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A construção de um mito
Luiz Inácio Lula da Silva, o mais improvável dos presidentes brasileiros, já entrou na história antes de sair da vida. Lula, o filho do sertão pernambucano que comia feijão com farinha sob o árido sol de Garanhuns antes de se tornar engraxate nas ruas do Sul Maravilha, venceu. Dos sapatos chegou à fábrica de parafusos; do torno saltou para a avenida larga, longa e generosa da vida sindical, que o conduziu ao Partido dos Trabalhadores e à Presidência da República. Instalado no poder, Lula amargou escândalos, viu a dissolução ética de seu partido, observou de mãos atadas uma recessão econômica de quase dois anos que por pouco não paralisou seu governo.
Mas, como não há males que durem, os escândalos foram varridos para debaixo do tapete e a recessão inicial cedeu, abrindo caminho para o crescimento econômico e a consequente onda de boa vontade com os governantes que ele traz. Com sua genuína devoção aos mais pobres e um carisma fenomenal, Lula chega às portas do seu último ano de governo com 80% de aprovação. A vida de Lula, como se vê, parece coisa de filme.
Lula, o Filho do Brasil, a cinebiografia que estreará nos cinemas no começo do próximo ano, é o primeiro filme de ficção sobre a vida do presidente. A LC Barreto, responsável pelo projeto, enviará 500 cópias ao circuito comercial – o maior lançamento da história do cinema brasileiro.
As centrais sindicais, como a CUT e a Força Sindical, planejam projetar a fita para espectadores das áreas mais pobres do país. Os trabalhadores sindicalizados poderão comprar ingressos subsidiados a 5 reais. As estimativas mais conservadoras indicam que, somente nas salas comerciais, 5 milhões de pessoas assistirão ao longa. É pouco diante do que se seguirá. O DVD do filme será lançado no dia 1º de maio, feriado do trabalhador.
Em seguida, a Rede Globo levará a fita ao ar, editada como uma minissérie. Ao final, se essa ambiciosa estratégia de distribuição funcionar, Luiz Inácio, o homem que fez história, dará um salto rumo a Luiz Inácio, o mito. Esse mito paira acima do bem e do mal, mas estará dizendo o que é certo e o que é errado na campanha eleitoral de 2010. Por fazer parte de um projeto de beatificação do personagem com vista a servir de propaganda eleitoral disfarçada de entretenimento na próxima campanha, Lula, o Filho do Brasil parece coisa de marqueteiro.
Antes mesmo de ser lançado em rede comercial, o filme está agitando os bastidores da política. Assessores envolvidos na campanha presidencial de Dilma Rousseff, a candidata escolhida pelo governo para suceder Lula, veem na película um poderoso instrumento eleitoral, capaz de fazer diferença na luta petista para se manter no poder. O otimismo não é gratuito.
Os estrategistas do Planalto receberam pesquisas que demonstram a capacidade de transferência de votos do presidente Lula. Ou seja, se Lula mantiver a popularidade em alta, Dilma será largamente beneficiada. A população faz uma ótima avaliação de Lula e se dispõe a votar em um candidato que mantenha os principais programas do petista. Lula é o maior cabo eleitoral do país. Quase 20% dos eleitores votam em seu candidato, independentemente de quem seja.
A grande dificuldade de Lula é que boa parte do eleitorado não conhece Dilma nem a associa ao presidente. Por isso ela segue a léguas de distância de José Serra, do PSDB, o líder das pesquisas. Para reverter esse quadro, Lula conta com o crescimento da economia, que pode atingir até 5% do PIB em 2010, e a consequente perspectiva de que os eleitores sigam sua orientação e votem em quem ele indicar. O filme é visto como um fator estimulante nesse processo de transferência.
Na terça-feira da semana passada, VEJA esteve na primeira exibição pública do filme, que abriu o tradicional Festival de Cinema de Brasília. Numa demonstração da comoção que o longa deve causar, teve gente, de político a porteiro, que implorava por convite na frente do Teatro Nacional, onde aconteceu a projeção. Havia cerca de 1 400 pessoas no teatro, entre ministros, deputados, senadores, sindicalistas, burocratas do governo e jornalistas.
