O ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou há pouco a delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, operador do PMDB em esquemas de corrupção. Temida pelo governo, a colaboração judicial de Funaro, que compunha o grupo do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara – e, como o cacique peemedebista, está preso há meses –, fortalece a tese de obstrução de Justiça em consideração na iminente segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer. Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Temer avalizou a compra do silêncio tanto de Funaro quanto de Cunha.
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Acusado de participar de desvios do Fundo de Investimentos do FGTS, da Caixa Econômica Federal, em parceria com Cunha, Funaro confessou crimes, descreveu o envolvimento de parlamentares nas negociatas e entregou provas “fortes” de movimentação ilegal de dinheiro. A assinatura da homologação foi veiculada em primeira mão pelo repórter Gabriel Mascarenhas, da coluna Radar (revista Veja).
As informações prestadas por Funaro devem se somar às delações e gravações de Joesley Batista e outros executivos da J&F na peça de acusação contra o presidente. O peemedebista é alvo de inquérito no Supremo que apura o envolvimento dele, do ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures, entre outros, em crimes como corrupção, obstrução à Justiça e organização criminosa. O procurador-geral da República suspeita que Temer usava Rocha Loures para executar negócios escusos, receber propina da JBS e atrapalhar a Lava Jato já no exercício do mandato.
Segundo as investigações, Funaro fez revelações consistentes e reveladoras que reforçam as acusações de Joesley contra o presidente. Foi com base em depoimentos dele que a Polícia Federal prendeu o ex-ministro Geddel Vieira Lima por obstrução à Justiça. Um dos peemedebistas mais próximos de Temer, Geddel é acusado de sondar a mulher do doleiro sobre a intenção dele de fazer delação premiada – hoje (terça, 5), a Polícia Federal encontrou 15 malas recheadas de dinheiro em endereço atribuído ao ex-ministro. De acordo com a revista Veja, Funaro contou que recebeu dinheiro da JBS, a mando de Temer, em troca de seu silêncio.
Janot tem somente até o dia 17 de setembro para apresentar a segunda denúncia contra Temer. Nessa data, ele transmitirá o cargo à nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Ontem (segunda, 4), depois de anunciar a revisão dos termos da delação do Grupo JBS, o procurador-geral disse ter detectado indícios de quebra de acordo e da participação de ministros do STF no caso.
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