Fábio Góis
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) subiu agora há pouco à tribuna do plenário para rebater a repercussão na imprensa sobre o discurso, feito ontem (quarta, 6), em que ele admite ter repassado à jornalista Mônica Dallari, sua namorada desde 2003, passagens aéreas de sua cota mensal no Senado, inclusive para voos internacionais. Suplicy comunicou que já devolveu os valores gastos com as passagens.
“Eu sei que, do ponto de vista moral e do ponto de vista ético, avaliei que deveria ressarcir por aqueles recursos, por algo que poderia deixar as coisas como estavam”, disse, referindo-se à suposta falta de normas relativas às cotas de passagens, antes de a polêmica ser instalada na Casa, que restringiu o uso das cotas. “Mas resolvi fazer [a devolução], por uma questão de consciência pessoal.”
Em tom emocionado, Suplicy voltou a reconhecer que errou de forma a ferir “a ética e a moral”, mas frisou que tentará corrigir a “falha”. No entanto, o petista diz que pequenos deslizes não devem ser postos “na mesma vala” em que estão irregularidades mais graves, como a comercialização das cotas (apropriação indébita de recursos públicos).
“É preciso se ponderar o que foi realizado”, discursou, acrescentando que continuará indo ao Congresso “de cabeça erguida”, e corrigirá eventuais falhas.
Foi quando, dirigindo-se ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Suplicy quis saber se alguns jornalistas conhecidos, que comentaram sua mea culpa ontem (6), nunca haviam incorrido em falhas no transcorrer da vida.
“Senhor presidente, eu quero dizer ao caro Boris Casoy: será que nunca terá cometido qualquer falha na vida, uma infração, nunca ultrapassou a velocidade, nunca deixou de colocar o pisca-pisca na hora certa?”, bradou o petista, referindo-se ao âncora da TV Bandeirantes. “Quero trasmitir, com muito respeito e amizade ao Boris Casoy, e às meninas do Jô [Soares, da TV Globo, que realiza programa, às quartas, com jornalistas de renome como Lilian Wite Fibe e Cristiana Lobo], e às centenas de cartas, aos jornais, que sejam suas palavras alertas para quem queira aqui agir com correção, com ética.”
Defesa tucana
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), saiu em defesa de Suplicy, declarando se tratar de “homem de bem”. Mas o senador amazonense achou equivocada a atitude de Suplicy de devolver aos cofres públicos os gastos com viagens com a namorada, uma vez que isso significaria assumir culpa por algo não proibido até então.
“Isso não ajuda”, resumiu, mencionando outro parlamentar do chamado “grupo ético”, Fernando Gabeira (PV-RJ), que também admitiu o uso indevido da cota de passagens – e, segundo Virgílio, faz autocrítica exacerbada.
“Qualquer hora ele se mata, ele toca fogo nele mesmo de tanto se auto-julgar [sic]”, disse o tucano, que mudou de assunto ao condenar o que ele considera de fato merecedor de atenção e repúdio da imprensa, com consequentes medidas punitivas – o escândalo instalado na cúpula administrativa do Senado, que envolve os ex-diretores João Carlos Zoghbi (Recursos Humanos) e Agaciel Maia (Diretoria-Geral).
Senado: em depoimento, casal Zoghbi desmente as próprias acusações
De maneira exaltada, Virgílio considerou “uma farsa” o depoimento de Zoghbi à Polícia Legislativa do Senado, ontem à noite. “Foi ou não foi uma fraude o depoimento de ontem?”, perguntou o senador, dizendo que Zoghbi e sua esposa, Denise Zoghbi, “resolveram falar besteira juntos para os jornalistas”. “O que aconteceu? Eles usaram LSD?”
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