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A RENDIÇÃO DO ÚLTIMO CORONEL
O senador José Sarney lutou muito, mas não conseguiu vencer os fatos. Ao decidir disputar a presidência do Senado, em fevereiro passado, acreditava que o cargo era uma garantia de imunidade para ele e a família – àquela altura já investigada pela Polícia Federal por suspeita de uma multiplicidade de crimes. A visibilidade, porém, teve efeito contrário e acabou colocando o mais longevo dos políticos brasileiros no centro de uma devastadora crise no Congresso. José Sarney, o último dos coronéis, rendeu-se diante de tantos escândalos. Na semana passada, o senador disse ao presidente Lula que está cansado e que resolveu deixar o cargo.
“Não aguento mais. Vou negociar uma saída”, afirmou, de acordo com um interlocutor privilegiado do presidente. A conversa aconteceu na segunda-feira, pelo telefone, quando Lula ligou para saber notícias sobre o estado de saúde de Marly Sarney, esposa do presidente do Senado, que se recupera de uma cirurgia em São Paulo. Sarney, de acordo com o relato feito por Lula, estava abatido, disse que não conseguia dormir havia dias e se culpava pelo estado de saúde da mulher, que sofrera um acidente doméstico, fraturando o braço e o ombro.
Nos às vezes tortuosos códigos da política, desabafos como o do senador Sarney podem ser interpretados como um simples blefe, uma ameaça velada ou até chantagem de alguém em busca de proteção. Não é o caso. Desde o início da crise, Lula se empenhou pessoalmente na defesa de Sarney, sem nenhum pudor, a ponto de causar constrangimentos ao seu partido, quando desautorizou publicamente o líder do PT, senador Aloizio Mercadante, que havia pedido o afastamento do presidente do Congresso.
Depois da conversa telefônica com José Sarney, porém, Lula mudou completamente o tom. Antes disposto a sacrificar um pouco da própria popularidade em troca de um punhado de votos no Congresso e de uma provável aliança com o PMDB na campanha eleitoral de 2010, o presidente vislumbrou a hora de mudar o discurso. Sarney? “Não é um problema meu.
Não votei para eleger Sarney presidente do Senado, nem para senador. Votei nos senadores de São Paulo. Quem tem de decidir se ele fica presidente é o Senado”, disse Lula em entrevista, recolhendo a boia. Jamais, portanto, poderá ser acusado de ter associado sua credibilidade à tentativa de manter no cargo um presidente do Congresso envolvido em nepotismo, desvio de dinheiro, contas no exterior… E, daqui a alguns dias, Lula pode, quem sabe, invocar até uma conveniente crise de amnésia: Sarney? Que Sarney?…
O presidente, o PMDB e seus aliados já começaram a discutir o futuro do Senado pós-Sarney, mas muito distante daquele que deveria ser o ponto de partida. Lula, por exemplo, está preocupado com questões mais práticas, como a sucessão. Trabalha para que Sarney renuncie, o que obrigaria o Senado a convocar novas eleições em cinco dias, evitando que a Casa ficasse sob o comando do vice-presidente, Marconi Perillo, do PSDB. O PMDB, republicano como sempre, quer continuar com a presidência, mas tem dificuldades em encontrar um candidato que seja da absoluta confiança do partido e que tenha a ficha limpa – missão aparentemente impossível. Sarney é o quarto político que presidiu o Senado nos últimos dez anos a cair em desgraça. Antes dele, Antonio Carlos Magalhães, Jader Barbalho e Renan Calheiros passaram por processos idênticos, o que mostra que o problema principal nunca foi enfrentado. “O Senado vive uma crise institucional provocada pela falta de ética, pela complacência com o uso indevido dos recursos públicos e pela falta de transparência”, analisa o cientista político Lúcio Rennó, da Universidade de Brasília. “Não adianta apenas mudar os nomes. É necessária uma mudança radical nas práticas.” A questão é que isso não interessa a quem deveria promover as mudanças – e os escândalos envolvendo o senador José Sarney explicam por quê.
A família Sarney sempre teve um apreço especial pelo setor energético, feudo do clã há pelo menos duas décadas. Além de dividendos políticos, o controle do setor proporciona outras vantagens. A Fundação José Sarney, criada pelo senador no Maranhão, é acusada de desviar dinheiro de um convênio com a Petrobras. O Instituto Mirante, ONG presidida pelo filho-problema Fernando Sarney, recebeu recursos da Eletrobrás para financiar projetos culturais no estado – parte desviada para contas de empresas da família.