Marisa Letícia, a primeira-dama, compareceu ao evento e foi assediada como celebridade. Havia gente em cadeiras improvisadas, gente nas escadas, gente no chão. Lula, o Filho do Brasil é uma novela com duas horas de duração. Em matéria de lágrimas, funciona. Em matéria de apuro estético, constrange. Como obra de arte, portanto, é uma irretocável peça de propaganda. Não poderia ser diferente: é um projeto concebido exatamente com esse propósito. Dirigido por Fábio Barreto, o filme inspira-se na biografia homônima – e oficial – do presidente, escrita pela jornalista Denise Paraná e editada pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.
Se como cinema o filme é fraco, como propaganda e negócio tem tudo para dar certo. O apelo emocional da obra pode agradar ao público que chorou com 2 Filhos de Francisco, a história de superação dos irmãos Zezé di Camargo e Luciano. Há elementos em abundância para provocar chororô – nisso se percebe a maestria de Fábio Barreto, que apresenta ao espectador um Lula plano, sem meios-tons, cujas carnes se tornam reais apenas no sofrimento da perda da mulher grávida, ou no êxtase ao comandar as massas nos comícios sindicais.
Qualquer sentimento que pudesse torná-lo mais humano, como a raiva pelo abandono do pai ou a inveja de quem tinha o que ele desejava, perde-se na produção artificial do mito, do messias que sofre, persevera e está destinado a conduzir o povo até a terra prometida (veja o quadro). O Lula de Fábio Barreto não é somente um herói sem defeitos; é um herói iluminado. Barreto faz de tudo para mostrá-lo assim, inclusive omitindo ou atenuando a verdadeira história do presidente (veja o quadro). O Lula de Barreto usa inverossímeis frases de efeito (“Homem não bate em mulher!”) para impedir que o pai bata na mãe ou para desafiar a polícia autoritária do regime militar (“Cadeia foi feita para homem”) – embora na vida real algumas dessas passagens jamais tenham ocorrido.
“Queria fazer um melodrama”, admite o diretor. O recorte temporal do filme é a primeira prova disso. O roteiro percorre a infância miserável de Lula em Garanhuns, acompanha a trajetória dolorosa do menino que é obrigado a trabalhar para comer e avança até o mergulho dele no mundo sindical. Mas para por aí. Tudo o que aconteceu na vida do presidente entre o começo dos anos 80 e a vitória em 2002 ficou de fora: a criação do PT, a atuação como deputado na Constituinte de 1988, as cinco campanhas presidenciais.
Qualquer episódio que pudesse causar constrangimento ou contrariar a narrativa hagiográfica da vida de Lula sumiu da história. Barreto suaviza algumas características notórias do presidente e omite algumas passagens pouco edificadoras. Essas opções dramáticas servem para construir o mito, que sempre precisa de um passado idealizado, idílico, no qual o futuro se desenhe glorioso, rumo ao paraíso terreno – uma mentalidade que prosperou com força na ideia do “país do futuro”, no decorrer do regime militar. O clímax triunfalista do filme, quando Lula se ergue sobre as massas, reforça precisamente esse projeto autoritário.
Não deu para apagar o apagão
Desorientado pelo apagão que atingiu dezoito estados do país no último dia 10, o governo federal foi rápido como um raio na hora de tentar tirar o problema de seu colo. Poucas horas depois do término do blecaute, o ministro Edison Lobão – que ocupa a pasta de Minas e Energia, mas não tem a menor intimidade com volts, watts e ampères – veio a público.
Ansioso para encerrar o assunto, Lobão se apressou em garantir que o apagão havia sido causado pela queda de três raios, praticamente simultâneos, nas três linhas que compõem o maior ramal de transmissão elétrica do país, entre a usina de Itaipu e a cidade de São Paulo. Os três raios teriam causado três curto-circuitos, que deram início à reação em cadeia que deixou boa parte do país no escuro. A explicação não é crível por três razões: o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que monitora raios em todo o país, diz que nenhum deles atingiu o ramal de Itaipu na hora do apagão; mesmo que isso tivesse ocorrido, as linhas de transmissão são projetadas para suportar raios sem entrar em colapso; por fim, a probabilidade de três raios extremamente poderosos caírem em três linhas do mesmo ramal com diferença de milésimos de segundo é praticamente nula.
