Eumano Silva, Lúcio Lambranho e Eduardo Militão
A líder do governo no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), afirma ter financiado do próprio bolso as passagens para quatro amigos viajarem de São Luís para Brasília há pouco mais de 15 dias (leia mais). A declaração faz parte das respostas a uma lista de perguntas feitas por e-mail, na última sexta-feira (20), pelo Congresso em Foco. A parlamentar diz ter pago a conta com um cheque pessoal no valor de R$ 4.332,96.
Ela diz que pagou as passagens dos empresários de São Luís (MA) Eduardo Haickel (dono do posto de combustível Tiger), Henry Duailibe (dono da concessionária Duvel, da Ford) e Adalberto Furtado (conhecido como “Bil”, dono da Construtora Estela), além de Maria dos Remédios Braga.
Roseana mandou ao site cópia de uma fatura datada de 5 de março, três dias antes da viagem dos seus amigos, mas não encaminhou cópia do cheque. A fatura da agência de viagem Sphaera Turismo, apresentada pela líder do governo, venceu ontem, 23 de março.
As perguntas foram feitas pelo Congresso em Foco com o objetivo de tentar esclarecer as sucessivas contradições surgidas nas versões dadas pela senadora para a viagem a Brasília de um grupo de amigos maranhenses. Em entrevista gravada, um representante da agência de viagem informou ao site que as passagens de sete convidados de Roseana foram emitidas na cota do Senado.
MPF investigará
O uso de um cheque como forma de pagamento impede uma checagem mais precisa sobre a transação comercial. Um cartão de crédito ou débito, por exemplo, permitiria uma conferência com a autenticação mecânica. Não está claro se o cheque foi depositado antes do vencimento da fatura, 23 de março, ou se seria um pré-datado.
Nas respostas enviadas na sexta (20), a senadora contesta as declarações de funcionário da Sphaera Turismo. A parlamentar afirma que nenhum bilhete saiu da cota. Essa versão retoma parte das explicações prestadas anteriormente pela assessoria de Roseana, mas destoa das informações dadas pela senadora durante a semana passada. A sequencia de contradições dificultou o esclarecimento completo dos fatos relacionados à viagem do grupo.
O caso das passagens foi revelado com exclusividade pelo Congresso em Foco na última segunda-feira (16), baseado nas declarações de funcionário da Sphaera Turismo, agência responsável pela emissão dos bilhetes aéreos dos senadores. Por causa da denúncia, o Ministério Público Federal abriu investigação sobre o uso das cotas de passagens pelos parlamentares.
A abertura do inquérito civil foi pedida pela procuradora da República Anna Carolina Resende, que investiga desde junho de 2008 o uso indevido das cotas de passagens aéreas da Câmara.
As contradições
Depois de publicada a reportagem do Congresso em Foco, a direção da Sphaera, que recebeu do Senado quase R$ 20 milhões em 2008, teve uma reunião com Roseana e mudou de versão. Em declaração literalmente escrita “a pedido” da senadora (leia aqui), a empresa negou que as passagens tenham sido emitidas pela cota do Senado. Em seguida, o site divulgou o diálogo em que um funcionário da empresa informou que os bilhetes entraram na “cota da senadora Roseana Sarney”.
A senadora e sua assessoria divulgaram várias versões diferentes sobre o assunto. As contradições começaram logo na segunda-feira (16), quando Roseana disse à Folha de S.Paulo que havia trazido “uma ou duas pessoas”. Na terça-feira, o número subiu. Segundo o jornal informa na edição de quarta-feira (18), a senadora admitiu ter pago passagens para três pessoas. “Para mim não tem problema [investigar]. Tanta coisa acontecendo e vocês preocupados com isso”, reclamou Roseana.
Na tarde de quarta-feira, a assessoria afirmou que a senadora usava nas viagens particulares a mesma agência responsável pelas passagens do Senado. Em e-mail enviado a este site, a assessoria afirmou pela primeira vez que Roseana tem em seu poder “comprovantes do pagamento feitos com cheque da sua conta pessoal”.
Apesar das afirmações, o comunicado não esclarecia se esse pagamento com cheque foi usado para custear a viagem dos sete convidados de Roseana. Nem quando o pagamento foi feito.
Na noite da mesma quarta-feira, o Jornal Nacional, da TV Globo, noticiou que os amigos de Roseana viajaram de São Luís a Brasília “a serviço”.
Governo do Maranhão
Roseana negou ter pago as passagens, mas aos poucos liberou informações sobre a viagem dos amigos, sem dar os nomes. Em conversas reservadas, confirmou ter recebido um grupo de convidados de São Luís para tratar da formação de um eventual governo do Maranhão. Segunda colocada na última eleição, a senadora vive a expectativa de assumir o comando do estado, mais uma vez, se a Justiça confirmar a cassação do atual governador, Jackson Lago.
Segundo os jornais Folha de S. Paulo e O Globo, parte dos amigos de Roseana Sarney trazidos de São Luís se hospedou na residência oficial do presidente do Senado.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), inquilino temporário da casa e pai da senadora, mandou dizer por meio de assessores que não confirmaria nem negaria que amigos e familiares da líder do governo se hospedaram na residência oficial da instituição.
A assessoria disse que essa questão faz parte da “privacidade” do senador José Sarney (PMDB-AP). “Tudo foi feito dentro dos preceitos éticos e legais”, disseram os auxiliares do senador pelo Amapá, na tarde desta quarta-feira. “É direito dele [José Sarney]. Ele hospeda quem ele quiser.”
Polícia Federal
Nas últimas semanas, reportagens feitas pelo Congresso em Foco chamaram a atenção dos brasileiros para o sistema de cotas de passagens dos parlamentares.
Primeiro, o site revelou que um colaborador do empresário Fernando Sarney, Marco Antônio Bogéa, viajou de Brasília para São Paulo com uma passagem emitida na cota do deputado Carlos Abicalil (PT-T) – leia mais.
Irmão de Roseana, Fernando Sarney é investigado pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica. Segundo relatório feito pela PF, Bogéa viajou a São Paulo com o objetivo de levar uma mala para o empresário maranhense.
As reportagens forçaram os senadores a revelar um pouco mais sobre como funcionam as cotas. Cada senador tem direito a cinco passagens de ida e volta, mais duas no caso dos líderes. Por isso, Roseana tem direito a exatos sete bilhetes por mês.
Em entrevista concedida sábado (21) ao blog do jornalista Josias de Souza, da Folha de S. Paulo, o primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI) afirmou que, segundo resolução da Mesa Diretora, os senadores podem repassar as passagens para terceiros. “Muitas vezes você quer trazer um técnico, um economista, um jornalista de um estado pequeno, para conhecer os mecanismos de Brasília”, disse o senador do Piauí.
Tião Viana
A divulgação da viagem dos amigos de Roseana provocou tensão em um Senado que nas últimas semanas foi abalado por diversas denúncias. Uma delas gerou a demissão do diretor-geral, Agaciel Maia, próximo a Sarney. Agaciel perdeu o cargo após ser acusado de omitir da Receita Federal uma casa no Lago Sul avaliada em R$ 5 milhões.
Políticos ligados a Sarney atribuem a maré desfavorável ao senador Tião Viana (PT-AC), derrotado pelo ex-pres
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