Fernando Sarney é o mesmo empresário que fez bons negócios na década de 80 vendendo postes de luz à estatal de energia do Maranhão ao mesmo tempo em que presidia a empresa por indicação do pai. A incursão mais recente e enrolada dos Sarney no campo energético ocorreu em Santo Amaro, no interior do estado. Lá, a Petrobras descobriu um manancial de gás natural. Há três anos, com a valorização do gás no mercado internacional, a Agência Nacional do Petróleo decidiu licitar a área para exploração. Antes que isso acontecesse, porém, o senador José Sarney tomou posse do local. Tomou posse, explique-se, porque há indícios de que houve grilagem de terras e estelionato – tudo coincidentemente conjugado com decisões de órgãos federais do setor energético comandados por pessoas ligadas a Sarney.
Só lá Sarney é santo
“Maranhenses desconfiam da ida do homem à Lua”, anunciava, no dia 20 passado, uma manchete no site da TV Mirante. A afiliada da Rede Globo pertence ao grupo de comunicações da família do senador José Sarney (PMDB). O conglomerado inclui as principais retransmissoras de TV do estado, quase duas dezenas de estações de rádio e o jornal diário de maior circulação, O Estado do Maranhão. Nas últimas semanas, todo esse aparato de comunicação – com uma forcinha de afiliadas locais do SBT ligadas ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão – dedica-se a esconder dos maranhenses os rolos de José Sarney com nepotismo, conta no exterior, desvio de dinheiro público e tráfico de influência. É mais fácil acreditar que o homem nunca pisou na Lua.
O Estado do Maranhão vai às bancas com uma versão peculiar da realidade. Nela, Sarney é uma espécie de santo martirizado pela “mídia paulista”, pela oposição no Congresso, pelo Ministério Público e pelas pessoas que vazaram as gravações telefônicas, feitas pela Polícia Federal, entre o senador e seus parentes. O jornal diz que tudo não passa de manipulação política e pede rigor na investigação de quem passou os grampos à imprensa. Quando não dá para ser ainda mais servil, O Estado simplesmente muda de assunto. Sempre que possível, as manchetes exaltam as manifestações de apoio a Sarney, para passar a impressão de que toda a população maranhense é unânime na crença de que o político é vítima de uma campanha para tirá-lo da presidência do Senado e, assim, atingir o governo Lula. VEJA tentou entrevistar o diretor do jornal, Ribamar Corrêa. Mas ele se negou a falar.
No Maranhão, 90% dos meios de comunicação do estado estão nas mãos de grupos políticos. Infelizmente, não se trata de exceção. Fora dos grandes centros econômicos do Sul e do Sudeste, praticamente inexiste uma imprensa regional independente e isenta. Estima-se que quase três centenas de governadores, prefeitos e parlamentares sejam donos de veículos de comunicação no Brasil. E o que é pior: a Constituição não permite que deputados federais e senadores sejam sócios de empresas concessionárias de serviço público. Ou seja, eles são proibidos de ter rádios e TVs, sob o risco de perderem o mandato. A regra é ignorada sem solenidade. Quando muito, os políticos colocam as empresas no nome de parentes e laranjas ou assinam um termo “licenciando-se” da gestão de seus negócios de comunicação. Como se isso evitasse que o conteúdo do noticiário obedecesse a seus interesses. Dos oitenta deputados federais e senadores com outorgas de rádio e TV, dois terços são das regiões Norte e Nordeste.
No Maranhão, as empresas dos Sarney e de Edison Lobão não são as únicas controladas por políticos. O grupo detentor das afiliadas da Rede Record e de algumas emissoras de rádio tem entre seus sócios o deputado federal Roberto Rocha (PSDB), inimigo dos Sarney. Na disputa pelo posto de o segundo maior jornal em São Luís estão O Imparcial, dos Diários Associados, um grupo nacional sem ligação direta com políticos locais, e o Jornal Pequeno, alinhado com qualquer liderança que se oponha aos Sarney.
Em ambos, noticiam-se os escândalos recentes. Incapaz, portanto, de controlar todas as informações que chegam aos seus súditos, Sarney contratou uma equipe de quinze jornalistas recém-formados para inundar a internet – principalmente sites e blogs do Maranhão – com comentários positivos a seu respeito. Em outra tentativa de contrapor-se ao inevitável, na última sexta-feira, em seu artigo semanal na Folha de S.Paulo, o senador reclamou da falta de uma “lei de responsabilidade da mídia” e se diz vítima de “tortura moral”. É mesmo como acreditar que o homem não foi à Lua.
