Em dia de intensificação de ataques israelenses na Faixa de Gaza, a comunidade palestina em Brasília resolveu ir ao Congresso para pedir ajuda. Mas a recepção não foi das melhores. Com bandeiras do estado palestino e cartazes em punho, cerca de 30 pessoas, lideradas pelo vice-presidente da Federação Palestina (Fepal), Tawfic Awwad, tentaram subir a rampa do Parlamento para acender velas que simbolizariam as vítimas das tropas israelense. Mas seguranças do Senado e da Câmara impediram a subida – uma barreira foi posta no pé da rampa, de forma a impedir a passagem dos manifestantes.
Com isso, para realizar o ato com as velas, alguns deles tiveram de voltar e percorrer cerca de 500 metros até a calçada que margeia o gramado em frente ao Congresso. Lá, a cidadã palestina Safiah Ali, da Sociedade Árabe-Palestina de Brasília, acendeu cem velas em sinal de luto.
“Nossa manifestação decorre da ofensiva israelense sobre Gaza, para chamarmos atenção do mundo sobre a desproporcionalidade do uso da força contra o nosso povo, encurralado que está na Faixa de Gaza”, disse ao Congresso em Foco Tawfic Awwad, para quem a postura expansionista de Israel atropela as resoluções da comunidade internacional e os apelos da Organização das Nações Unidas (ONU). “Estão sufocando o povo palestino”, completou Tawfic, lembrando que a população ocupa há mais de 40 anos o território limítrofe a Israel.
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Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Países Árabes, o deputado Nilson Mourão (PT-AC) apoiava a manifestação da comunidade palestina. À reportagem, Mourão disse que o governo brasileiro já presta ajuda às vítimas da Faixa de Gaza, mas defendeu que o presidente Lula deveria não só ir "pessoalmente" prestar solidariedade e ao presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, mas também visitar o governo israelense e manifestar sua contrariedade ao conflito.
"O governo está condenando internacionalmente a ofensiva de Israel. Amanhã, o nosso chanceler [Celso] Amorim está indo ao Oriente Médio. Ao mesmo tempo, um avião da FAB estará chegando em Amã [capital da Jordânia, país vizinho a Israel] com 14 toneladas de remédio que serão encaminhadas para Gaza", informou o deputado, dizendo ser "genocídio" o que Israel faz em Gaza. "É uma guerra contra crianças, escolas, civis, e isso é insustentável. Temos nos batido ardorosamente pela paz no Oriente Médio e pela criação do Estado Palestino."
Outro parlamentar que deu apoio ao ato da comunidade palestina foi o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Vindo do Ministério da Fazenda, a pouco metros da rampa do Congresso, Suplicy disse ter entregue ao embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel, uma carta endereçada ao novo presidente norte-americano, Barack Obama, e ao ministro Celso Amorim. À reportagem, o petista também mencionou a importância da ida de Amorim ao Oriente Médio. "Ele sabe que conta com todo o apoio do Congresso Nacional para dar os passos necessários."
O tratamento dispensado aos palestinos pelas autoridades do Parlamento difere do que foi reservado aos aposentados e pensionistas em 18 de dezembro passado. A comitiva dos “cara-enrugada”, como eles se autodenominam, devidamente acompanhada do patrono dos aposentados, senador Paulo Paim (PT-RS), não só subiu a rampa como instalou em uma das pilastras do prédio uma cruz simbolizando o calvário de Cristo. O grupo ainda foi acomodado no Salão Negro do Congresso. Depois, ainda acenderam velas que arderam por horas naquela tarde chuvosa de dezembro (leia).
David e Golias
Até o momento, fontes oficiais das Nações Unidas contabilizam cerca de 770 mortos entre civis e militares palestinos, adultos e crianças. Do lado israelense, apenas nove nove mortes foram registradas.
Hoje, tropas de Israel atacaram um comboio de ajuda humanitária da ONU às vítimas do conflito na Faixa de Gaza. Dois motoristas que transportavam mantimentos e medicamentos foram mortos. A ação provocou intensa revolta na comunidade internacional. A Cruz Vermelha Internacional, entidade que não costuma se posicionar em questões bélicas, condenou veementemente a investida israelense.
Agora há pouco, nos Estados Unidos, a Liga Árabe na ONU se reuniu para elaborar resolução em busca de um acordo de paz entre árabes e palestinos. Neste momento, os membros do Conselho de Segurança da ONU estão reunidos a portas fechadas na sede da instituição em Nova Iorque. É provável que a resolução seja votada ainda hoje. (Fábio Góis)
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