O uso desenfreado dos cartões de crédito corporativos deve atingir o Palácio do Planalto. Duas revistas semanais, Veja e Istoé, apontam que o escândalo responsável pela saída da ministra Matilde Ribeiro (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência) não se restringe a ministros do segundo escalão do governo. Matilde gastou, apenas em 2007, mais de R$ 171 mil com o cartão corporativo.
A Istoé teve acesso a uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) nos 42 cartões de crédito corporativo do governo. De acordo com a publicação, foram comprovadas fraudes na utilização dos cartões, como em uma viagem do presidente Lula, em 2 de maio de 2003, às cidades paulistas de Ribeirão Preto e Sertãozinho.
“Nessa viagem, foram pagas 22 diárias para pessoas que não constavam na lista de membros da comitiva fornecida pela Secretaria de Administração da Presidência, a um custo total de R$ 3 mil. Também foi pago um número de diárias superior ao período da estadia de seis servidores do Palácio do Planalto. Um desses funcionários, que o TCU identifica apenas como ‘AT’, passou apenas dois dias hospedado em hotel em Ribeirão Preto. Mas o cartão de crédito corporativo pagou o dobro: quatro diárias. O servidor da Presidência identificado como ‘SJ’ também hospedou-se por dois dias, mas passou no cartão cinco”, diz a revista.
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“Na ida a Ribeirão dos servidores do Palácio do Planalto, também ficou caracterizado o superfaturamento, segundo os auditores do TCU. O total da despesa da comitiva presidencial com hospedagem no hotel foi orçado em R$ 23,8 mil. O problema, frisaram os auditores, é que o ‘valor pago pela Secretaria de Administração da Presidência em maio de 2003 superou em R$ 13,6 mil o valor de mercado de hospedagem no mesmo hotel em setembro de 2006’”, complementa.
Por sua vez, a Veja afirma que José Henrique de Souza, assessor especial de atendimento ao gabinete pessoal do presidente da República, gastou 115 000 reais no ano passado “em supermercados, açougues e lojas de bebida, entre outros”.
“Apesar do título pomposo, não dá expediente no Planalto. Seria mais próprio dizer que ele é o despenseiro oficial da República. Sua tarefa é abastecer as cozinhas e as adegas do Alvorada e da Granja do Torto, as residências oficiais de Lula. No ano passado, ele gastou 55.400 reais nos supermercados Pão de Açúcar. Pagou outros 23.800 reais à casa de carnes Reisman, um açougue brasiliense conhecido por vender os melhores cortes de carne para churrasco da capital federal”, afirma a publicação.
A oposição no Congresso promete colher assinaturas na Câmara e no Senado para instalar uma CPI que investigará o uso dos cartões corporativos. Já o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, acusa a oposição de fazer “teatro” com a CPI dos Cartões. (leia mais)
Em agosto do ano passado, o Congresso em Foco publicou reportagem mostrando que o Executivo usava mais os cartões corporativos na modalidade de saque, o que impede o controle e a transparência das despesas, além de ferir um decreto do presidente Lula. À época, o site já dizia que Matilde Ribeiro gastou R$ 112 mil no ano de 2007, principalmente com aluguel de carros e hospedagem, na modalidade de faturas. (leia a reportagem) (Rodolfo Torres)
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