Vacilou, dançou
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT, impôs uma dura derrota à oposição. O centro da disputa foi o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), abastecido com dinheiro de impostos e controlado por um conselho deliberativo que inclui governo, sindicatos de empresários e de trabalhadores. Por um acordo de cavalheiros, a presidência do conselho é rotativa: cada bloco passa dois anos no comando. Até a semana passada, quem dava as cartas no FAT eram os trabalhadores, mais especificamente a Força Sindical, central vinculada ao ministro Lupi. No próximo biênio, o controle caberia aos empresários. As quatro maiores associações patronais – as confederações da indústria (CNI), da agricultura (CNA), do comércio (CNC) e do sistema financeiro (Consif) – se articularam para escolher um nome. Decidiram deixar a indicação para a CNA, presidida pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Só que excluíram das negociações duas outras associações patronais, a de serviços (CNS) e a de turismo (CNTur). Aí, abriram uma brecha para que Lupi os derrotasse.
O presidente da CNS, Luigi Nese, havia se candidatado a presidente do conselho, mas não foi levado a sério pelas outras confederações por ser um novato: a instituição que ele preside não tem um ano de vida e só ingressou no conselho do FAT em abril. “Quando eu disse que queria disputar a indicação, responderam que ‘pato novo não pia’. Um desrespeito”, diz Nese. Ele, então, recorreu a Lupi. O ministro anteviu a oportunidade de dar um tombo na senadora Kátia Abreu, aguerrido nome da oposição, e prometeu apoio a Nese. Munido da bênção oficial, cabalou votos nas centrais sindicais. No dia da eleição, nadou de braçada: elegeu-se com o apoio do ministro e dos sindicatos. “O que aconteceu foi consequência da postura hostil e raivosa que a senadora Kátia Abreu e o DEM mantêm em relação ao governo e às centrais sindicais”, diz Lupi.
Época
“Lula enfraquece o Congresso”
O ex-presidente Itamar Franco não dispensa uma caneta. Itamar tem o hábito de rabiscar seus raciocínios de forma esquemática enquanto fala. Durante entrevista de mais de uma hora a ÉPOCA, Itamar preencheu meia dúzia de folhas. Nelas, estavam esquemas para entender suas críticas contundentes ao comportamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à postura do Senado diante da crise e a atitudes do senador José Sarney (PMDB-AP). Presidente do conselho de administração do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, Itamar ingressou há menos de um mês no PPS, depois de três anos sem partido – mas diz não ser candidato a nada. “Eu estava na arquibancada e via o jogo um pouco de longe”, diz. “Resolvi ir para o banco de reservas, ver o jogo mais de perto.”
ÉPOCA – O que o senhor acha da situação do Senado hoje?
Itamar Franco – Eu acho que há um erro básico na questão: esse comportamento do Legislativo, particularmente do Senado, de recorrer ao presidente (da República). O Legislativo se diminui ao procurar o presidente para resolver suas questões. As questões do Legislativo têm de ser resolvidas internamente. Eu vou dar um exemplo: quando eu era presidente, houve a CPI do Orçamento (1993). Quando a crise estava no auge, alguns parlamentares – só me permita apenas não dizer os nomes; eu sei de todos aqueles que foram lá – foram ao presidente, que era eu, e pediram – veja só – que fechasse o Congresso.
ÉPOCA – O que o senhor disse a eles?
Itamar – Eu disse a eles o seguinte: “Eu sei que a crise é séria, os senhores que estão lá dentro sabem melhor que eu, mas, por favor, resolvam seus problemas lá. Não somos nós, que estamos aqui eventualmente no Executivo, que vamos cometer um ato de quebra do estado de Direito fechando o Congresso. O problema do Legislativo quem resolve é o Legislativo, não o Executivo”.
ÉPOCA – Qual era a intenção deles?
Itamar – Quando eles chegaram para falar comigo – não foi nem um, nem dois, nem três, foi um número razoável de pessoas, não eram apenas parlamentares –,entendiam que o Legislativo estava muito desagregado em seu aspecto democrático. E, como tal, ensejava que a opinião pública dissesse “Para que Legislativo? Para que Congresso?”. E aí a similitude (com a situação atual): você escuta muitas vezes aí o sujeito dizendo: “Para que o Senado? Para que nós vamos ter essa Casa?”. A opinião pública se situa, não numa maneira ordenada, mas ela é sensível a certos acontecimentos. Então, eu volto a dizer que houve esse erro (do Senado) em procurar o presidente da República. O presidente da República não tem nada a ver com os problemas do Legislativo. E o Senado se enfraqueceu com essa tentativa do presidente de dar cobertura ao Senado.
ÉPOCA – Foi o presidente do Senado, José Sarney, quem tomou a iniciativa de se escorar no presidente Lula, ao afirmar que era vítima de denúncias da oposição porque apoiava o presidente. Ele errou?
