Às vésperas da reunião entre o presidente Lula e o senador José Sarney (PMDB-AP), está cada vez mais considerada a candidatura do cacique peemedebista para a presidência do Senado. De acordo com o líder do PMDB na Casa, Valdir Raupp (RO), há um “apelo muito forte” para que Sarney aceite concorrer ao posto, tanto por parte de membros da bancada quanto por setores da oposição – fato que surpreende, uma vez que os oposicionistas condenam a postura de alinhamento de Sarney aos interesses do Planalto.
“Ele [Sarney] está sendo muito pressionado por parte da bancada, e inclusive por senadores da oposição. Não cem por cento, mas a maioria. Existe um apelo muito forte”, disse Raupp ao Congresso em Foco, adiantando que a próxima semana será decisiva para que o PMDB defina a situação do candidato próprio. Para o líder peemedebista, seriam "variáveis" determinantes uma eventual aceitação de Sarney e o caráter juridicamente contestável da candidatura de Garibaldi (o regimento do Senado veta a reeleição do presidente da Casa na mesma legislatura) – o que este garante não existir.
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O impasse do partido está no fato de que, em 17 de dezembro, o PMDB se reuniu e anunciou oficialmente Garibaldi para a própria sucessão – o senador potiguar vem reiterando quase que diariamente sua disposição em permanecer na briga. Ontem, Garibaldi e o candidato petista Tião Viana (AC), os dois nomes oficialmente lançados até momento, garantiram que não desistirão do pleito e serão candidatos “até o fim do processo eleitoral”. (leia)
Raupp admitiu que a candidatura de Sarney ainda “pode vir a acontecer”, mas que esta depende única e exclusivamente dele – que ainda não deu sinais de que aceita concorrer à presidência do Senado. Nos bastidores, Sarney tem dito que só aceita o disputa se for aclamado pelo partido – a maior bancada tanto no Senado (20 representantes) quanto na Câmara (90).
É aí que surge o problema: dois dos principais quadros da legenda – os fundadores peemedebistas Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE) – são irrevogavelmente contra a candidatura de Sarney e condenam a identificação do ex-presidente da República com os interesses do governo Lula. Ou seja, não há unanimidade dentro do PMDB a favor de Sarney.
O senador rondoniense diz que ainda é cedo para especular sobre a nova composição da Mesa Diretora, mas admitiu que ocupar o cargo de presidente da Casa implica tomar a frente de negociações sobre os postos a serem preenchidos no próprio colegiado ou no comando das comissões temáticas. “Isso é normal, mas não tem nada definido”, ressalvou. “Essa composição na Mesa e na presidência das comissões só é decidida na hora de formar as chapas.”
Silêncio
À reportagem, o senador Renan Calheiros (AL), próximo líder do PMDB e ex-presidente do Senado (Garibaldi ocupou a vaga deixada por ele, que renunciou em meio à iminência de cassação do mandato), declarou que o momento não é adequado para declarações sobre a definição do partido. “Não é bom dar entrevistas agora”, disse o parlamentar alagoano, admitindo que parte do partido “trabalha” a indicação de Sarney.
Outro que evita falar sobre a sucessão na presidência e as articulações no partido é o próprio pivô da indefinição, José Sarney. Há cerca de um mês, Sarney saiu da reunião que definiu a indicação de Garibaldi dizendo que apenas mantivera o posicionamento em rejeitar a candidatura. E, de lá para cá, não foi dada por ele uma só declaração em contrário. Convalescendo de um resfriado – condição que tem adiado o encontro entre ele e Lula, que já deveria ter ocorrido na segunda-feira (12) –, Sarney não tem dado entrevistas, como confirmou à reportagem a sua assessoria de imprensa.
Uma fonte ouvida pela reportagem disse considerar que Sarney é o mais forte “candidato não-anunciado” do processo sucessório, e que Tião Viana teria poucas chances de vitória diante da "conveniência" do oponente – causa ou conseqüência do apoio quase nulo do Palácio do Planalto a um senador do mesmo partido do presidente Lula. “A candidatura de Tião Viana não se consolidou. A candidatura de Sarney reúne as melhores condições tanto para a Casa quanto para o Planalto.” (Fábio Góis)
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