Fábio Góis
Minutos após ter determinado a convalidação de 20 atos da Mesa Diretora, até então não publicados (leia-se secretos), a Diretoria Geral do Senado anulou a nomeação do ex-namorado de uma das netas do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Henrique Dias Bernardes foi contratado, por meio de ato administrativo clandestino, para o departamento médico, onde dá expediente até hoje.
Sarney valida 152 atos considerados secretos
Os atos convalidados formalizaram contratações para cargos em comissão e haviam sido anulados pela própria Mesa, que informa a existência de 14 casos ainda em análise (eles são apreciados individualmente). O Senado deixou a cargo de cada departamento a decisão, com base em serviços prestados, pela permanência ou exoneração de cada caso de nomeação.
O novo diretor da Secretaria de Comunicação do Senado, Fernando César Mesquita, indicado por Sarney para o posto (veja nota deste site adiantando a contratação), foi pessoalmente ao comitê de imprensa do Senado para confirmar a anulação – que, em tese, implicará exoneração de Henrique. Tanto essa anulação quanto os atos convalidados mais cedo só serão publicadas amanhã (28) no Boletim Administrativo de Pessoal da Casa. Segundo a assessoria de Sarney, a decisão de anular o ato da contratação de Henrique serve para demonstrar a isenção do senador em relação ao caso.
A assessoria de imprensa informa ainda que o suposto namorado da neta do senador está em férias, mas não soube informar quando ele retornará ao trabalho. Só então, portanto, a Secretaria de Recursos Humanos poderá efetuar a exoneração (a lei de funcionalismo público proíbe a demissão de servidores em férias).
A contratação de Henrique foi descoberta por vazamento de material telefônico sigiloso do inquérito da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que tem como principal investigado o empresário Fernando Sarney, filho do parlamentar peemedebista. Os diálogos telefônicos (ouça-os aqui) foram revelados na edição de 22 de julho do jornal O Estado de S. Paulo. Intitulada “Gravação liga Sarney a atos secretos”, a reportagem do periódico paulista diz que a “mobilização” da família Sarney em torno da contratação de Henrique foi iniciada em 30 de março de 2008.
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