Itamar – Não é fácil para mim falar do presidente Sarney. Mas eu posso achar. Eu acho que – e eu não tenho nada contra o presidente Sarney, quero deixar claro – ele cometeu o erro de ser candidato (a presidente) do Senado e cometeu outro erro, de ir ao presidente da República. Um homem com a experiência dele, que conhece o Congresso – diferentemente do presidente da República –, nunca deveria ter procurado o presidente Lula. Acho que ele se enfraqueceu.
ÉPOCA – Por quê?
Itamar – Porque supostamente os Três Poderes são harmônicos, mas são independentes, como manda a Constituição e a tradição democrática. No momento em que este vai a este (risca um esquema no papel, para representar os Três Poderes), ele se enfraquece, se submete. E, quando o Legislativo fica submisso ao Executivo, é ruim para a democracia. O Executivo deveria ter rejeitado imediatamente essa tentativa do Senado. Mas o presidente da República não conhece a história do Legislativo. Se ele conhecesse bem a história do Legislativo brasileiro, veria que tem seus altos e seus baixos, mas teve e tem grandes parlamentares que, ao longo da história, defenderam o Legislativo em ocasiões muito difíceis. A história do Legislativo é rica. O presidente não conhece essa história. A única coisa que fica é: por que ele quer o enfraquecimento do Legislativo?
ÉPOCA – Por quê?
Itamar – Primeiro, o presidente foi um parlamentar obscuro. Como parlamentar, ele qualificou que lá havia 300 e tantos picaretas. Esquecendo que ele também estava lá… Se fossem 300, 300 mais um com ele? Como a pessoa não conhece a história democrática do país… O presidente Lula mudou muito seu comportamento de 2002 para cá. Ele não tem a mínima consideração pelo Legislativo. Quando o presidente tenta impedir uma CPI, como foi a CPI da Petrobras, é outra interferência indevida. No regime militar, em 1975, havia uma questão tão importante para o presidente (Ernesto) Geisel quanto a Petrobras hoje: era o acordo nuclear (do Brasil com a Alemanha). Numa proposta do então senador Paulo Brossard, criou-se uma CPI para examinar o acordo. E a CPI não foi impedida – apesar de ser um regime militar. E era igualzinho hoje: nós éramos três senadores da oposição e oito do governo. E mais ainda: se permitiu que um senador de oposição, coincidentemente eu, presidisse a CPI. Aqui, não. Com um erro que nem os militares fizeram: o presidente e o relator (da CPI da Petrobras) são do governo. Quando o presidente não respeita o Legislativo, ele interfere.
ÉPOCA – O que o presidente pode provocar ao interferir no Legislativo?
Itamar – O presidente Luiz Inácio quer desmoralizar o Legislativo perante a opinião pública. Os senadores de oposição não estão percebendo que é muito mais grave do que um bate-boca de criar ou não uma CPI, de ir ao presidente pedir cobertura para este ou aquele caso. Ao interferir no Congresso, o presidente traz de volta uma discussão que a gente havia muito tempo não tinha, de ouvir nas ruas: “Para que Congresso?”. A mesma coisa que eu ouvi na minha época. E sobretudo com a popularidade que está o presidente. E ele faz com um viés de certa esperteza. Interessa ao presidente enfraquecer o Congresso, interessa ao presidente desmoralizar o Congresso. Quando o presidente chama os senadores de “pizzaiolos”, isso é realmente muito grave. E os congressistas não estão reagindo à altura. O presidente ultrapassa os limites democráticos.
Istoé
“A internet não vai mudar a política”
Além dos tradicionais palanques, os candidatos que participarão das eleições no próximo ano se preparam para o embate no mundo virtual. A coordenadora e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política (Neamp) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), professora Vera Chaia, alerta que a corrida já começou fora e dentro da internet, que será usada de forma intensiva por marqueteiros políticos e militantes.
Por outro lado, a cientista política pondera que há valorização exagerada da internet por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao limitar a campanha eleitoral online. Ela lembra que o acesso à rede mundial de computadores no Brasil, assim como a participação política dos cidadãos, é ainda restrito se comparado a outros países. “A internet não vai mudar a política brasileira”, diz a professora, que, nas eleições de 2006, se dedicou à análise das comunidades políticas na rede social Orkut.
Em seu pós-doutorado, pela Universidad Rey Juan Carlos, ela acompanhou, na Espanha, o uso da internet na disputa presidencial de março de 2008 na qual foi reeleito José Luiz Zapatero. A experiência resultou no projeto de pesquisa “Uso das novas tecnologias na ação política no Brasil e na Espanha”. Nesta entrevista à ISTOÉ, ela analisa as estratégias políticas na web.
ISTOÉ – A ação política está se intensificando na internet?
