O senador Tião Viana (PT-AC) foi há pouco à tribuna do plenário para prestar contas de seus gastos com saúde desde 1999, de acordo com dados fornecidos pela diretoria-geral da Casa. A fala veio depois das denúncias de que Tião emprestou o celular funcional – pago com dinheiro público e sem limite de gasto – para a viagem de 15 dias da filha ao México, em janeiro, em meio à sua campanha à presidência do Senado, cujo mote era transparência e valorização da instituição. Sobre o empréstimo do celular, no entanto, nenhuma palavra.
Depois de ler seus custos médicos e odontológicos, em números reunidos desde seu primeiro ano de mandato, Tião disse que estava ali fazendo um gesto de “respeito” à opinião pública. Depois das denúncias, o petista assegurou que pagaria eventuais gastos extras da filha no México, e já teria solicitado à diretoria-geral a conta referente ao período em o celular esteve emprestado.
Em 1999, afirmou Tião, "nenhum centavo" em despesas médicas foi registrado na cota de Tião. No ano seguinte, continuou o petista, foram gastos R$ 410. Em 2001, o custo foi de R$ 270. Em 2002, três contas registradas: uma de R$ 370, a segunda de R$ 550 e uma outra de R$ 765. Ao todo, foram gastos por Tião com serviços médicos, segundo a diretoria-geral, R$ 2.365 mil desde 1999.
Leia também
Já com serviços odontológicos, segundo o documento levado à tribuna por Tião, nada foi gasto pelo senador em 2000. A contagem começa em 2003, quando foi registrada uma despesa de R$ 1.100 mil. No ano seguinte, novamente nenhum gasto registrado. Em 2005, três contas em um total de R$ 3.902 mil: a primeira, de R$ 2.150 mil; a seguinte de R$ 350; a terceira de R$ 1.060 mil; e a última de R$ 342. Em 2006, R$ 3.120 mil em despesas odontológicas (R$ 1.540 mil; R$ 100; e R$ 1.480 mil).
Em 2007, o maior dispêndio: graças a uma cirurgia, Tião consumiu R$ 30.680 mil (reunindo despesas hospitalares e pós-cirúrgicas, gastos com cirurgiões e extensões de tratamento), dos quais a cirurgia em si custou R$ 12.250 mil. Por fim, diz o extrato apresentado por Tião, foram gastos em 2008 R$ 4.652,73 mil em despesas odontológicas, divididas em sete contas. O total: R$ 43.454,73 mil.
Ou seja, o senador custou aos cofres públicos, juntando serviços médicos e odontológicos, R$ 45.819,73 mil, segundo os números oficiais a ele repassados pela diretoria-geral do Senado.
Aos anais
“Vou entregar [a relação de gastos] à presidência em nome da transparência e do respeito em relação às pessoas”, discursou o senador acreano, para depois dar uma alfinetada no grupo do cacique peemedebista José Sarney (AP), que o derrotou em janeiro na disputa pelo comando do Senado. Nos bastidores, tem sido dito que correligionários de Sarney, em meio à enxurrada de denúncias que abalam a Casa, teriam vazado para a imprensa a informação sobre a filha de Tião.
Outros senadores se manifestaram sobre a iniciativa de Tião, e aproveitaram para explicitar descontentamento com os rumos da Alta Casa. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), pediu a palavra depois de Tião e sugeriu que os demais senadores deveriam seguir o exemplo do petista.
“Ou essa Casa se dá conta do papel que tem a cumprir, ou nós vamos começar a ser vistos como expletivos”, disse Virgílio, antes de exortar aos pares à prestação de contas. “Tenho certeza de que ninguém aqui tem nada a esconder. Se não tem a esconder, porque não mostram?”
Já o líder do DEM na Casa, José Agripino (RN), demonstrou desalento em relação ao próprio mandato. “Nesse momento, não está valendo a pena ser senador”, arrematou Agripino, para quem os líderes partidários deveriam “demarcar o território” no sentido de discutir urgentemente maneiras de resgatar a respeitabilidade do Senado. “O momento agora é de expectativa, ninguém sabe qual vai ser a próxima denúncia.”
Memória recente
A série de denúncias contra o Senado começou com a não declaração à Receita Federal, por parte do ex-diretor-geral Agaciel Maia, de uma mansão milionária em bairro nobre de Brasília, o que levou a seu afastamento. Em seguida, foram revelados o pagamento de horas extras a mais de três mil servidores em pleno recesso parlamentar e o caso de João Carlos Zogbi. O uso de seguranças do Senado, por parte de Sarney, para segurança particular no Maranhão e a denúncia de "nepotismo terceirizado" também ganharam destaque.
O constrangimento dos senadores aumentou ontem (16), quando o Congresso em Foco mostrou com exclusividade o uso de passagens aéreas da cota de Roseana Sarney (PMDB-MA), paga com dinheiro público, para transportar amigos, parentes e empresários maranhenses ligados à líder do governo no Congresso. (Fábio Góis)
Leia também:
Deixe um comentário