Fábio Góis
Em sua primeira visita ao Brasil, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, será recebido com protesto também no Congresso, depois das manifestações já registradas ontem (22) em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Ao menos dois simbólicos manifestantes já estão de prontidão na entrada do Salão Negro da Casa – por onde são recebidos, com direito a tapete vermelho, chefes de Estado: o deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), seguidor do sionismo (ideologia judaica), e um sobrevivente do holocausto, o polonês Ben Abraham.
“É muito lamentável. Isso demonstra que interesses econômicos estão acima da moral. Uma coisa que foge de meu entendimento, da minha imaginação, é que um presidente democrático como Lula receba esse homem aqui”, disse Ben ao Congresso em Foco, em uma cadeira de rodas conduzida por sua esposa.
Presidente da Associação Brasileira de Sobreviventes do Nazismo (e vice do braço internacional da entidade), Ben disse que já passou por campos de concentração como o de Auschwitz, localizado ao sul da Polônia, antes de chegar ao Brasil, em 21 de janeiro de 1955.
Ele diz estar “desiludido” com o presidente Lula. “Ele sempre mostrou suas ascendências e suas posturas democráticas, e agora vai receber um homem que desmente todas essas atrocidades, sendo que até hoje existem sobreviventes do nazismo, como eu”, disse o polonês.
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Entre outras declarações polêmicas – contra homossexuais e evangélicos, por exemplo –, Ahmadinejad negou por mais de uma vez a existência do holocausto, quando milhões de judeus morreram devido à ação do regime anti-semita instalado pelo nazismo alemão. A mais recente foi em discurso antes de seu sermão semanal de 18 de setembro, quando disse que “o regime sionista é um símbolo de mentiras e decepção, que se baseia em atitudes colonialistas”.
“Vim demonstrar o repúdio não somente da comunidade judaica, mas também das outras comunidades e outras associações e outras religiões, como a evangélica, bem como os homossexuais”, emendou Ben, dizendo-se porta-voz de uma “revolta” contra a visita do líder iraniano. “É a única maneira [de protesto] que nós podemos fazer, nós não somos violentos, nossas manifestações transcorreram pacificamente, mas demonstramos a nossa revolta.”
Punição
Autor de um projeto de lei que pune quem negar a existência de crimes contra a humanidade, entre eles o holocausto e a escravidão, Marcelo Itagiba também criticou a visita de Ahmadinejad.
“É desnecessária, uma péssima companhia para o Brasil. Pessoas que não respeitam os direitos humanos, os direitos fundamentais, que negam o holocausto e propugnam a plena extinção do Estado de Israel não merecem ser recebidas no Brasil”, disse o deputado à reportagem, antes de fazer, na tribuna da Câmara, um pronunciamento contra a visita do presidente do Irã ao Brasil.
Se depender de Itagiba, seu projeto terá tramitação rápida na Casa. “Estamos todos aqui imbuídos de aprovar essa lei, porque ela não apenas criminaliza quem nega o holocausto, mas criminaliza que também nega outros crimes praticados contra a humanidade, com o objetivo de disseminar o ódio e a discriminação.”
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