O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse há pouco que a insistência da base aliada de derrubar a tese do mensalão, constante do texto final dos trabalhos da comissão, pode ser “pior” para o presidente Lula. A discussão e votação do relatório está prevista para a tarde de hoje.
“Se eu apago uma opção (a da existência do mensalão), permanece a outra, qual é? A outra é dizer que despesas da campanha do presidente da República foram pagas em 2003 e 2004, portanto, no governo, pelo partido do governo. É muito grave”, declarou Serraglio. Ele ressaltou que a CPI produziu “a prova em ambos os sentidos”, isto é, mensalão e caixa dois, embora seja impossível “ter duas interpretações”.
Para Serraglio, os governistas querem alterar, no relatório, a existência do mensalão para a prática de caixa dois das campanhas para “não reconhecer que são mensaleiros”. “Foi pago num ano que não é eleitoral”, destacou o relator, lembrando que a defesa do caixa dois nas campanhas de 2002 e 2004 surgiu cerca de dois meses depois das primeiras denúncias da existência do pagamento de recursos para parlamentares votarem com o governo.
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A tese dos recursos não contabilizados poderia abrir margem para a abertura de um pedido de impeachment de Lula.”Não é possível que tantos assessores foram ao Banco Rural apenas para caixa dois. Não dá. Não dá para admitir isso”, rebateu.
Para o deputado, “é um péssimo sinal” a base aliada querer um relatório paralelo ao produzido por ele. “Deveríamos pensar no momento histórico que nós estamos passando, o PT perdeu uma oportunidade de ter aprovado isso (o relatório) sem esse estardalhaço.”
Inegociável
O relator disse ainda que é “inegociável” retirar o mensalão e o abastecimento do valerioduto com recursos da Visanet (operadora de cartões de crédito cujo Banco do Brasil é o principal acionista) do texto, como querem a base aliada. É também, sustenta, “difícil” rever as sugestões de indiciamento dos ex-ministros Luiz Gushiken e José Dirceu.
Apesar de ter relatado no seu texto final, Serraglio afirmou que não vai citar o nome do filho do presidente Lula, Fábio Luiz Lula da Silva. Lulinha, como é conhecido, é sócio da empresa Gamecorp, suspeita de ter recebido irregularmente um milionário aporte financeiro da Telemar.
“Eu sabia que isso seria um ponto de pirotecnia”, declarou. “Eu não investiguei esse caso e não quis mostrar que estava com tendência política”, sustentou, ao ressaltar que, por essa razão, retirou o nome dele do relatório, mas colocou “o fato, que tem que ser investigado”.
A expectativa do relator é de que hoje ocorra apenas a discussão do seu relatório. A votação deve ocorrer amanhã, diz. “Meu medo é eles derrubarem o meu (relatório) e não terem voto para o dele. Aí é muito triste”, avalia, sem querer fazer previsões. (Ricardo Ramos)
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