati (SC), deu início formal a conversas com líderes do Bloco de Apoio ao Governo para buscar adesão à candidatura do senador petista. Segundo ela, os líderes do PSB, Renato Casagrande (ES), do PR, João Ribeiro (TO), do PCdoB, Inácio Arruda (CE), e do PP, Francisco Dornelles (RJ), já indicaram apoio. “As conversas têm sido positivas. Está tudo sendo preparado para a presidência do Tião Viana”, garantiu Ideli.
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Nos holofotes, entretanto, os caciques peemedebistas não admitem oficialmente apoio ao senador petista. O líder do partido no Senado, Valdir Raupp (RO), desconversa sobre qualquer articulação da cúpula do PMDB em apoio a Viana e diz que o partido ainda precisa se reunir. “O PMDB ainda não tem uma posição oficial. Ainda não é o momento para definir isso”, diz.
Admitindo simpatia a Tião Viana e revelando um possível racha no partido, o senador Gérson Camata (PMDB-ES) diz que nada tem sido conversado. “Até agora não houve nada, nem ninguém conversando com ninguém do partido. Como, aliás, sempre acontece. A cúpula faz e os ‘bobos’ vão atrás”, criticou.
Acordo
Raupp admite que o mais importante para o partido é emplacar a candidatura de Temer. Na Câmara, o apoio a Temer tem sido costurado com base em um acordo feito pelo PT e PMDB há dois anos, em que o presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP) seria sucedido por um peemedebista e, em troca, o presidente do Senado, à época Renan Calheiros, teria como sucessor um petista.
“O que posso dizer é que a nossa prioridade é do Temer na Câmara. Lá, os deputados já têm o compromisso de eleger o PMDB, já que há dois anos abrimos mão da presidência para o PT. Mas aqui no Senado, esse acordo não se aplica. Aqui é outro entendimento, outra conversa”, ressalta Raupp.
Mas o cumprimento do acordo tem sido cobrado pelos parlamentares petistas tanto na Câmara quanto no Senado. Ao Congresso em Foco, na semana passada, o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), disse que o partido apóia Temer desde que haja “reciprocidade” no Senado. “A inclinação da bancada do PT é apoiar Temer, lembrando a reciprocidade de apoiar Tião Viana. Espero que não venham com surpresa no Senado”, declarou.
A líder Ideli também aposta no acordo de alternância das duas Casas. “Temos o acordo que foi feito na Câmara. E toda essa construção tem que ser feita de comum acordo”, relembrou. “Não discutimos a importância do PMDB no Senado. Mas o PT na Câmara tem seu peso”, desafiou.
Candidato próprio
Enquanto a cúpula do PMDB no Senado articula nos bastidores apoio a Tião Viana, parte da maior bancada da Casa desafia e aposta em uma candidatura própria. Sem oficializar nomes – mas com possíveis candidaturas como a do ministro das Comunicações, Hélio Costa –, alguns senadores peemedebistas dizem que o partido não vai abrir mão da presidência da Casa.
“O PMDB vai lançar seu candidato. Pela consulta que tenho feito a colegas, não vejo ninguém dizer que vai abrir mão de participar dessas eleições. Esperamos que o PT reveja a sua posição e apóie o PMDB. O partido espera que o PT respeite o critério tradicional de a maior bancada eleger o presidente da Casa. Aqui não tem nenhum acordo”, disse o vice-líder do PMDB, senador Valter Pereira (MS).
Na avaliação da líder do PT, as declarações de lançar candidatura própria do PMDB são legítimas, mas o que está por trás é a articulação para as demais cadeiras da Mesa Diretora do Senado. “Junto com a presidência vai ter todo um processo de composição da Mesa. Nessas horas, todo mundo coloca dificuldade. Eu entendo isso mais como uma forma de colocar na mesa as poucas cadeiras a serem ocupadas, do que uma disputa pela presidência”, concluiu Ideli. (Renata Camargo)
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