|
A insistência dos parlamentares não foi suficiente para derrubar a vontade do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, o Silvinho, de dizer “não” por 11 horas consecutivas. Ontem, em depoimento à CPI Mista dos Correios, o funcionário licenciado da direção nacional do partido, acusado de lotear cargos públicos e de dar aval a empréstimos bancários para o partido, afirmou nunca ter indicado nomes para a administração pública. Disse ainda que nunca ouviu falar de mensalão. Silvio chegou à CPI pela manhã escoltado por três advogados e um pedido de hábeas-corpus, concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que lhe assegurou o direito de depor como investigado e de não responder a perguntas que pudessem incriminá-lo. O ex-secretário apelou para o recurso nas poucas vezes em que preferiu não negar as afirmações feitas pelos parlamentares, geralmente quando os parlamentares queriam obter informações sobre seu patrimônio. Nessas horas, limitou-se a dizer que as respostas estavam em suas declarações de renda e nos sigilos bancários quebrados pela CPI. Leia também Ao contrário do que havia dito o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) em depoimento ao Conselho de Ética no mês passado, Silvio Pereira afirmou que nunca exerceu qualquer influência na designação de ocupantes para cargos no governo. Refutou as acusações de que teria uma pequena sala no Palácio do Planalto, onde supostamente negociava indicações para postos em estatais, e negou inclusive que fosse próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Meu relacionamento com o presidente é estritamente político”, afirmou, ao ressaltar que não se encontrou com Lula depois que o PT assumiu o governo. O ex-secretário-geral do partido afirmou que o secretário de Comunicação do Governo, Luiz Gushiken, criou durante a transição de governo, no final de 2002, um sistema de indicação para cargos de confiança no governo que contava com 5 mil nomes. Segundo ele, Gushiken repassou esses dados aos ministros para que os usassem como referência nas contratações. Quanto aos cinco empréstimos bancários, no valor de R$ 39 milhões, feitos pelo empresário Marcos Valério para o PT, Silvio Pereira afirmou que nunca soube das operações. Em depoimento ao Ministério Público na semana passada, Valério disse ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que uma das garantias que tinha para realizar os empréstimos era o aval do ex-secretário e do ex-ministro-chefe da Casa Civil, o hoje deputado José Dirceu (PT-SP). Silvio Pereira disse que conheceu Valério pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, mas nunca discutiu a interferência do empresário no financiamento das campanhas. “Cheguei a cogitar a hipótese de ele trabalhar nas campanhas do PT em 2004, mas optamos pelo Duda [Mendonça]”, relatou à CPI. O depoimento de Pereira dividiu as opiniões na comissão. Os membros da oposição alegaram que o depoente pouco contribuiu para as investigações e não fez a menor questão de dizer a verdade. “Eu nunca vi tamanha demonstração de cinismo”, afirmou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), sobre o depoimento do ex-funcionário do PT. O discurso da base aliada foi mais moderado. “Ele valeu-se do direito da estratégia de defesa garantida pelo hábeas-corpus, de só responder o que lhe interessava”, analisou o deputado petista Carlos Abicalil (MT). O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) fez um apelo aos parlamentares. Ele afirmou, durante uma de suas perguntas, que as denúncias de pagamento de mesadas só existem porque alguns membros do Congresso votam de acordo com interesses pessoais, em vez de priorizarem o desenvolvimento nacional. “Faço um apelo para que os parlamentares votem pelo país. Só assim não haverá mais denúncias de mensalão”, disse o senador, quando perguntava ao ex-secretário do PT se ele havia acertado qualquer quantia para que deputados votassem com o governo. Esquerda do PT chia, mas Delúbio fica Embora bastante irritados com as últimas declarações do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que confessou a existência de caixa dois nas campanhas eleitorais do partido, o Campo Majoritário petista não acolheu o pedido da esquerda do partido e decidiu não expulsá-lo na legenda. O anúncio foi feito ontem, após reunião da Executiva Nacional, que optou pela permanência de Delúbio no partido. Já o ex-presidente do PT José Genoino admite ter cometido erros e falhas no cargo. Numa carta publicada no site do PT, Genoino diz que deveria ter feito uma reforma administrativa no partido, "modernizando-o e o adequando à nova condição de ser partido de governo". Genoino afirmou concordar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em entrevista divulgada pelo Fantástico no domingo, disse que o partido ficou fragilizado porque muitos quadros foram participar do governo federal. Segundo Genoino, "o partido se enfraqueceu em sua capacidade dirigente". Partido reconhece dívida de R$ 39 milhões, mas ignora acertos de Delúbio O novo presidente do PT, Tarso Genro, classificou de “temerária” a gestão financeira antiga Executiva Nacional de seu partido. Numa entrevista coletiva, Genro disse que o partido terá de cortar gastos para diminuir o rombo de exatos R$ 38.996.761,91 em suas contas. Contudo, Genro avisou que o partido não vai reconhecer dívidas assumidas à margem da contabilidade do partido, numa referência indireta aos acertos de Delúbio Soares, ex-tesoureiro da legenda. “Toda a dívida que não tem registro formal do partido, não poder ser analisada, portanto, não temos nenhum conhecimento dessa dívida”, afirmou Genro, durante entrevista coletiva ontem. |
Deixe um comentário