O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), criticou ontem as negociações conduzidas pelo presidente Lula para aumentar a participação do PMDB no governo federal. Temer disse que as conversas do governo com o partido caminham em um passo "equivocado". O deputado disse que não descarta um novo "racha" no partido ao final do processo de composição do novo governo.
De acordo com Temer, interlocutores de Lula substituíram as negociações institucionais com o PMDB por conversas "individuais" com peemedebistas alinhados a Lula. "Estão abandonando as negociações institucionais, que estão sendo pessoais. Isso repete os erros do passado. A seguir nesse ritmo, não haverá unidade no PMDB. Esse gestual político acaba levando para a divisão do PMDB", declarou o peemedebista.
O deputado afirmou que terá "posição de independência absoluta" em relação ao governo. "Me declaro em posição de independência absoluta ao não ver o PMDB institucionalmente convocado para o diálogo. O problema não é com o deputado fulano de tal, mas com a instituição PMDB", disse.
Em relação à "coalizão política" proposta por Lula na composição de forças para o seu segundo governo, Temer criticou a mudança no rumo proposto inicialmente pelo presidente. "Eu não estou reclamando do presidente, mas as coisas estão tomando um rumo que me parece inadequado. Qual é o significado de coalizão? É política, com partidos partícipes do governo e co-responsáveis por ele", afirmou.
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Temer, no entanto, deixou espaço aberto para um diálogo com o governo federal, caso o presidente retome as conversas institucionalmente. "Posso até fazer parte de uma trincheira, mas não posso ser ditador do partido. Eu não me insurgiria contra uma decisão partidária", disse.
PMDB quer presidência da Câmara e do Senado
O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), sinalizou ontem que o partido está disposto a reivindicar a presidência da Câmara e do Senado na próxima legislatura, apesar das críticas de aliados sobre o controle da legenda nas duas Casas.
"O PMDB deve reivindicar a presidência da Câmara. A tradição é essa, é o critério da proporcionalidade. Se no Senado e na Câmara temos maioria, isso é até uma imposição constitucional", afirmou Temer.
O deputado afirmou que os parlamentares podem até colocar em risco as instituições do país se não seguirem a tradição do Congresso na próxima legislatura. "O que tem acontecido no país é fugir das instituições. E quando há esse desrespeito, acontece o que tem acontecido", declarou.
Mesmo defendendo o controle do PMDB na Câmara e no Senado, Temer disse que "ainda não é o momento" de se discutir a sucessão do comando legislativo. No entanto, admitiu que na coalizão política defendida pelo presidente Lula, o PMDB poderá ocupar naturalmente a presidência da Câmara. "Talvez à coalizão importe que o PMDB ocupe a presidência da Câmara", disse Temer.
Governadores do PMDB discutem apoio a Lula na sexta
Os sete governadores eleitos pelo PMDB se reunirão na próxima sexta-feira, 17, em Florianópolis. O apoio ao governo Lula será o principal tema do encontro, que terá como anfitrião o governador reeleito de Santa Catarina, o peemedebista Luiz Henrique, que apoiou Alckmin nas eleições presidenciais.
Mas o Palácio do Planalto quer deixar de lado as mágoas da campanha eleitoral. Não fosse assim, nem mesmo dois tradicionais aliados no partido, ambos reeleitos, seriam poupados. O governador Roberto Requião (PR) hesitou em se engajar na campanha de Lula no segundo turno por temer que isso prejudicasse sua vitória, afinal obtida com uma diferença de apenas 10 mil votos.
Paulo Hartung, governador do Espírito Santo, estado beneficiado com mais de R$ 6 bilhões em recursos federais (incluindo os investimentos de estatais) durante os primeiros três anos do governo Lula, simplesmente sumiu do mapa no segundo turno. Foi para o exterior, deixando o caminho livre para o seu vice, Ricardo Ferraço (PSDB), operar a candidatura de Geraldo Alckmin.
Agora, no entanto, tanto Requião quanto Hartung defendem o apoio em bloco do PMDB ao governo Lula. Dos outros quatro governadores eleitos pelo partido, Sérgio Cabral (RJ) e Eduardo Braga (AM) são hoje os mais próximos do Planalto, do qual também é próximo Marcelo Miranda, reeleito governador de Tocantins.
O sul-matogrossense André Puccinelli, que nas eleições apoiou Alckmin, também já emitiu sinais favoráveis à composição com o governo petista. Tudo, claro, em nome da "governabilidade".
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