Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o marqueteiro João Santana disse que negou ter recebido caixa dois da campanha à reeleição de Dilma Rousseff, ao ser preso em março, para não “destruir a presidente” no início do processo de impeachment. A informação é do jornal O Globo. João Santana e Mônica Moura, sua esposa e sócia, alegaram inicialmente que repasses de US$ 4,5 milhões feitos por um lobista em conta do casal na Suíça eram pagamento de dívidas de campanhas eleitorais realizadas por eles no exterior. Desta vez, no entanto, os dois admitiram que o dinheiro era caixa dois da campanha da petista.
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“Eu achava que isso poderia prejudicar profundamente a presidente Dilma”, afirmou o marqueteiro. “Eu que ajudei, de certa maneira, a eleição dela, não seria a pessoa que iria destruir a presidente. Nessa época, já se iniciava um processo de impeachment, mas ainda não havia nada aberto. Sabia que isso poderia gerar um grave problema”, acrescentou, conforme relato do Globo. Os dois assinaram termo de confidencialidade com o Ministério Público Federal, passo inicial para fechar o acordo de delação premiada.
A empresária disse que mentiu inicialmente para “não incriminar” a presidente. “O país estava vivendo uma situação muito grave institucionalmente, todos sabem o que estava acontecendo em torno da presidente Dilma. Para ser sincera, eu não quis incriminá-la, eu achava que ia piorar a situação do país. Queria apenas poupar de piorar a situação”, declarou.
O casal afirmou que cobrou em 2013 do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, o pagamento de uma dívida de R$ 10 milhões referente à campanha de 2010 como condição para realizar o trabalho em 2014. Eles contaram que Vaccari os orientou a procurar o empresário e lobista Zwi Skornicki, que representava o estaleiro Keppel Fels no Brasil.
Os dois disseram não ter conhecimento de que o dinheiro era fruto de desvio de dinheiro público. Segundo Zwi, o pagamento ao publicitário foi feito com recurso desviado de contrato fechado pelo estaleiro com a Petrobras para a construção de uma plataforma. Das dez parcelas de US$ 500 mil, que o empresário combinou de depositar para o casal na Suíça, nove foram pagas, o que totaliza os US$ 4,5 milhões repassados.
Também em depoimento a Moro, segundo O Globo, Zwi confirmou que dinheiro de propina também foi depositado para o PT na forma de doações legais ao partido por meio da empresa Technip.
Fotografia de satélite
João Santana disse que 98% das campanhas políticas no Brasil utilizam caixa dois e que, mesmo assim, ele e Mônica são os únicos marqueteiros presos por esse motivo. “Se tivesse o mesmo rigor que está tendo comigo em relação a essas pessoas, teria uma fila saindo atrás de mim que iria bater em Brasília, chegaria a Manaus. Poderia ser fotografada de satélite”, disse o marqueteiro, de acordo com O Globo.
Questionado por Moro se não achava que receber por fora era um “ato ilegal”, João Santana afirmou que não há outra forma de fazer campanha política. “Acho que precisa rasgar o véu da hipocrisia que cobre as relações políticas eleitorais no Brasil e no mundo”, afirmou. “Ou faz a campanha dessa forma, ou não faz”, acrescentou. Ele disse ter consciência de que cometia uma “prática ilegal”, mas jamais que estava recebendo “dinheiro sujo”.
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