As discussões em curso neste momento no plenário do Senado sobre a PEC 89/07, que prorroga por mais quatro anos a cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), tiveram momentos de nervosismo e troca de provocações na sessão de hoje (28). Na segunda sessão para apreciar a matéria depois da aprovação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), oposição e governo confrontaram argumentos de forma acalorada, mas com a descontração que tem marcado algumas deliberações.
O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) discursava na tribuna, com elogios à administração “competente e sortuda” do presidente Lula. “É difícil falar mal do ‘homem’, porque ele administra bem. Se vocês [oposição] entrarem lá, vai sair gás ou água”, disse Wellington, referindo-se à suposta sorte de Lula pela nova fonte de petróleo descoberta neste governo, há cerca de um mês, na Bacia de Campos (litoral do Espírito Santos).
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Por vezes, Wellington recebia apartes irônicos de colegas como Heráclito Fortes (DEM-PI) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA), quando disse que a discussão da CPMF o faria “perder os cabelos e ficar igual ao senador Flexa Ribeiro”, que é careca. Mencionado, Flexa citou o artigo 14 do regimento e pediu a palavra.
“Gostaria de saber do senador Wellington Salgado o que ele tem contra os deficientes capilares”, disse, para a descontração geral – à exceção de Wellington. “Nós não temos a sorte que ele tem de ter uma vasta cabeleira. Aliás, não sei quem copia quem, se a senadora Ideli [Salvatti, PT-SC] o copia, ou se ele copia a senadora Ideli. De costas, a gente confunde”, ironizou Flexa, referindo-se às supostas semelhanças “capilares” entre Wellington e a senadora.
Wellington não gostou da comparação. “Pensei que estivéssemos falando de coisa séria. Estamos aqui discutindo CPMF. E o ‘C’ não é de capilar”, rebateu, dirigindo-se à Flexa Ribeiro.
Veemência
Responsável por um dos pronunciamentos “veementes” do dia, o governista Aloizio Mercadante (PT-SP) subiu à tribuna para defender a prorrogação da cobrança da CPMF. “Se nós [governo] precisamos olhar para trás e reconhecer o que foi feito, a oposição precisa reconhecer o que está sendo feito agora e o futuro que nós temos pela frente como nação”, alfinetou. "Falta médico, faltam cirurgias, falta hospital, e isso depende de recursos da CPMF. São 12 milhões de pessoas hoje internadas", argumentou, quase aos gritos, o senador petista.
"O que vai ficar deste plenário na história é o que nós registrarmos no painel de responsabilidade pública", disse Mercadante, com referência à votação da PEC no Senado. "Estamos num bom momento para preservar, para defender o povo, o emprego, os que menos têm. E somos nós, que fomos eleitos, que temos esta responsabilidade", concluiu.
O posicionamento de Mercadante é contrário ao do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), um dos principais artífices da força-tarefa da oposição para derrubar a PEC da CPMF na Casa. Como vem recitando em público em diversos momentos, ele alega que o governo Lula gasta demais. “Os gastos existem, e o governo é perdulário. Existem sinais gravíssimos de que a farra fiscal tende a se agravar. Por que o governo não apresenta à nação um programa drástico de corte de despesas?”, desafiou o tucano, para quem o governo tem perdido terreno na tentativa de aprovar a matéria.
“O debate tem se encaminhado da pior forma, com essa postura do governo, dizendo que da CPMF depende o ar que respira o povo brasileiro”, concluiu.
Segundo o senador Renato Casagrande (PSD-ES), que deixou a sessão antes do hilário episódio, a matéria deve ser votada em plenário nos dias 11 e 12 de dezembro (leia). Com mais três sessões deliberativas obrigatórias antes de ir à votação (o regimento interno do Senado determina cinco sessões nesse caso), a PEC já poderia ser votada na próxima semana. A depender da sugestão do presidente interino da Casa, Tião Viana (PT-AC), de realizar sessões deliberativas às segundas e sextas-feiras (leia), isso seria possível. Mas a oposição promete continuar atrasando os trabalhos. (Fábio Góis)
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