Vera Chaia – De 2006, época das eleições no Brasil, para 2008 na Espanha, ocorreu um avanço muito grande. Lá, além dos candidatos terem se apropriado, e muito melhor, da internet, construindo formas de interação efetivas entre eles e seus possíveis eleitores, tivemos a ação das televisões espanholas, que abriram espaço para os cidadãos se manifestarem. A TVE, a televisão pública espanhola, colocava no ar perguntas de eleitores feitas para os candidatos, via You- Tube, no dia do debate. No caso dos candidatos, tivemos formas de atuação muito diferentes. Um deles, por exemplo, construiu um avatar no Second Life.
ISTOÉ – A campanha presidencial de Barack Obama pode ser considerada um marco nessa evolução?
Vera – A estratégia foi diferente das adotadas nas eleições espanhola e brasileira. O Obama investiu muito na internet porque havia grandes vantagens. Primeiro, é muito barato e tem um alcance muito maior se os cidadãos estiverem habituados a navegar em sites políticos. Porém, o aspecto mais inovador da campanha de Obama é que praticamente toda a arrecadação foi feita via internet. Mesmo depois das eleições, havia venda de camisetas, souvenirs e ainda um link para fazer doações.
ISTOÉ – Esse modelo pode se reproduzir no Brasil em 2010?
Vera – O hábito do americano é muito diferente do do brasileiro. O uso da internet e a participação política dependem muito da cultura de cada país. O Brasil é um país com cerca de 45 milhões de pessoas que acessam a internet, mas não os sites políticos. Os sites de entretenimento e e-mail são mais visitados. No caso do Obama, os simpatizantes fizeram vídeos manifestando apoio ao candidato, eram pessoas anônimas que decidiram se manifestar.
ISTOÉ – E como deve se comportar o internauta brasileiro?
Vera – No Brasil é diferente. Estamos acompanhando escândalos que fazem com que a população tenha uma desconfiança muito grande da política e dos políticos. O que vai acontecer é o uso e abuso da internet pelos marqueteiros, assessores de campanha, militantes. Os blogs e comunidades online já começaram a campanha, mas isso limitado ao universo dos partidos, candidatos e simpatizantes. Em 2006, fiz uma análise de uma comunidade do Orkut, a “Casa da Mãe Joana”, que pregava o voto nulo ou a abstenção. Havia uma polêmica: uns defendiam a abstenção, ou seja, negavam a participação política; outros, o voto nulo, que seria uma forma de se manifestar, mas ainda participar do processo. A participação se dará nesses dois níveis: ou simpatizantes e pessoas ligadas aos partidos ou manifestações contra qualquer tipo de envolvimento.
ISTOÉ – No Irã, a internet foi usada para driblar a censura e mobilizar a população. É possível pensar em um movimento parecido no Brasil?
Vera – O mais relevante foi que todas as críticas foram divulgadas pela internet e as grandes manifestações que ocorreram no Irã foram registradas principalmente pelo celular. É muito diferente no Brasil. Se você convocar qualquer manifestação via internet, não terá resultado como no Irã, já que lá existe uma oposição ao regime dos aiatolás que faz com que haja uma articulação. Existe um cerco em relação à internet no Irã, que inviabiliza o acesso a informações diretamente do país. Na China, houve um protesto nos 20 anos do massacre da Praça da Paz Celestial e essa manifestação só pôde ser acompanhada pela internet.
ISTOÉ – O movimento “Fora Sarney” no Twitter já conta com sete mil seguidores. Recentemente, o jornal britânico “The Guardian” publicou um artigo sobre a campanha online “Greve do Bigode”. Como avalia esses protestos?
Vera – A entrada da internet é extremamente positiva, pressiona mais pela resolução de um problema. É extremamente benéfico. Mas essa manifestação não vem para o mundo real. Não consegue mobilizar. As “Diretas Já” e o “Fora Collor” foram manifestações feitas sem internet. Hoje, existe uma facilidade de convocação pela internet, mas ela não ocorre e não será atendida devido à nossa cultura. É muito cômodo se manifestar pela internet, é mais asséptico, já que você não suja as mãos, não corre, como aconteceu anos atrás. Além disso, tem o lado do descrédito da vida política brasileira, de um certo ceticismo em relação à política, à possibilidade de mudanças na nossa sociedade.
A bela do clã Sarney
Uma das seis netas do presidente do Senado, a advogada Maria Beatriz Brandão Cavalcanti Sarney tornou-se personagem dos escândalos que atingem seu avô José Sarney ao ser flagrada por escutas da Polícia Federal. Bia, como é conhecida, entrou no olho do furacão ao pedir ao pai, Fernando Sarney, um emprego no Senado para o ex-namorado Henrique Dias Bernardes. Ela própria recebeu uma ajuda do avô, em 2004, quando ganhou uma vaga de assessora internacional no Superior Tribunal de Justiça.