Na semana passada, especialistas começaram a trabalhar para tentar encontrar uma explicação lógica para a gênese do apagão. Foram convocados mais de setenta profissionais que atuam no setor elétrico brasileiro. Os mais decisivos para esclarecer o caso são os da usina de Itaipu, de Furnas (a empresa que administra as linhas que entraram em pane) e do Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão que controla, segundo a segundo, toda a eletricidade produzida, transportada e distribuída no país. Após compararem os dados gravados com o comportamento do sistema elétrico na noite do apagão, eles passaram a formular uma nova hipótese, bem mais plausível que a dos raios triplos do ministro Lobão.
A primeira contribuição desse grupo de técnicos é a seguinte: os três curto-circuitos podem ter tido sua origem em uma falha do sistema de isolamento das linhas de transmissão. Esse isolamento é fundamental porque os cabos que conduzem a eletricidade são de metal e as torres que os sustentam também. Se os cabos tocassem as torres, o sistema viveria em curto.
Para que isso não ocorra, os cabos são protegidos por peças de cerâmica chamadas de isoladores. Assim não há contato direto com as torres – e a eletricidade pode fluir ao longo da linha. O sistema de isolamento pode ter sido rompido pela água. Na hora do apagão, chovia forte na cidade paulista de Itaberá, onde as três linhas de transmissão vindas de Itaipu se encontram em uma subestação transformadora. A água da chuva pode ter formado uma película em volta dos isoladores, reduzindo a sua eficiência.
“A chuva e os ventos que balançavam os cabos durante a tempestade podem ter reduzido a capacidade de alguns isoladores. A água é um condutor elétrico. Se um isolador acumula água da chuva, pode deixar de funcionar. A energia ‘escapa’ e tem-se um curto-circuito”, disse a VEJA Hermes Chipp, diretor-geral do ONS. Essa hipótese se fortaleceu porque se descobriu que três isoladores do sistema ficaram chamuscados depois do apagão: dois localizados nas linhas de transmissão e um dentro da subestação de Itaberá.
Uma enorme asneira jurídica
Há ocasiões em que os ministros do Supremo Tribunal Federal poderiam lembrar algo mais que o latinório das antigas tradições jurídicas. Por exemplo, a lição dos romanos sobre a prudência – a qualidade essencial dos julgadores. Na origem, a palavra não se confundia com a simples cautela. Era uma virtude intelectual: a capacidade de enxergar com clareza uma situação e decidir o que era não apenas justo, mas também oportuno para o momento e o lugar. Na quarta-feira passada, na conclusão do julgamento sobre a extradição do assassino e terrorista italiano Cesare Battisti, tudo o que faltou aos magistrados do Supremo foi esse tipo de prudência.
O desastre aconteceu no finalzinho da sessão. Até ali, o tribunal dava a impressão de que ia passar ileso pela lastimável comédia de erros que o ministro da Justiça, Tarso Genro, pôs em movimento, no início do ano, ao conceder refúgio político a Battisti (contrariando parecer do Conare, o órgão técnico encarregado de analisar pedidos desse tipo). Primeiro, o Supremo decidiu que o refúgio é ilegal, ao entender que Battisti é culpado de crimes comuns, e não crimes políticos. Todas as razões apontadas pelo Ministério da Justiça para dar o benefício ao italiano foram demolidas. Num segundo passo, o plenário determinou que estavam cumpridas todas as condições para que o criminoso fosse extraditado. E então veio a inovação jurídica do dia – uma asneira portentosa. Foi a debate a seguinte questão: cabe ao Supremo a palavra final sobre extradições? Pelo placar de 5 a 4, venceu a tese de que não, a palavra final cabe ao presidente da República: se quiser, ele pode ignorar as sentenças do STF.
