“Em momentos como este, devemos nos lembrar que posições políticas diferentes, desde que respeitados valores democráticos, contribuem para enriquecer nossa história”, escreveu Temer (veja a íntegra da nota abaixo).
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Substituída por Temer em 31 de abril, quando sofreu impeachment, a ex-presidente Dilma Rousseff não escondeu sua admiração pelo líder revolucionário – para muitos, um ditador que atentava contra a liberdade, perseguia e executava adversários e alienava parte do povo cubano. Mas, para a petista, trata-se de “um ícone para milhões de jovens em todo o mundo”.
“Fidel foi um dos mais importantes políticos contemporâneos e um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte. Um homem que soube unir ação e pensamento, mobilizando forças populares contra a exploração de seu povo”, registrou Dilma, dedicando a Fidel versos do dramaturgo e poeta alemão Bertold Brecht (veja nota abaixo).
A repercussão mundial é multifacetada e varia de acordo com os países. Em Miami, dissidentes cubanos que formam uma grande comunidade no país norte-americano saíram às ruas para comemorar a morte de Fidel. Em Cuba, por óbvio, diversas homenagens estão em curso, e culminarão com a cremação do corpo do líder nacional.
O ex-presidente Lula, que esteve com Fidel algumas vezes e voltaria a visitá-lo em dezembro, também elogiou o ex-chefe da nação cubana. Dizendo ter conhecido Fidel em 1980, o cacique petista repetiu a saudação usada por Dilma e declarou: “Sinto sua morte como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei” (leia nota abaixo).
Por sua vez, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez menção à recente eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos ao lembrar que “as nuvens carregadas de Trump não serão presenciadas por Fidel”. Em postagem no Facebook, FHC registrou que Fidel teve êxito no campo social, mas pecou em relação à democracia. “Há que se dizer que, se Cuba conseguiu ampliar a inclusão social,não teve o mesmo sucesso para assegurar a tolerância política e as liberdades democráticas”, disse o tucano (nota abaixo).
ProfundezasA propósito da escolha do próprio Fidel sobre seu corpo, aqui no Brasil houve quem comemorasse a morte do cubano. Se Temer e Dilma mantiveram o comedimento para comentar a passagem, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) disse que o processo para cremar o cadáver nem precisa ser realizado, uma vez que Fidel “já está ardendo nas profundezas do inferno”.
“Fidel Castro, um grande exterminador de liberdades e promotor da miséria do mundo todo, certamente terá ao lado de ídolos do PT, PCdoB e Psol uma estadia eterna nas profundezas do inferno”, acrescentou o deputado, réu no Supremo Tribunal Federal por apologia ao crime de estupro.
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Em vídeo, Bolsonaro comenta morte de Fidel: “Cremar por que, se já está ardendo no inferno”?
Leia a nota de Temer:
“Em nome do Congresso Nacional, lamento a morte de Fidel Castro que, a despeito de suas convicções e ideologias políticas, foi um homem que marcou a história mundial. Em momentos como este, devemos nos lembrar que posições políticas diferentes, desde que respeitados valores democráticos, contribuem para enriquecer nossa história.”
A nota de Dilma:
“Sonhadores e militantes progressistas, todos que lutamos por justiça social e por um mundo menos desigual, acordamos tristes neste sábado, 26 de novembro. A morte do comandante Fidel Castro, líder da revolução cubana e uma das mais influentes expressões políticas do século 20, é motivo de luto e dor.
Fidel foi um dos mais importantes políticos contemporâneos e um visionário que acreditou na construção de uma sociedade fraterna e justa, sem fome nem exploração, numa América Latina unida e forte.
Um homem que soube unir ação e pensamento, mobilizando forças populares contra a exploração de seu povo. Foi também um ícone para milhões de jovens em todo o mundo.
Meus mais profundos sentimentos à família Castro, aos filhos e netos de Fidel, ao seu irmão Raul e ao povo cubano. Minha solidariedade e carinho neste momento de dor e despedida.
‘Hay hombres que luchan un dia y son buenos;
Hay otros que luchan un año y son mejores;
Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos;
Pero hay los que luchan toda la vida,
Esos son los imprescindibles’
(Bertold Brecht)
Hasta siempre, Fidel!
Dilma Rousseff”
A nota de Lula:
“Morreu ontem o maior de todos os latino-americanos, o comandante em chefe da revolução cubana, meu amigo e companheiro Fidel Castro Ruiz.
Para os povos de nosso continente e os trabalhadores dos países mais pobres, especialmente para os homens e mulheres de minha geração, Fidel foi sempre uma voz de luta e esperança.
Seu espírito combativo e solidário animou sonhos de liberdade, soberania e igualdade. Nos piores momentos, quando ditaduras dominavam as principais nações de nossa região, a bravura de Fidel Castro e o exemplo da revolução cubana inspiravam os que resistiam à tirania.
Eu o conheci pessoalmente em julho de 1980, em Manágua, durante as comemorações do primeiro aniversário da revolução sandinista. Mantivemos, desde então, um relacionamento afetuoso e intenso, baseado na busca de caminhos para a emancipação de nossos povos.
Sinto sua morte como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei.
Será eterno seu legado de dignidade e compromisso por um mundo mais justo.
Hasta siempre, comandante, amigo e companheiro Fidel Castro.
Luiz Inácio Lula da Silva
São Paulo, 26 de novembro de 2016”
A nota de Fernando Henrique Cardoso:
“A morte de Fidel faz recordar, especialmente à minha geração, o papel que ele e a revolução cubana tiveram na difusão do sentimento latino-americano e na importância para os países da região de se sentirem capazes de afirmar seus interesses.
A luta simbolizada por Fidel dos ‘pequenos’ contra os poderosos teve uma função dinamizadora na vida política no Continente.
O governo brasileiro se opôs a todas as medidas de cerceamento econômico da Ilha e, desde o governo Sarney até hoje as relações econômicas e políticas entre o Brasil e Cuba fluíram com normalidade.
Estive varias vezes com Fidel, no Brasil, no Chile, em Portugal, na Argentina, em Costa Rica e etc. O Fidel que eu conheci, dos anos noventa em diante, era um homem pessoalmente gentil, convicto de suas ideias, curioso e bom interlocutor.
Os tempos são outros hoje. Do desprezo altaneiro aos Estados Unidos, Cuba passou a sentir que com Obama poderia romper seu isolamento. As nuvens carregadas de Trump não serão presenciadas por Fidel. Sua morte, marca o fim de um ciclo, no qual, há que se dizer que, se Cuba conseguiu ampliar a inclusão social,não teve o mesmo sucesso para assegurar a tolerância política e as liberdades democráticas.
Junto com meu pesar ao povo cubano pela morte de seu líder, quero expressar meus votos para que a transição pela qual a Ilha passa permita que a prosperidade aumente, mas que se preserve, num ambiente de liberdade, o sentimento de igualdade que ampliou acesso à educação e à saúde.”
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