“Atendi, sim, a um pedido do Sarney para botar a Beatriz no STJ, cumpro a minha palavra”, confirma o ex-presidente do STJ Edson Vidigal. “Eu não me arrependo, a menina é muito competente e estão fazendo uma injustiça com ela”, diz o ex-ministro. Em entrevista à ISTOÉ, Bia afirma que se saiu bem em suas funções e nega que tenha se utilizado do sobrenome para conquistar qualquer privilégio. “Não sou a filhinha de papai idiota que pintam por aí, que vive dependendo de favores. Isso não corresponde à realidade”, diz. Ela conta que foi acusada até de não possuir diploma universitário quando entrou no STJ.
“Eu era pós-graduada”, explica. “Sou advogada, fico chateada com essas coisas, minha profissão requer muita discrição, muitos dos meus clientes não querem ver minha imagem vinculada a este tipo de notícia.” Sobre o pedido que fez ao pai para encaixar o ex-namorado Henrique no Senado, ela diz que é outra injustiça. “Ele nem era meu namorado na época que foi contratado, é um menino inteligentíssimo, que se formou em física pela UnB, e estava precisando de uma oportunidade”, diz. Para Bia, é “inexplicável” a sensação de ver seu nome envolvido no escândalo. “Você não sabe quanto isso interfere, mas não tenho medo, sei a profissional que sou, sei o que consegui pelos meus próprios méritos”, defende.
“O que fazem hoje é transformar a reputação da pessoa numa calamidade.” Sobre o avô, ela acha que a história fará justiça. “Meu avô está sendo extremamente injustiçado pelos seus próprios pares. Ele contribuiu muito para a formação política desse país.” Apesar do envolvimento de seu nome no escândalo, Bia é apontada por amigos da família como a neta que menos gozou dos privilégios do clã. Ela é filha de Fernando com a procuradora Elisa Maria Brandão Cavalcanti e só ficou sabendo que era neta de Sarney na adolescência.
A Perícia Do Grampo
Na última semana, a divulgação de uma conversa telefônica gravada pela Polícia Federal durante a Operação Navalha, em 2006, serviu para aquecer a fervura em que se encontra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Trata-se de um diálogo ocorrido no dia 9 de agosto às 17h33 entre o empreiteiro Zuleido Verás, dono da Gautama – a empresa-alvo da operação –, e um interlocutor que se identifica apenas como Mauro. Na época, a Gautama era responsável pela ampliação e modernização do Aeroporto de Macapá, que Zuleido define como uma obra de Sarney.
A primeira frase gravada atribuída pela Polícia Federal a Zuleido diz o seguinte: “Vou chegar à casa de Sarney já, já”. A agenda de Zuleido mostra que naquele dia ele de fato esteve em Brasília e a divulgação da gravação foi o suficiente para que parlamentares da oposição elevassem o tom do coro que pede a renúncia de Sarney. O grampo da Operação Navalha seria a prova da ligação do senador com o empreiteiro que em 2007 foi preso e denunciado pelo Ministério Público sob a acusação de formação de quadrilha, corrupção, superfaturamento de obras públicas e tráfico de influência. O problema é que não passou uma semana e a prova não se mostrou tão robusta como queria a oposição. Na quarta-feira 29, depois de analisar a gravação, o perito Ricardo Molina de Figueiredo, emitiu um laudo em que atesta que a frase atribuída a Zuleido não foi dita pelo empreiteiro. “Há fortes indícios de que houve uma montagem na gravação”, disse Molina à ISTOÉ, na sexta-feira 31.
Se ficar comprovado que a Polícia Federal produziu provas montadas visando atingir o presidente do Congresso, chefe do Poder Legislativo, o País estará diante de uma crise institucional. Recentemente, a mesma Polícia Federal, em conjunto com agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), foi acusada de promover gravações clandestinas no gabinete do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, chefe do Poder Judiciário. “A PF, durante todo o governo Lula, praticou com grande tranquilidade o vazamento de informações”, disse Mendes.