Com isso, não apenas se pôs de pernas para o ar a maneira como os processos de extradição são conduzidos há 200 anos no Brasil – o que projeta uma dose brutal de insegurança jurídica para o futuro. Abriu-se também uma brecha para que o próprio caso Battisti volte a trazer confusão e ventania. Se Lula, que ficou com o abacaxi no colo, decidir manter o criminoso por aqui, surgem duas possibilidades desagradáveis. “Depois de quarta-feira, lançar mão do refúgio político tornou-se impossível.
A assessoria jurídica do presidente terá trabalho para encontrar um caminho plausível e manter Battisti aqui”, diz o jurista Oscar Vilhena Vieira, da Fundação Getulio Vargas. Ainda que se encontre esse caminho, o tema poderia voltar ao STF, que averiguaria se as justificativas da Presidência se mantêm de pé. A segunda consequência possível seria um processo da Itália contra o Brasil numa corte internacional por eventual quebra do tratado de extradição vigente entre os países. É difícil imaginar um desfecho mais desastrado para um julgamento. Só podem gostar dele setores da esquerda obcecados com o propósito de conceder abrigo a um radical – mesmo que isso esfrangalhe as instituições.
Carta capital
Para que Lula o salve
A orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro saberia que os acordes iniciais do baião de Luiz Gonzaga e seu parceiro Humberto Teixeira diriam mais daquela noite do que a trilha sonora melódica e excessiva de Antônio Pinto e Jaques Morelenbaum? Talvez. A recorrência do Sertão cantada em verso e prosa em Asa Brasa envolve a origem e o universo do grande biografado do filme que se seguiria à apresentação dos músicos.
A solenidade de estreia em Brasília, na terça-feira 17, de Lula – O Filho do Brasil, disse, aliás, ainda mais do País que o homem e agora personagem Luiz Inácio Lula da Silva preside, e da qual se absteve em comparecer. Numa confusão instituída, o empurra-empurra, a Sala Villa-Lobos de 1.307 lugares em superlotação sem precedentes numa abertura do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, as autoridades em fila interminável para o beija-mão da primeira-dama e um trio da cinematográfica família Barreto, responsável pelo projeto, numa sequência de gafes quando apela para que parte do público saia – tudo era o retrato acabado do jeito improvisado de como as coisas correm nessas terras.
O improviso não se estendeu à tela. Projetor rodando, o que se viu do diretor Fábio Barreto foi um trabalho pensado para corresponder em cada detalhe à dignificação do protagonista, garoto nascido numa Caetés miserável do Agreste pernambucano dos anos 1940 e tornado combatente sindicalista no ABC paulista, momento em que a cinebiografia se encerra. Mas também um filme preocupado em restabelecer, ou para muitos estabelecer, a dignidade de um cineasta malsucedido em suas mais recentes incursões.
Empenhado nessas circunstâncias, o filho Barreto menos pródigo (Bruno tem a seu favor sucessos de público como Dona Flor e Seus Dois Maridos e pessoais como Última Parada 174) optou por um caminho seguro ao assumir o contexto melodramático da vida de seu personagem e não se cansa de confirmá-lo em entrevistas. Se por um lado escapa assim a uma cobrança de iniciativa oportunista, por talvez eleitoreira, por outro o realizador de O Quatrilho protege-se de uma crítica ao modelo irritantemente convencional e o tom monocórdio que uma trajetória de obstinação excepcional deveria a todo custo evitar na tela grande, pois ali se exacerba.
Mas a vida de Lula foi assim, repete ele. Começou na viagem em pau de arara rumo a Santos, liderada pela mãe iludida por um bilhete enganoso, prosseguiu no duro cotidiano de torneiro mecânico e na casual- entrada na liderança sindicalista. Lula sempre foi um pacificador, justifica o diretor quando seu personagem foge ante a visão da morte brutal de um burocrata de fábrica. E por causa desse ponto de vista que se aceite de uma maçada só a sucessão de desgraças, do pai alcoólatra (Milhem Cortaz), determinado pela força a fazer o filho trabalhar e se afastar da escola, à morte da primeira mulher (Cleo Pires) e do filho recém-nascido no parto.
