Eduardo Militão
A Comissão de Sindicância formada por deputados para investigar colegas suspeitos de terem comercializado seus créditos de passagens faz sua primeira reunião às 10h desta quarta-feira (12). O corregedor da Câmara, ACM Neto (DEM-BA), o terceiro secretário, Odair Cunha (PT-MG) e os deputados Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), Marcelo Ortiz (PV-SP) e Antônio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) vão analisar as denúncias contra os também deputados Paulo Roberto (PTB-RS) e Eugênio Rabelo (PP-CE).
Segundo ex-servidores dos gabinetes, os dois tinham consciência de que seus créditos eram comercializados para agentes de viagens. Os agentes cobravam até 35% de deságio, de acordo com depoimentos da comissão de sindicância que investigou apenas funcionários da Câmara. Dali, as passagens iam parar nas mãos de terceiros, que compravam dos agentes, muitas vezes de boa-fé.
O ex-servidor Luiz Flávio Nogueira afirmou que o deputado Paulo Roberto perguntou a ele como fazer para vender seus créditos de passagens. O questionamento foi feito três ou quatro meses após o início do mandato, em 2007, segundo o depoimento.
Procurado ontem em seu gabinete, Paulo Roberto e seus auxiliares não deram nenhum retorno à reportagem. Em abril, ele afirmou ao Congresso em Foco que demitiu um servidor suspeito de furtar seus créditos de passagens. A demissão teria acontecido em novembro de 2008.
O petebista foi um dos protagonistas do caso que resultou na abertura da sindicância. Há quatro meses, este site revelou que da cota dele saíram passagens em nome do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e de sua mulher para os Estados Unidos. O ministro apresentou comprovantes de pagamento e pediu a apuração imediata da denúncia ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). A comissão de sindicância concluiu que Gilmar foi vítima de uma fraude executada por funcionários da Câmara.
Já Fabiana Leite diz que Eugênio Rabelo autorizou a emissão das passagens questionadas à época de reportagem exclusiva do Congresso em Foco com a lista de voos internacionais pagos com recursos da Câmara (leia mais). A servidora ainda acusa Rabelo de reter salários de funcionários.
Em notas divulgadas semana passada, o deputado diz que a ex-colaboradora tenta justificar crimes cometidos por ela mesma. “Há, no relatório, apenas a reprodução do depoimento de assessora com acusações, não comprovadas, feitas por ela para se defender do crime pelo qual esta sendo investigada”, afirmou Rabelo.
Ele diz não existirem provas também da suposta retenção de salários. “Não há, por parte do deputado Eugênio Rabelo, nenhuma prática de ‘reter salários de assessores’, como sugerido pela ex-assessora em seu depoimento.”
Leia a íntegra das explicações do deputado Eugênio Rabelo
Diligências
Além da investigação aos dois parlamentares, o corregedor vai fazer diligências sobre mais quatro deputados, um deles licenciado (leia mais). Ontem, o deputado ACM Neto fez pedidos de esclarecimentos a alguns colegas.
Márcio Junqueira (DEM-RR) afirmou que ainda não foi notificado e, por isso, não faria comentários. Roberto Rocha (PSDB-MA) pediu para falar sobre o assunto apenas nesta quarta-feira. Veloso (PMDB-BA) não retornou à reportagem.
Leia ainda:
Investigações sobre passagens isentam deputados
O relatório da comissão de sindicância das passagens
Como Gilmar Mendes voou com cota da Câmara
Temer abre sindicância para apurar denúncia do Congresso em Foco; Mendes pede esclarecimentos
Farra das passagens chega a Gilmar Mendes
Leia também
Deixe um comentário