A gravação divulgada no inicio da última semana foi feita pelo Guardião, equipamento usado pela Polícia Federal para fazer as escutas. O aparelho começa a gravação no momento em que o telefone investigado é acionado e antes mesmo de a ligação ser completada. Dessa forma, a Polícia Federal tem obtido uma série de gravações ambientes, segundos antes de começar o diálogo telefônico. Foi nessas condições que teria sido captada a frase “vou chegar à casa de Sarney já, já”. “A frase é gravada, há uma interrupção e em seguida Zuleido atende o telefone e começa um diálogo que não tem nenhuma relação com a frase”, explica Molina. O laudo a que ISTOÉ teve acesso é composto por 10 páginas e cinco gráficos. Segundo o perito, a voz que diz a frase relativa ao senador José Sarney e a voz de quem se identifica como Zuleido na conversa telefônica “não pertencem ao mesmo interlocutor”. “A partir do momento que começa o diálogo não há sinais de que a gravação tenha sido editada ou montada. Mas a frase dita antes pode ter sido enxertada a qualquer hora”, explica Molina.
Atenção ministro, Dilma está de olho em você
O amplo escritório, no primeiro andar do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), identificado como “Gabinete da Ministra” e equipado com uma mesa redonda destinada às reuniões com integrantes do primeiro escalão, não deixa margem à dúvida: a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, é a gerentona do governo. É nesse gabinete, uma espécie de sala de situação, visitado pela reportagem de ISTOÉ na terça-feira 28, que Dilma acompanha com lupa o desempenho dos ministros que estão à frente dos principais programas do governo, entre eles o PAC, Minha Casa, Minha Vida e o pré-sal. “Faço o advogado do diabo”, disse a ministra à ISTOÉ. “Questiono os ministros até o limite. Isso gera stress, mas acho que eles aprenderam. Hoje o governo está mais na mão”, disse “a” ministra.
De fato, Dilma, pelo seu perfil, rigor técnico e capacidade para descascar abacaxis, deu um status mais executivo a um ministério historicamente político. Com isso, também ampliou seu leque de atribuições e influência desde que assumiu a pasta, em junho de 2005. Além de dividir com o PMDB o controle do setor elétrico e manter aliados em postos-chave de agências reguladoras, estão sob sua tutela mais de 30 órgãos e instâncias governamentais, entre comitês e grupos de trabalho (leia quadro à pág. 38).
Mas onde há centralização de poder, existe conflito. Assim, as tarefas impostas pelo cargo administrativo, ao mesmo tempo que impulsionam sua candidatura ao afirmá-la como uma gerente capaz de aspirar à Presidência da República, também podem lhe render desgastes de natureza política. Afinal, são interesses de políticos de diversas agremiações partidárias que ela muitas vezes, pela natureza do cargo, precisa contrariar. É um fio de navalha sobre o qual a ministra e pré-candidata à Presidência tem que se equilibrar. Pelo menos até deixar a Casa Civil para se dedicar integralmente à campanha. “Sei que tenho que lidar com situações conflitantes. Faz parte do meu trabalho”, admite.
A tensão aumenta à medida que se aproximam os prazos-limite para a conclusão de obras do governo ou apresentação de projetos considerados caros para o Executivo. Reside aí a maior fonte de desgastes diretos com integrantes do primeiro escalão. A pontualidade precisa ser britânica. Se um cronograma não é cumprido, a ministra é quem entra em cena para saber o que deu errado e encontrar a melhor maneira de solucionar o problema. Caso dois ou mais ministros de determinada área não cheguem a um consenso, Dilma fica encarregada do que chama de “organizar a divergência”.
Por determinação expressa de Lula, ela tem duas reuniões para construir o consenso e faz de tudo para não extrapolar o prazo. O presidente só arbitra se, esgotado o limite de encontros, o impasse não for resolvido. Ao fim e ao cabo, a voz firme da ministra tem sempre grande peso. O sentimento no governo é de que Dilma, cada vez mais, administra o País, enquanto Lula fica livre para as gestões políticas, seja nas viagens internacionais, seja nas negociações com o Congresso ou na amarração das alianças para 2010. Segundo um ministro bastante ligado a ela, é como se Lula tivesse antecipado a passagem da faixa presidencial. “Como numa corrida olímpica, é preciso passar o bastão adiante em movimento”, sintetiza a fonte. “Cobro resultado dos ministros, trabalho para resolver os problemas, para que tudo chegue redondo ao presidente e ele, aí sim, tome a decisão política”, reconhece a ministra.
Ética em quatro vezes sem juros
Como o caçador que um dia vira caça, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), um dos parlamentares que mais pressionam pela saída de José Sarney (PMDB-AP) da presidência do Senado, pode acabar ao lado do coronel maranhense no banco dos réus do Conselho de Ética, também sob a acusação de quebra de decoro parlamentar. Na quarta-feira 29, depois de consultas à liderança da sigla na Câmara, o senador e líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), resolveu representar contra o tucano: “O PMDB já decidiu e o levará ao Conselho de Ética. É uma questão de reciprocidade”, disse o peemedebista. Virgílio será a primeira vítima do PMDB, mas provavelmente não será a única. “A lista é grande”, segundo o senador Wellington Salgado (PMDB-MG). No alvo estão os tucanos Tasso Jereissati (CE) e Mário Couto (PA), que usaram dinheiro de sua cota de passagens aéreas para fretar jatinhos. “Isso é coisa de máfia, é a Camorra”, ataca Virgílio.
