Arrolado como testemunha de defesa do ex-presidente Lula, o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) prestou depoimento nesta segunda-feira (11) ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato em Curitiba (PR), e falou por cerca de meia hora ao magistrado (veja a íntegra abaixo, em vídeo). O tucano falou sobre reformas de um sítio em Atibaia, interior de São Paulo, que teriam sido feitas a título de propina ao petista para que ele beneficiasse empreiteiras na Petrobras.
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Ao ser perguntado sobre se já teve imóvel reformado por empresas que lhe contrataram para palestras, FHC disse que isso jamais ocorreu. Mas, quando mencionou as relações entre o poder presidencial e autarquias e estatais, declarou que presidentes não têm como saber de tudo o que se passa em sua gestão, principal linha de defesa de Lula.
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“Há várias instâncias de responsabilidade. O presidente é responsável por quem ele nomeou. Depois, lá dentro, não tem nem tempo de saber. Mas no Brasil as pessoas pensam que o presidente sabe tudo e pode tudo. Tomara”, declarou o tucano, acrescentando ser natural que presidentes se reúnam com empresários para falar sobre temas de “interesse público” e que, nesse sentido, já recebeu nomes como Emílio Odebrecht em seu gabinete.
Veja a íntegra do depoimento no vídeo:
No ponto sobre reformas pagas por empreiteiras, o ex-presidente aproveitou para fazer piada de sua própria situação. “Nunca, jamais, nada disso. Nem por fora, nem participar em qualquer momento de reforma. Na verdade, não tem muita coisa que reformar, só minha cabeça mesmo”, brincou FHC.
Nesse instante da arguição, houve mais um bate-boca entre o advogado de Lula, Cristiano Zanin, e Moro, que chegou pedir desculpas pela pergunta ao tucano. A defesa protestou quando o juiz disse que sua indagação foi motivada por uma colocação dos próprios advogados. Zanin pediu a palavra para desmentir o juiz. “Só para repor a propriedade, excelência, a defesa não fez qualquer tipo de afirmação de reforma ou valores por fora. Não é uma solicitação da defesa”, disse.
Sérgio Moro replicou e falou em contexto: “Não estou dizendo que a defesa afirmou isso. Estou dizendo que tem um contexto, então vamos perguntar isso nesse contexto”. Cristiano Zanin insistiu em deixar claro a posição da defesa, enquanto FHC parecia se divertir com o embate verbal. “Não, eu não coloquei dessa forma.”
Atibaia
O depoimento de FHC foi por meio de videoconferência realizada na sede da Justiça Federal em São Paulo. Lula é réu em ação penal que investiga se ele recebeu propina da Odebrecht, da OAS e do grupo Schahin, por meio de seu amigo e pecuarista José Carlos Bumlai, na forma de obras de melhoria no sítio de Atibaia. Segundo a acusação, o petista recebeu R$ 1 milhão na negociata.
Já condenado e cumprindo pela de 12 anos de prisão desde 7 de abril, no caso referente a um tríplex no Guarujá (SP), Lula é réu em outras seis ações penais. Líder em todas as pesquisas de intenção de voto, o petista teve pré-candidatura lançada na última sexta-feira (8) pelo Partido dos Trabalhadores, mas pode ser barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por imposição da Lei da Ficha Limpa, que torna inelegível quem for condenado em órgão colegiado, como é o seu caso.
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