O presidente Lula admitiu ontem, pela primeira vez, a possibilidade de o PT lançar outro candidato à sua sucessão em 2006. Em discurso realizado durante a inauguração da pedra fundamental da refinaria Abreu e Lima, no porto de Suape, a 45 quilômetros de Recife, o presidente disse que só vai disputar a reeleição se for para ganhar. “Não sou candidato antes do tempo de definir se sou ou não. Não farei o jogo rasteiro dos meus adversários, não jogarei pequeno e não baixarei o nível. No tempo certo vou decidir. Se for para ser candidato, é para ganhar as eleições. Se decidir não ser candidato, irei escolher um companheiro para ganhar”, disse.
A declaração ocorre na mesma semana em que pesquisas Ibope e Datafolha apontam, pela primeira vez, que o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), venceria a disputa com Lula num eventual primeiro turno. O presidente também afirmou ontem que, após "meses na rua gritando", a oposição irá perder "fôlego" até as eleições de 2006.
"Sei que no Brasil o clima já é pré-eleitoral. No meu caso, a minha oposição já está na rua gritando há alguns meses. E eu acho que o fôlego vai terminando quando vai se aproximando a data das eleições", disse o presidente.
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Acompanhado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Lula voltou a criticar a imprensa e a oposição. O brasileiro comparou a mídia brasileira à venezuelana e lembrou ofensas pessoais das quais Chávez foi vítima. "Estamos vivendo no Brasil algo semelhante. Estamos vivendo um momento em que as pessoas não têm preocupação de saber se é verdade ou não a denúncia”, afirmou.
O presidente venezuelano recomendou a Lula “força e coragem” para enfrentar o cenário político e afirmou que “a direita está implacável”. “Estamos acostumados aos ataques da oposição. Na Venezuela também é assim, e os Estados Unidos já começaram a financiar as nossas oposições”, disse.
Dizendo ter ficado mais tolerante com o passar da idade, Lula voltou a lembrar os ex-presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek como outras grandes vítimas do “massacre da imprensa”. “Quem tiver acesso ao que a imprensa falava dele entre 1956 e 1961 vai perceber o massacre que se fazia contra ele. Foi cassado, não conseguiu reeleger o seu sucessor e ainda foi exilado. Quarenta e cinco anos depois vi uma propaganda na Globo. Estão preparando um documentário especial sobre o mais importante presidente da República que o Brasil já teve”, afirmou.
Depois da cerimônia em Suape, Lula foi à sua cidade natal, Garanhuns (PE), para inaugurar a escola técnica do Sesi Dona Lindu, nome de sua mãe. Lá, o presidente afirmou que comeu “o pão que o diabo amassou” para arrumar a casa que recebeu do antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
Eleitores em fuga
Reportagem da última edição da revista Veja aponta que, três anos após a eleição, Lula perdeu 20 milhões de eleitores. Com base nos dados da pesquisa do Ibope e com a ajuda de técnicos do instituto, a revista transformou as porcentagens em números absolutos e comparou-os aos resultados obtidos nas últimas eleições presidenciais pelos então candidatos Serra e Lula. De acordo com a reportagem, quase 40% das pessoas que o queriam na Presidência hoje não querem mais. Só na região Sudeste (que reúne 45% do eleitorado brasileiro), o presidente viu desertarem 10,6 milhões de eleitores desde que assumiu o cargo.
O cálculo foi realizado com base nos porcentuais de intenção de voto atribuídos a Lula e Serra em um hipotético segundo turno – ponderados os índices de abstenção registrados nas eleições de 2002 em cada região do país e descontados os votos brancos e nulos. Por essas mesmas contas, Serra ganhou 11 milhões de eleitores em relação à última eleição presidencial, de acordo com a reportagem.
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