Fábio Góis
Cada vez mais pressionado pela oposição e até por governistas, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), negou há pouco que irá renunciar ao posto. “Estou com um espírito muito bom. Nunca deixei de estar confiante”, disse o peemedebista a jornalistas, depois de presidir a primeira sessão não deliberativa em plenário depois do recesso.
Alvo de onze pedidos de investigação no Conselho de Ética, Sarney negou que um de seus filhos – o empresário Fernando Sarney, alvo da operação Boi Barrica, da Polícia Federal – tenha sugerido que ele renunciasse ou se afastasse da presidência. “Isso não existe”, abreviou Sarney, ao seguir do plenário para o gabinete, sem parar para falar com a imprensa.
Quase que simultaneamente, as declarações de Sarney eram reforçadas pelo líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), em conversa com jornalistas na entrada do plenário. “Isso nunca existiu”, disse Renan, referindo-se à hipótese de renúncia e repetindo a frase poucos instantes dita pelo correligionário.
Principal articulador da candidatura de Sarney para a presidência da Casa, já a partir dos últimos meses do ano passado, Renan disse que “o PMDB é um partido de paz, de concórdia”, mas admitiu que as representações do PSDB no Conselho de Ética contra Sarney transformaram a crise institucional em “crise partidária”.
“O Sarney está em paz, disposto, firmíssimo. Enfrentou todas as denúncias, tomou e vai continuar tomando as providências”, completou o senador, sem querer entrar em detalhes sobre quais seriam as providências. “As representações do PSDB forçam o PMDB a um comportamento igual. A representação [do PMDB] é partidária.”
Pouco antes, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), advertia sobre os danos que seriam causados à “imagem” do Senado, com a disputa partidária no Conselho de Ética. “Montar um processo de agressão não resolve. Não temos que radicalizar, virar um bate-bate”, ponderou Jucá, para quem a base governista, com ampla maioria no colegiado, estuda “uma forma de trabalhar” diante das representações e denúncias contra um dos principais aliados do presidente Lula no Parlamento.
Ao se posicionar sobre a crise instalada há meses no Senado, Jucá ainda alfinetou a postura de alguns dos críticos de Sarney. “Cada um trabalha no seu estilo e nas suas circunstâncias. Tem gente que gosta de incendiar, tem gente que surfa nas crises”, declarou o líder governista, reafirmando a responsabilidade de seus pares em “preservar a Casa”.
Durante os poucos minutos em que Sarney esteve à frente da sessão não deliberativa desta tarde, nenhum senador oposicionista usou a tribuna do plenário para atacá-lo ou sugerir seu afastamento da presidência. Nomes como o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que assina a maioria dos pedidos de investigação contra Sarney no Conselho de Ética (seis, entre denúncias e representações); Papaléo Paes (PSDB-AP); o “independente” Mão Santa (PMDB); e Heráclito Fortes (DEM-PI) se revezaram entre discursos sobre temas referentes aos seus estados e apartes de boas-vindas pós recesso. Diante da calmaria do ambiente, Sarney deixou o plenário estrategicamente.
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