Mais um desdobramento do caso do chamado dossiê da Casa Civil estourou hoje (2) no plenário do Senado, deixando ainda mais tenso o clima entre oposição e governo a respeito do tema cartão corporativo. Tudo começou quando o senador petista Tião Viana (AC) subiu à tribuna para ler uma notícia publicada hoje no veículo on-line do jornalista Ricardo Noblat, segundo a qual o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) teria sido o responsável pelo vazamento do dossiê sobre gastos do governo Fernando Henrique Cardoso.
Segundo Noblat, o tucano teria repassado as informações – coletadas sob a forma de “banco de dados”, de acordo com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) – para a revista Veja e para o jornal Folha de S.Paulo. O paranaense admitiu que recebeu o dossiê, entretanto negou que foi o responsável pelo vazamento. Alvaro destacou que "os senadores não são obrigados a prestar informações sobre o que recebem". "Se um parlamentar vazou informações para a imprensa, o fez dentro das suas atribuições parlamentares", disse.
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"Nenhum papel voa. Pode até voar um pouquinho se tiver uma janela aberta. Se tinha papel circulando por aqui, como foi declarado, alguém portava esse papel", questionou a líder do PT, Ideli Salvatti (SC). "A senhora não viu?", rebateu Alvaro.
A passos céleres e com expressão tensa, Alvaro Dias se apressou em apresentar sua defesa na tribuna. No trajeto de seu gabinete até o plenário do Senado, ele evitou antecipar declarações à imprensa.
“Não admito que o governo venha me questionar sobre o vazamento das informações. Aliás, pelo Palácio do Planalto só passo ao largo, e com a velocidade possível”, contra-atacou Alvaro, rebatendo a hipótese de ele mesmo, em pessoa, ter ido à Casa Civil – localizada no terceiro andar do Palácio – e se apossado do suposto dossiê. Para ele, seria impossível que, “nas barbas do presidente Lula”, ele pudesse estar “urdindo” algo contra o governo, em pleno “quartel general”. Entretanto, o senador não fez referência nominal ao jornalista Ricardo Noblat.
Na esteira das acusações governistas de que a oposição estaria usando o dossiê como factóide para alcançar objetivos eleitorais, Alvaro voltou a dizer que a culpa pelo episódio é do Planalto. "Quem vazou [o dossiê] está no Palácio do Planalto. Não creio que compete ao presidente Lula repassar responsabilidade à oposição", disse o tucano, alertando que as ilações governistas de nada adiantam.
"Se o objetivo foi intimidar a oposição, não sei. Se confundir a opinião pública, pode ser", sugeriu o senador, levantando também hipótese de "fogo amigo" para inviabilizar uma possível candidatura de Dilma à Presidência em 2010. Hoje, Lula voltou a dizer que quem vazou as informações queria atingir o governo e a ministra Dilma. (leia)
Governo cobra explicações
Líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) deixou as discussões ainda mais acaloradas quando pediu a palavra para reforçar a desconfiança do governo sobre a intenção do "vazador" do dossiê. "O que o senador Alvaro Dias fez aqui foi um contorcionismo político para tratar de algo completamente diferente do que está sendo tratado", disse Jucá, referindo-se ao suposto caráter evasivo do dircurso do colega de Parlamento. "Insistimos que o governo foi vítima de uma espionagem mau caráter, mal feita. O governo cobra explicações e fará investigações sobre quem fez esse ato criminoso."
Para Jucá, o governo reforça sua posição de "vítima" porque dispõe dos dados, mas "não inventou esses dados, não divulgou esses dados", e os encaminharia à CPI Mista dos Cartões Corporativos a título de reforço para as investigações em curso no colegiado.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), avisou que, depois de mais uma "afronta" governista nos desdobramentos da questão dos cartões corporativos, a oposição recorrerá a todos os instrumentos políticos necessários para enfrentar a "truculência" do Planalto. "Queremos deixar claro que não deixaremos de judicializar este processo", disse, lembrando da representação que PSDB e DEM apresentarão contra a Casa Civil junto ao Ministério Público, argüindo a ministra Dilma e sua secretária-executiva, Erenice Alves Guerra, pelos crimes de responsabilidade, ameaça e violação de sigilo institucional.
"Não temos a menor dúvida de que a verdade aparecerá de forma tranqüila", ponderou Virgílio.
“Galinha cacarejadora”
Citando o livro "Mein Kampf" ("Minha luta", em português), escrito pelo líder nazista Adolf Hitler, o senador Mão Santa (PMDB-PI) afirmou que a ministra Dilma não era a “mãe do PAC”, mas uma “galinha cacarejadora” do governo.
Após o pronunciamento do peemedebista, a senadora Ideli Salvatti pediu a transcrição das notas taquigráficas, uma vez que, segundo ela, o termo ofendia a ministra e as mulheres em geral. Ideli destacou que aquela era a segunda vez que Mão Santa usava a expressão.
Por sua vez, o senador piauiense afirmou que expressão “galinha cacarejadora” estava no livro, e que não quis ofender ninguém. De acordo com ele, a expressão indicava que homens e mulheres repetiam incessantemente, durante o regime nazista na Alemanha, o que era de interesse do governo daquele país.
O senador Romeu Tuma (PTB-SP), que presidia a sessão no momento, pediu para que a expressão fosse retirada do registro do discurso de Mão Santa. A retirada da “galinha cacarejadora” atendeu a uma solicitação dos senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Patrícia Saboya (PDT-CE).
Após muita discussão em torno da expressão utilizada por Mão Santa, a sessão foi encerrada pelo senador Papaléo Paes (PSDB-AP). (Fábio Góis e Rodolfo Torres)
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