O tucano, que protocolou com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) mais dois pedidos de investigação contra Sarney, pode ter o mandato cassado por quebra de decoro pelo fato de ter empregado funcionário fantasma no gabinete e contraído empréstimo de US$ 10 mil do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, durante viagem de lazer a Paris em 2005. O fato foi revelado por ISTOÉ. Em discurso na tribuna, o tucano disse que foram R$ 10 mil, mas confessou os crimes passíveis de punição pelo Código de Ética. “Não ganhei nada com isso. Foi uma imbecilidade”, afirmou Virgílio.
Para tentar expurgar seus pecados, o senador começou a devolver aos cofres públicos os R$ 210.696,58 pagos indevidamente ao ex-servidor Carlos Alberto Nina Neto, que é filho de seu amigo e subchefe de gabinete, Carlos Homero Nina, e passou dois anos no Exterior à custa do erário. “Já paguei R$ 60.696,58 e acertei pagar outras três parcelas de R$ 50 mil. Tive que vender um terreno da família e usar o dinheiro da poupança.” A dívida, porém, será paga em quatro vezes sem juros, pois o cálculo da Câmara inclui os salários e as despesas com Imposto de Renda e Previdência, sem correção. O pagamento pode ter vindo tarde. “Ele cometeu irregularidades e as confirmou em plenário. As provas contra ele são inequívocas”, disse Renan a interlocutores. Quanto ao empréstimo de Agaciel, Virgílio diz que foi pago na época, mas o ex-diretor nega.
Um político que se apequenou
Nos corredores do Senado, o nome de Aloizio Mercadante (PT-SP) é considerado por muitos sinônimo de arrogância. A frase “bom-dia, Mercadante” é invariavelmente usada em forma de brincadeira para alertar o senador que passa distraído por algum colega e não o cumprimenta. Nos últimos 30 dias, no entanto, o líder da bancada petista protagonizou três piruetas que mudam drasticamente a sua imagem.
Em 1º de julho, quando a oposição intensificou os ataques contra a permanência de José Sarney (PMDB-AP) no comando do Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava na África e fez chegar a Sarney a mensagem de que ele deveria resistir, pois contaria com seu irrestrito apoio. No mesmo dia, Mercadante fez a primeira pirueta. Na condição de líder da bancada, sugeriu a Sarney que se afastasse da presidência. Lula ficou furioso. Desembarcou no Brasil à noite e telefonou imediatamente para o celular do líder do PT. A reprimenda foi dura: “Mercadante, eu não quero saber de recuo do PT. O que está em jogo é a sucessão”, disse Lula, segundo assessores que estavam ao lado do presidente.
A segunda pirueta de Mercadante foi dada na tarde da quinta-feira 2 de julho. O senador praticamente tornou pública a reprimenda privada. Da tribuna, discursou em defesa de Sarney e explicou a mudança de posição com uma frase que despertou o riso naqueles que costumam brincar com o bom-dia, Mercadante: “Minha combatividade está a serviço do presidente Lula.” Na sextafeira 24, amparado por uma pesquisa encomendada pelo Planalto mostrando que o apoio de Lula a Sarney não é bem-visto pelo eleitor, Mercadante resolveu se preocupar com as urnas e fez a terceira pirueta.
Em nome da bancada petista, divulgou uma nota voltando a recomendar a saída de Sarney. A nota caiu como uma bomba na reunião do Conselho Político do governo na manhã da segunda-feira 27. Lula pediu que o ministro José Múcio, das Relações Institucionais, desautorizasse publicamente o senador. Em entrevista, Múcio atribuiu a nota a um “movimento isolado” de Mercadante. “Alguém acha possível não haver sintonia entre Lula e o PT? Quem está em descompasso é o Mercadante”, disse à ISTOÉ um ministro palaciano muito próximo ao presidente. “A bancada está totalmente fechada com Lula.
O Mercadante emitiu uma opinião pessoal. Não é certamente a posição partidária nem mesmo da bancada”, afirmou o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP). Em seu blog, o ex-ministro José Dirceu disse que a eventual saída temporária de Sarney da presidência do Senado não é consenso na bancada do partido na Casa, mas “sentimento pessoal” do líder petista no Senado. “A atitude de Mercadante foi infantil”, disse o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).
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