Mais uma vez, esses e outros acontecimentos de cunho trágico, antes de surgirem contidos, são amplificados e nivelados aos momentos de conquista e felicidade genuínos, a exemplo do encontro com a nova parceira Marisa (Juliana Baroni).
Na maioria das vezes, no entanto, são impulsionados pelos ensinamentos de dona Lindu, essa mãe-coragem nordestina e verdadeira dona dessa história. Aquele acompanhamento musical já citado seria um sintoma exemplar desse tratamento. Confirma um filme por demais equilibrado, que se não descamba, também não ascende plenamente. Isso porque puxado sempre pelas rédeas da confiança excessiva na empatia do protagonista e sua luta pessoal, admirável a ponto de não merecer o beneplácito da dúvida, da discordância, da contradição.
Enfim, um homem sem matiz, sem indefinições aparentes, que a história fora da tela desmente. Há, por exemplo, a filha fora do casamento que fez o militante sindical perder uma de suas corridas presidenciais. Abordado no livro de Denise Paraná, no qual o filme se baseia, o fato não pôde ganhar o filme por decisão explícita da ex-amante, que negou autorização. Se questões jurídicas justificam o impasse, nem sempre é possível convencer quando se trata de atitudes polêmicas, como na atuação à frente do Sindicato dos Trabalhadores, aceitas com a mesma passividade e tranquilidade com que o marido e pai Lula recebe a dolorosa notícia das mortes.
Caiu no colo de Lula
Ao contrário do que pensam muitos defensores de Cesare Battisti, é bem provável que Lula tenha lamentado o desfecho do julgamento no Supremo Tribunal Federal. Na noite da quarta-feira 18, após longo debate, os ministros decidiram que cabe ao presidente da República a decisão final a respeito da extradição solicitada pela Itália. É uma saia-justa e um quebra-cabeça jurídico. Se atender aos apelos da esquerda festiva, que insiste em enxergar Battisti como militante político perseguido pelo Estado italiano, Lula enfrentará um desgaste internacional desnecessário e estimulará o recrudescimento de conflitos com parte do STF.
Antes, porém, o Planalto terá de descobrir como manter Battisti no País sem descumprir arbitrariamente a decisão do tribunal. O Supremo, é verdade, deu autonomia decisória ao presidente da República, mas ela não pode ser desconexa e deve se basear nos termos do tratado de cooperação entre o Brasil e a Itália. Além do mais, lembraram vários dos ministros, nunca antes o Executivo deixou de cumprir uma extradição decidida pela Corte.
O grande derrotado do episódio foi o ministro da Justiça, Tarso Genro. Ao longo do julgamento, cada um dos argumentos brandidos para justificar a concessão de refúgio a Battisti foi sumariamente desmoralizado pelos ministros. O Supremo não considerou políticos os assassinatos cometidos pelo italiano nem enxergou riscos à vida do criminoso, caso ele venha a cumprir pena na Itália natal. Por 5 votos a 4, venceu a posição do relator Cezar Peluso, segundo a qual a concessão de refúgio pelo titular da Justiça foi ilegal.
A rigor, a decisão do STF foi pela extraditabilidade de Battisti, ou seja, confirmaram-se todos os pressupostos para cumprir o tratado de extradição. Ao contrário do que disse Genro, os ministros julgaram não ter havido cerceamento de defesa por parte da Justiça italiana. O crime também não foi considerado prescrito, há dupla tipicidade penal (o crime de que foi acusado lá também existe no Brasil) e se trata de um estrangeiro.
Especialistas ouvidos por CartaCapital disseram que uma das poucas saídas jurídicas para Lula não ratificar a decisão do Supremo é conceder asilo a Battisti, figura jurídica diferente da de refúgio. O asilo está previsto na Constituição. O refúgio, na lei. O primeiro tem conotações políticas. O segundo, principalmente humanitárias, conforme frisou Genro ao concedê-lo, argumentando que havia “fundados temores de perseguição” se Battisti retornasse à Itália para cumprir a pena de prisão perpétua, à qual foi condenado em 1993 por quatro assassinatos.
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