Wellington Fagundes *
Os problemas logísticos de Mato Grosso são velhos conhecidos. Responsáveis diretos pelo crescente custo final, freiam e fazem o nível de competitividade arrastar, tanto na atração de novos investimentos como também para a consolidação de negócios no mercado interno e externo, através de sua produção. No seu principal eixo de transporte, a BR-163, que liga a divisa de Mato Grosso com o Pará até Mato Grosso do Sul, com ramificações para Leste, através das BRs 364 e 070, e a Oeste, pela 070, os problemas são eloquentes, cantados e decantados.
Enquanto trabalhamos insistentemente para remover os gargalos que entravam a duplicação da BR-163 e melhorar o padrão das outras rodovias federais que cortam nosso estado, é importante dizer que Mato Grosso começa a sonhar um novo sonho, que – uma vez realizado – representará um “salto logístico” sem precedentes na sua história. Trata-se da implantação da Ferrovia Bioceânica, ligando o porto do Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro, até o porto de Illo, no Peru.
O maior interessado no negócio é, também, um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, a China, cujo premier esteve no Brasil e cravou o desejo de seu país em ser participante ativo na implantação desse projeto. É notável que se trata de um processo em fase embrionária. Diante da forma como o Brasil ao longo da história trata as suas prioridades – e não é uma crítica e sim uma constatação – há espaços relevantes para a dúvida contagiar a quem se debruça sobre o assunto.
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É fato! O Brasil precisa de mais ferrovias. Temos atualmente algo em torno de 28 mil quilômetros de “estradas de ferro”. Os Estados Unidos, cuja extensão territorial é aproximadamente 700 km² maior que a do Brasil, tem malha ferroviária 10 vezes mais extensa. Com tão poucos trilhos cruzando o território nacional, o transporte de cargas concentra-se praticamente nas rodovias, que detêm 60% de participação. O modal ferroviário representa apenas 25%.
De acordo com o projeto inicial, a ferrovia passará pelas principais regiões produtoras do Estado usando o traçado de parte da Ferrovia Norte/Sul e da Ferrovia Transcontinental, também chamada de Ferrovia da Integração do Centro-Oeste (FICO). Os trilhos seriam implantados a partir de Campinorte, em Goiás, seguindo a Oeste e entrando em Mato Grosso por Água Boa, chegando a Lucas do Rio Verde, e seguindo para Rondônia.
A ferrovia é de interesse do Brasil e do Peru. E, pelo que sentimos, os chineses estão entusiasmados em participar dos estudos e investimentos. Inclusive eles já apresentaram análises preliminares para transpor a Cordilheira dos Andes por túnel, numa região peruana mais estreita.
Há seis anos estive na China, juntamente com o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), formando a comitiva brasileira para inauguração de um trecho de 1.100 quilômetros do trem de alta velocidade. Na ocasião, tratamos das possibilidades de atrair esses investimentos. Avançamos no sonho!
Na assinatura dos termos de cooperação entre Brasil e China ficou caracterizada a importância da cooperação para o desenvolvimento de estudos referentes à construção de uma rede de infraestrutura sustentável e integrada na América do Sul. Isso nos fez mais otimistas.
Na declaração conjunta, os dois governos concordaram em “tomar medidas concretas” para implementar o Memorando de Entendimento assinado entre o Ministério dos Transportes e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, sobre Cooperação Ferroviária, concretizado em julho de 2014. Isso nos faz acreditar que é possível.
Mato Grosso detém um dos maiores índices de produtividade do mundo. Temos potencial para avançar ainda mais. O que nós precisamos é exatamente resolver essa questão da logística. É preciso, porém, mais que fé e crença. Precisamos criar as convergências de esforços entre Governo do Estado, bancada federal, deputados estaduais, prefeitos e vereadores. Afinal, temos uma nova possibilidade – ainda que distante – para avançarmos ainda mais sobre a estruturação de uma logística que permita a integração entre os diversos modais e premiar Mato Grosso e sua gente com o desenvolvimento econômico e social.
* Wellington Fagundes é senador do PR pelo Mato Grosso.
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