Eduardo Militão
O setor turístico contabiliza as perdas causadas pelo desastre aéreo da semana passada com o avião da TAM. O vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Carlos Alberto Amorim Ferreira, evita mensurar os prejuízos, mas admite o problema. “A gente sente a queda. Em julho, quase não vendemos pacotes. Há uma crise no turismo doméstico e esse acidente vai piorar tudo.”
O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), Alexandre Sampaio, dá a medida. Segundo ele, só no Rio de Janeiro ficou frustrada em 15% a ocupação dos hotéis para a segunda semana dos Jogos Pan-americanos. “Tivemos ocupação de 85% na primeira semana. Agora, foi inviabilizada a expectativa, sustentada pelo fato de o Cristo Redentor ser eleito uma das sete maravilhas do mundo e pelo bom desempenho do Brasil nos jogos”, lamentou. Ele acredita que até a chegada de atletas e turistas ficou comprometida.
Alexandre Sampaio afirma que os prejuízos podem ser maiores além das fronteiras cariocas. Ontem (segunda, 23), ele preparava para iniciar uma discussão com a diretoria da Abih para avaliar o problema no restante do país. Mas o encontro estava atrasado porque o vôo do presidente da entidade, Eraldo Alves, estava atrasado. Coisas da crise.
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Para Carlos Alberto Ferreira, a crise no setor aéreo (leia mais) é essencialmente do turismo doméstico. Ele lembra que, até a semana passada, nenhum atraso aconteceu com vôos internacionais. O vice-presidente da Abav identifica a queda do vôo 1907 da Gol – em setembro de 2006, quando 154 pessoas morrerram – como o início do problema, até agora mal resolvido.
Aviões superlotados
Para o vice-presidente da Abav, a culpa é tanto do governo quanto das empresas. “As empresas querem fazer o avião voar ao máximo”, denuncia. Ferreira lembra de um balanço de companhia aérea que mostrava que a empresa era a que tinha a frota que mais voava com o mesmo avião. “Eles fazem isso com alarde, mas é uma faca de dois gumes. Tudo tem limite”, diz Carlos Alberto.
Ele critica o que classifica como “filosofia do ônibus”. “É lota, sai. Lota, sai. Será que a manutenção não é igual à dos ônibus?”, comenta. Carlos Alberto não exime o governo dos problemas por deixar a infra-estrutura deficiente, ao não priorizar a segurança dos aeroportos e liberar os vôos em condições questionáveis, além de demorar para tomar decisões corretivas.
Alexandre Sampaio, da Abih, não tem dúvidas de que o governo é o principal culpado. Ele diz que são “corajosas” as medidas tomadas pelo governo federal para amenizar o caos aéreo – reduzir o volume de vôos em Congonhas e transferir parte das rotas para outros aeroportos. Mas, assim como Carlos Alberto, entende que as atitudes chegam tarde.
A transferência de rotas de São Paulo para o Rio foi defendida “reiteradas vezes” pela Abih. “É uma questão de tráfego. Cumbica está em processo de saturação”, argumenta Alexandre, referindo-se ao aeroporto internacional que funciona em Guarulhos (SP).
Ele entende que o governo se omitiu diante do fato de a população utilizar mais o avião devido às condições econômicas. “Ao governo, cabe mediar o processo de demanda do público e a oferta das empresas, incluindo segurança e planejamento. Faltou intermediação e planejamento”, afirma o representante do setor hoteleiro.
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