Eduardo Militão
O ex-servidor da Câmara José Cláudio da Silva Antunes garante que fez sob pressão uma declaração que inocenta o deputado licenciado Paulo Bauer (PSDB-SC) da responsabilidade de comercializar créditos de passagens aéreas. A afirmação está na ocorrência policial 212/2009, feita na Polícia Legislativa da Casa, e que integra o relatório final da comissão de sindicância que apurou a venda ilegal de bilhetes a agentes de turismo.
“O texto da declaração (…) já estava, pelo menos, 60% escrito previamente, tendo sido completado com as declarações do comunicante durante a conversa com Paulo Bauer. (…) Cita ainda que só concordou em assinar a referida declaração porque tem ciência de que não deve nada, bem como tinha receio em ser demitido caso não assinasse tal documento”, diz a ocorrência.
Leia a primeira parte da declaração – Segunda parte da declaração
Leia a íntegra da ocorrência policial
A declaração foi feita após Cláudio Antunes ser chamado a uma conversa com Paulo Bauer no dia 27 de maio. A ocorrência policial foi feita no dia 29. Na conversa, que foi gravada, Bauer diz que vai obrigar o colega João Santos – acusado de mandar Cláudio vender os créditos de passagens ao agente Vagdar Fortunato – a assinar um documento semelhante.
Dois meses depois, Cláudio acaba demitido do gabinete de Acélio Casagrande (PMDB-SC), o suplente de Bauer. João assinou um documento semelhante, negando a ordem do deputado e dele de que os créditos fossem comercializados, e conseguiu se manter no cargo de chefe de gabinete. Em agosto, Bauer chegou a dizer ao Congresso em Foco que João não lhe explicou nada.
Apesar do temor, Cláudio não tem certeza se Bauer tinha ciência da venda ou recebeu o dinheiro pago por Vagdar. “Não sei se o João usou indevidamente o nome do deputado”, afirmou Cláudio, em entrevista ao site.
No avião
A gravação de 27 de maio tem quatro horas de duração, das quais mais de duas horas são gastas na elaboração da declaração de Cláudio, cuja jassinatura foi reconhecida no dia seguinte no cartório do 3º Ofício de Notas de Brasília. No áudio, Bauer diz que ele e o chefe de gabinete Leandro Martins fizeram o documento no avião.
“Isso aqui a gente escreveu ontem à noite no avião”, diz o deputado licenciado. Bauer afirma que, com a declaração de Cláudio e a que esperava obter de João, se livraria de problemas com a imprensa no futuro.
“Eu vou ficar com as duas declarações na minha mão. Se estourar essa p* na imprensa, a passagem que o outro for emitir em nome de um traficante, eu puxo as duas certidões e digo: ‘Eu sou, mas tá aqui a declaração de confissão do… Cláudio errou, o Cláudio errou em dar a autorização pro cara, mas o Cláudio errou obedecendo ao João. O João, tá aqui, assinou, reconhecendo que cometeu, que deu a ordem e que fez o negócio com o cara. Tá reconhecido aqui [barulho de palmada]. Documentado’. Aí, se eu até for pra polícia lá na frente, se estourar um escândalo, você está salvo, porque ele vai assumir que mandou você fazer isso. Ele assume. No papel, eu vou fazer ele assumir.”
Em entrevista ao Congresso em Foco na última segunda-feira (23), Bauer enfatizou que, para ele, o que importa não é o áudio, mas a declaração feita por Cláudio e registrada no cartório.
“Não sei se essa gravação é completa, se está editada, se está perfeita ou não. Agora o que vale é o que ele declarou para mim, que foi posto no papel, que ele assinou, que ele concordou, que está registrado em cartório com todas as palavras dele”, disse o deputado licenciado.
O advogado de Bauer, Péricles Prade, divulgou nota na quarta-feira (25) em que considera “injustificada” a alegação de que Cláudio fez a declaração privado de liberdade. “As informações prestadas para registro na declaração foram tomadas em local público, com acompanhamento do senhor Leandro Martins [chefe de gabinete de Bauer na Secretaria de Educação de Santa Catarina]”, diz o texto.
Segundo Cláudio, o local utilizado para a conversa foi uma agência do Banco do Brasil no Setor Comercial Norte, onde trabalha Marcos Moser, um parente de Bauer.
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