Reportagem – é o aprofundamento de uma notícia ou o mergulho em um fato importante, mesmo que não seja recente, em busca de revelações exclusivas. A reportagem, na acepção aqui utilizada, está no universo do “jornalismo investigativo”, que remete ao esforço para tornar públicos fatos relevantes que autoridades ou pessoas poderosas gostariam de manter ocultos. Uma boa reportagem requer pesquisas intensas, entrevistas com grande diversidade de fontes, reiteradas checagens e cuidado especial na apresentação do conteúdo final, que pode trazer complementos como vídeos, infográficos, mapas e painéis de visualização de dados. Também deve trazer – ou, no mínimo, tentar obter – as explicações de quem pode ter sua imagem arranhada pela sua publicação.
Aécio e Lula: tucano nunca precisou tanto de um milagre petista (Marcello Casal/ABr)
Erich Decat
O resultado das urnas de amanhã (26) em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte definirá não apenas os nomes dos políticos que irão governar as três capitais com maior número de eleitores do país, mas servirá como um verdadeiro esboço para a próxima corrida presidencial de 2010.
Para o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), não basta a vitória de seu aliado em BH, Márcio Lacerda (PSB). É necessária também uma improvável derrota do candidato do governador José Serra em São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). Isso inverteria a tendência natural destas eleições de fortalecer o governador paulista na disputa entre os dois tucanos por uma vaga nas eleições presidenciais.
É o que dizem especialistas ouvidos pelo Congresso em Foco. Eles analisam os possíveis quadros pós-eleição municipal e indicam os reflexos de cada resultado para Serra, Aécio Neves e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Os três são considerados, até o momento, os “protagonistas” da próxima corrida à Presidência da República.
Independentemente do resultado de São Paulo e Belo Horizonte, para o cientista político Rogério Schmitt, Serra, o governador de São Paulo, será o principal vencedor na disputa interna do partido contra o governador mineiro, Aécio. Para tentarem suceder Lula, os dois tucanos travam um cabo-de-guerra político por espaço dentro do PSDB.
As últimas pesquisas divulgadas mostram ampla vantagem do atual prefeito de São Paulo, Kassab, sobre a ex-ministra do Turismo Marta Suplicy (PT). O instituto Datafolha mostrou, na quarta-feira (22), que o candidato à reeleição tem 54% das intenções de votos contra 36% da oponente petista.
Na capital mineira, Lacerda (PSB) enfrenta Leonardo Quintão (PMDB). A pesquisa Datafolha de quarta-feira apontou o candidato de Aécio com 53% dos votos válidos, contra 47% de Quintão.
“A vitória do Kassab, independentemente da vitória do Lacerda em Belo Horizonte, sacramenta o Serra como candidato do PSDB”, atesta Schmitt, da Tendências Consultoria.
“Se Lacerda vencer, não terá feito mais do que obrigação. Já o Kassab, caso seja eleito, se olharmos para o quadro de seis meses atrás e compararmos com o atual, ele aparece como um azarão vencendo uma ex-prefeita e um ex-governador. Claro que, se o Leonardo Quintão vencer, o Aécio fica ainda mais fraco.”
Schmitt lembra que a derrota de Marta para Kassab também fortalece o nome da ministra Dilma Rousseff, candidata do presidente Lula. “A ministra eliminaria um dos principais nomes dentro do PT na disputa”, ressalta.
Lição mineira
A cientista política Maria Cristina Seixas Vilani aposta no fortalecimento de Serra, apesar de acreditar na vitória de Lacerda, que, além de contar com o apoio de Aécio, tem no palanque o atual prefeito de BH, Fernando Pimentel (PT).
“O Aécio e o Pimentel têm uma aceitação altíssima em Minas Gerais. Lançaram o Lacerda, mas não conseguiram o resultado que esperavam, que era a vitória no primeiro turno. Isso foi muito inesperado. Com uma possível vitória do Kassab, o Serra sai fortalecido”, sinaliza a professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).
Segundo ela, Lula poderá tirar lições para 2010. “Esse episódio vai servir para o Lula observar que não vai poder lançar qualquer candidato. Belo Horizonte é um exemplo de que não há toda essa transferência de voto”, ponderou.
Efeito crise
O cientista político Alexandre Barros acredita que, mesmo com uma vitória de Kassab, o sucesso da possível candidatura de José Serra está sujeito à crise econômica internacional. Para ele, também vai pesar na disputa ao Planalto a postura do governo Lula em relação ao colapso financeiro global, que levou o governo a publicar, nos últimos dias, duas medidas provisórias (MP 442/08 e MP 443/08) anticrise.
“Acho que as pretensões do Serra vão depender muito da resposta do governo em face da crise, até 2010. Se for um fracasso, o Serra pode vir forte. O problema é que ele já foi candidato muitas vezes e, apesar de termos o exemplo do Lula, ele não é um mestre em campanhas”, considerou Barros, da consultoria Early Warning. “Além disso, carrega uma imagem de ser arrogante, uma arrogância típica do PSDB paulista.”
Vitória aos 45 minutos
Os especialistas ouvidos pela reportagem disseram ainda que uma reviravolta de Marta em São Paulo, nas atuais circunstâncias, seria pouco provável. Mas na possibilidade dela ocorrer, traria benefícios principalmente para Aécio e para o presidente Lula.
“Seria como uma vitória de virada aos 45 minutos do segundo tempo. Nessa hipótese, o Serra ficaria enfraquecido e a própria Marta se fortalece como candidata à presidência. Já para o Aécio, o ideal é a combinação da vitória da Marta com a vitória de Lacerda”, considera Rogério Schmitt.
Alexandre Barros lembra que um trunfo da ex-ministra do Turismo não garante a vaga para a disputa em 2010. “O PT ainda está dividido quanto a isso. Se ela conseguir ser candidata, vai tomar muita paulada porque a quantidade de garfes que ela comete é muito intensa”, lembra.
Sem crescimento
A cientista política Maria Cristina Seixas Vilani não acredita, no entanto, em um aumento do número de votos por parte da petista nesta reta final.
“A Marta tem um número de eleitores fixo. A tendência é ela ficar nos atuais 36%. Acredito que ela ainda enfrenta alguns preconceitos por parte dos eleitores e da mídia, principalmente, por ser da elite, branca e mulher”, disse Vilani.
Para a especialista, Marta cometeu erros consideráveis na reta final das eleições.
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