O grupo de senadores hostilizados em viagem a Caracas defendeu, nesta sexta-feira (19), a exclusão da Venezuela do Mercosul e a convocação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do embaixador brasileiro no país, Rui Pereira, na Comissão de Relações Exteriores do Senado. “A Venezuela não tem o direito de participar do Mercosul porque não atende a cláusula democrática”, criticou o senador José Agripino. “É regime de exceção”, emendou.
Os senadores oposicionistas pretendem recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para cobrar uma posição do governo brasileiro em relação à cláusula prevista no Protocolo de Ushuaia. O documento prevê que, para participar do bloco econômico, os países precisam estar sob regime democrático.
A comitiva de oito senadores também responsabiliza o governo brasileiro pela hostilidade com que foram recebidos na capital venezuelana. “Houve um conluio entre os dois governos”, acusou Agripino. “O embaixador recebeu ordem de quem para não nos acompanhar? Foi do Itamaraty, foi do governo?” Segundo ele, o Parlamento brasileiro foi “vilipendiado” e “agredido”.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) também responsabilizou o governo Dilma pelo cerco por um “bando de energúmenos”, segundo ele, ao veículo em que os parlamentares brasileiros estavam. “Aquilo parecia ação deliberada do governo venezuelano, mas, na verdade, pelas informações que colhemos nas últimas horas, a responsabilidade pela exposição da delegação brasileira é sim também do governo brasileiro”, discursou.
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O tucano disse que o ministro das Relações Exteriores precisa explicar por que determinou ao embaixador brasileiro em Caracas que não acompanhasse a comitiva de senadores, conforme relato de parlamentares que se reuniram com ele ontem à noite.
“Queremos ver o ministro Mauro Vieira na Comissão de Relações Exteriores para que ele explique de forma clara o sentido de impedir um grupo de senadores brasileiros desarmados de visitar presos políticos, de se unir com opositores e clamar por definição de data para eleições parlamentares naquele país. Não era nada além disso que estávamos fazendo na Venezuela. Fomos deliberadamente impedidos de cumprir nossa agenda”, declarou.
Os senadores que participaram da comitiva se revezaram em discursos no plenário na manhã desta sexta-feira, dia em que, tradicionalmente, os parlamentares voltam para os seus estados.
“Inaceitáveis”
Em nota à imprensa, o Itamaraty classificou como “inaceitáveis” os “atos hostis” contra os congressistas brasileiros. O texto, divulgado ontem à noite, diz que, “à luz das tradicionais relações de amizade” entre os dois países, o “governo brasileiro solicitará ao governo venezuelano, pelos canais diplomáticos, os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido”.
Ainda ontem o plenário do Senado aprovou a ida de uma nova comissão à Venezuela, com a finalidade de “verificar in loco a situação política, social e econômica” do país. O grupo é formado por senadores com perfil mais à esquerda. Devem seguir para Caracas os senadores Roberto Requião (PMDB-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ), Lídice da Mata (PSB-BA), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Randolfe Rodrigues (Psol-AP). No requerimento de criação da comissão, os parlamentares alegam que o grupo que foi hostilizado pelos venezuelanos “não atende às exigências de isenção e imparcialidade que a gravidade do momento delicado requer”.
O veículo alugado pela Embaixada do Brasil no país vizinho transportava os parlamentares quando foi interceptado por manifestantes que protestavam na pista de acesso ao aeroporto de Caracas, obrigando o retorno da comitiva.
A comitiva foi a Caracas para visitar líderes políticos presos – entre eles o ex-prefeito de Caracas Antonio Ledezma – e pressionar pela realização de eleições parlamentares em setembro.
A Câmara aprovou moção de repúdio ao governo venezuelano por causa da recepção dada aos senadores brasileiros. Partidos simpatizantes ao governo de Maduro, como o PCdoB, o PSB e o próprio PT classificaram a medida como “precipitada”. Já a oposição classificou a moção de repúdio como necessária.
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